15 de dezembro de 2020

INSÓNIA II

 

Andava às voltas na semiobscuridade do quarto e quando se reflectia no espelho da porta do roupeiro parava a olhar o vulto dum fantasma sem sono. Os fantasmas não têm sono! Tanto que só andam de noite e no escuro.. Por isso, ou dormem durante o dia ou não dormem de todo.
E, se não dormem é porque não têm sono!
Acabava por se deixar cair, pesadamente de costas no colchão que lhe servia de cama. Era uma daquelas quedas que se vê nos filmes só que nesses não se vê o colchão para dar a sensação de queda fatal.
Já tentara alguns truques para adormecer mas não conseguia, tinha de lhe telefonar ainda. Sabia que era tarde... o relógio digital em cima da mesa baixa ao lado do candeeiro com a lâmpada à vista e o quebra-luz meio amolgado, no chão. Para quê saber as horas? Era tarde!
Ela atendia sempre ao terceiro ou quarto toques. Voz quente, quase um murmúrio, meio ensonada. "És tu.....?"
Ele respondia numa breve hesitação: "Sim....desculpa!
E ela: "Não tem importância......diz....."
E ele dizia uma série de coisas enquanto lhe adivinhava um sorriso ou, por vezes, um bocejo de espanto. Falava. Apenas, falava...depois, com receio de que, entretanto, ela tivesse adormecido, despedia-se: "Até amanhã; desculpa. Precisava mesmo de falar contigo".
Umas vezes terminava com um beijo, outras desligava, sem esperar por resposta. Era assim. E, no entanto, nunca estivera com ela!
Trocaram amizade na rede social e mensagens no chat e trocaram os números de telemóvel....só que nunca se iriam encontrar.
Ele apaixonara-se por aquela voz calma, suave, linda assim ensonada. Era tudo! Preferia continuar fantasma sem sono.

6 de dezembro de 2020

sobre rotinas e outras monotonias

 

Ah! A rotina maravilhosa da sucessão dos dias!
Ah! O imenso prazer de acordar todas as manhãs
Ah! O corajoso desafio de ir ao apelo de tudo o que nos rodeia
E, no entanto, um dia chega um cansaço
de ver sempre as mesmas coisas da mesma maneira,
de percorrer os mesmos caminhos sempre com os mesmos passos,
de olhar para as mesmas pessoas gastas de tão conhecidas,
de enfrentar os mesmos medos, ensaiando sempre as mesmas fugas,
de não querer mais o que sempre se quis sem querer.
Quando já não souber mais o que fazer, faça uma pausa,
feche os olhos e respire fundo, várias vezes
Pode ser que a resposta esteja no seu coração.
Ouça-o.

4 de dezembro de 2020

sobre coisas que só percebemos depois

 

Os dois dias mais importantes das nossas vidas são: o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos quem somos
Haverá quem discorde disto.
Corre-se sempre o risco do contraditório quando emitimos uma opinião e "universalizamos" esse pensamento. Vou, então, "singularizar" dizendo que os dois dias mais importantes da minha vida foi o dia em que nasci e será o dia em que descobrir quem sou.
O primeiro é muito fácil de definir pois comemoro-o, anualmente, tem data fixa e existe enquanto eu existir - já fiz 72 ciclos de calendário - no dia em que voltar a ser pó, ficarei sempre com a mesma idade para os outros que por cá continuarem.
Todos os dias quando acordo e me olho no espelho não sei se me vejo se estou a ser observado. A minha "religião" é tão simples que não tem deuses a quem tenha de estar, diariamente, grato pelo milagre de me encontrar vivo e existir;
Talvez me interrogue mais e tenha de me esforçar mais ainda para que possa encontrar as respostas ás perguntas que faço a mim mesmo sobre mim.
De qualquer forma, sinto que esse dia ainda não chegou pois se somos seres em permanente construção, atrevo-me a pensar que quando for dado como morto ainda uma parte de mim, me está desconhecida.
Deduzo, então, que os dois dias mais importantes das nossas vidas são o dia em que nascemos e o dia em que deixamos de existir, ou seja, os extremos equidistantes de um ponto algures no meio das nossas vidas.
Na verdade, nunca nos chegamos a conhecer.

