27 de agosto de 2021

NÃO. NÃO É INSÓNIA.

 

Não. Não é insónia.
Insónia é quando queremos dormir e não conseguimos.
Aqui, deitado de barriga para o ar, nesta cama estreita
sou eu mesmo que não adormeço porque não quero.
Não antes de preparar o terreno dos sonhos.
para já finjo que durmo mas não durmo.
Deito-me, simplesmente.
Fecho os olhos. Deixo o silêncio invadir o escuro à minha volta.
Anos atrás punha-me a ler um livro qualquer e adormecia.
Agora que ando a comprar menos livros,
e a escrever mais nos meus, em vez de ler,
ponho-me a segredar uma história a mim mesmo.
Assim algo que gostasse que acontecesse, coisa boa, já agora,
pode ser a mim, pode ser a alguém que conheça,
pode ser até a um outro qualquer que invento logo ali
no interior da minha cabeça,
no escuro da minha imaginação
uma história que começo a contar a mim mesmo.
uma história que sou eu que faço e me agrada
apesar de ter de fingir que não sei o fim
para não tirar o interesse que as histórias de vida têm.
porque é uma história de vida e nas histórias de vida,
raramente se sabe o fim!
Projectos, planos, momentos colados uns aos outros
É uma boa altura. Está tudo tão sossegado, tão quieto.
que até sou capaz de ouvir a minha imaginação a trabalhar.
Já alguma vez ouviram a vossa imaginação?
Às vezes até nos dói. Como somos capazes de imaginar tanta coisa?
- e então adormeço -
sem imaginação para mais? Também cansa.
Mais tarde tenciono acordar
-ainda bem que tenciono acordar-
e, embora nem pense mais no que pensei antes de adormecer
sinto-me feliz, sobretudo, por acordar para a vida real,
para a vida acordada que, no entanto, tem tantas vidas inventadas.