25 de setembro de 2019

COMUNICAR


Na idade da pedra, da lascada, comunicar seria talvez à pedrada!
Porque não? Se pedra era o que havia à mão, ou talvez à cacetada.
Num frente a frente, trocavam-se até uns murros…
De forma diferente, comunicava o homem de então.
Enquanto não aprendeu a falar, eram berros, gritos e urros,
para abreviar a questão! Tudo era comunicação!

Mas, numa tarde de trovoada, andava tudo à pedrada,
saltou faísca numa pedra, ou terá sido antes um raio(?)
Uma pequena chama se fez grande, enorme, de meter medo,
e não mais se apagou, castigo dos deuses (está visto!)
Nunca vista por ali tal coisa.
Abrigaram-se nas grutas do medo, bem como todos os outros animais
A fogueira poderosa não acabava, chamas, labaredas, calor
Aquilo estava tudo a arder que era um pavor,
Era preciso fugir, quem não quisesse morrer.
Mas, passado tempo, houve quem descobrisse a solução.
Um pequeno tronco, um ramo a arder, bem seguro na mão
Dominar o fogo, descobrir-lhe a utilidade, o archote,
E o homem já doutra idade, acabou com a agitação!
Subiu aos altos dos montes, nasceram mais fogueiras,
Iluminou-se a noite de outras maneiras,
Até uma espécie de “morse” ainda por inventar,
Sinais de fogo, sinais de fumo…sinais e mais sinais…
e das paredes das grutas saíram linhas simples, desenhadas
Arcos, flechas, lanças, humanos e animais, riscos, traços,
Desejo de comunicar a vida em toda e qualquer parte
a comunicação a que hoje chamamos arte.
Pedras para riscos, pedras para escrever,                                                                 
pedra rosetaTábuas de madeira, papiros, pergaminhos                                   
Sumérios, egípcios, fenícios, gregos e romanos,                                               
Símbolos simbolizados por letras, códigos, alfabetos,                                       
Palavras, frases, ideias, como se fosse alguém a dizer
Para toda a eternidade! Para sempre, sem nunca morrer!

Oh! Cheira aqui a queimado. Há um fogo por dominar!
Tocam os sinos a rebate. É preciso comunicar!
Vai gente a correr pró combate. É preciso apagar…
E , eis que chegou o papel!
Bibliotecas do saber, a informação, folhas e mais folhas,
Textos e mais textos, livros e mais livros, cadernos, revistas, jornais,
Árvores que ardem, árvores que se abatem, árvores que morrem.
Árvores que se transformam em livros, cadernos revistas, jornais,
Saber ler. Saber ouvir. Saber escutar. Comunicar.
Sempre a comunicar. Telefone, telégrafo, o cinema aprende a falar.
A voz. O som. A Imagem. A rádio. A televisão.
O satélite no espaço a girar, dispara-se um foguetão.
Dabliu, Dabliu, Dabliu. A tontura do progresso para além da imaginação
A vertigem da velocidade, chegou a globalização!
Esta coisa de ser chique. Tudo à distância de um clique!
A notícia em directo, o acontecimento antes de acontecer
Pode ser um grande sucesso ou uma enorme catástrofe
Smartphone, iphone, tablete, comunicação até mesmo na retrete
Conversa, email, livro, jornal, realidade ou fantasia,
Cada vez mais virtual, no nonasegundo, pelo éter
Amor, paixão, amizade, crise do coração,
Ler, escrever, conversar, apostar, dizer bem e dizer mal
Nem bem, nem mal, nem coisa e tal, antes assim.
E a estranha sensação de que quanto mais informados estamos,
Mais sós nos sentimos, mais virtuais nos transformados
E menos comunicamos."

TUDO ISTO É MUITO SIMPLES

Quando alguma coisa nos sai mal,
caímos quase sempre na tentação
de inventarmos uma montanha de desculpas
para justificar o que, normalmelnte, tem um responsável.
Nós!
Por vezes para enganar os outros;
outras vezes para nos enganarmos a nós mesmos,
sendo que de uma maneira ou de outra,
estamos a enganar-nos a nós mesmos.
Sempre!
E, é assim que as coisas ficam complicadas.

15 de setembro de 2019

MOMENTOS

A sua vida tinha sido uma história de procura.

Viveu, durante muito tempo, a vida do mundo e dos prazeres mas sem lhes pertencer. Os anos de juventude tinham-se ido demasiado depressa, imersos numa prosperidade que só aos sentidos satisfazia mas não ao coração.

E, quando se deitava pensava no amanhecer.

Acordar na manhã seguinte, já a manhã se esvaía no andar do relógio. Ver-se ao espelho, sem maquilhagem, lábios sem cor, olhos inchados por mais uma noite desassossegada, pele numa palidez translúcida de cadáver.

E a lágrima que escorregava pela face sem puder defini-la:

se pela saudade do tempo que tinha sido, se pelo desgosto do tempo sem tempo de ser.