3 de dezembro de 2020

SOBRE TI, SOBRE MIM, SOBRE NÓS

 

Quando te vi, pensei.
Vais ser o meu caos mais bonito,
o meu inesperado mais esperado
o meu equilíbrio mais desejado.
E és! O meu amar favorito.
Não tinha muita coisa para te dar.
Tinha um sorriso sério
um abraço apertado
um olhar apaixonado
um beijo mistério
e muita vontade de ti.
As mais belas histórias são (como a nossa) assim
têm um começo,
medo e coragem,
quietude e arremesso,
e têm um SIM!
Bem vinda ao meu delírio.
De entrelaçar dedos, braços, pernas, lábios, línguas, corpos,
almas, sonhos, dias, meses, anos, décadas.
VIDA!

28 de novembro de 2020

SOBRE A VIDA E OUTRAS COISAS QUE NOS ACONTECEM

 

Óscar Wilde desabafou (não sei se ele próprio se incluía no lote) que viver era a coisa mais rara do mundo porque a maioria das pessoas apenas existia.
Um dia (eu acho até mais de uma vez) este pensamento surge-nos sem aviso prévio, apenas por estarmos quietos, naquela impossibilidade de pensarmos em nada.
E, aí está a pergunta demolidora: Afinal, que tenho eu feito da vida? Normalmente já gastámos imensa vida quando isto acontece mas é a partir daí que começamos a visitar o nosso extenso passado com um persistente propósito de análise censória e perdão redentor.
Mas é uma desonestidade.
Reescrever a nossa história, com cara lavada e currículo irrepreensível, é enganar-nos a nós mesmos.
Não vale!
Já sabemos tudo sobre quase tudo.
Uma indelicadeza que cometemos com o nosso ego.
Mortifica-nos. Amarga-nos. Arrasa-nos.
Afinal, lá atrás ficaram tempos bons, maus e assim assim.
Tal como será o tempo que nos falta que estando no futuro logo será um novo passado com tempos bons, maus e assim assim.
Apenas com uma fugaz passagem por um presente que não dá tempo para pensarmos sequer no que estamos a viver.
Porque é disto que se trata.
Da existência que andamos sempre a tentar transformar em vida!
Por que prender a vida em conceitos e normas?
Belo e Feio... Bom e Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
(Mário Quintana, "Da Perfeição da Vida")

ABRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDO

 

Mais um dia cinzento a anunciar chuva mas, para já, com uma claridade enganadora que ludibria os mais crentes. Haja uma aberta e logo terão a esperança de uma paz primaveril.
Há pessoas que são como os dias.
Mostram uma claridade enganadora, uma fugaz primavera, convidam-nos a entrar no dia mas depois fecham-se na sua própria tempestade e voltam a carregar-se de uma amargura cinzenta. Na verdade, foi aí que sempre desejaram ficar.
Não vale a pena dar a sua explicação sobre algo para alguém que já decidiu o que deseja ouvir. É, simplesmente, tempo perdido.

SE PRECISA FORÇAR ENTÃO NÃO É O SEU TAMANHO

Quando perguntamos a alguém, com aquela simplicidade de um corolário matemático- já não tens amor próprio?! o que estamos a querer saber...
Amor próprio!
Coisa complicada que estamos a por em risco quando nos esquecemos de manter o respeito por nós mesmos, em primeiro lugar.
Amor próprio!
O bom relacionamento com o espelho que nos observa a cada manhã.
Amor próprio!
Aquele guarda chuva que devemos ter sempre á mão para abrigo das nossas tempestades interiores.
Amor próprio!
As nossas cedências não podem ser as facas com que outros nos ferem.
Por isso nunca nos devemos diminuir para cabermos na vida do outro.
Nem aceitar que o outro reduza a nossa vida a uma teimosia (de viver).
Se precisa de forçar, então não é do seu tamanho.

17 de novembro de 2020

SEM TALVEZ

 

Se quer, então diga que SIM!
Mas, se não quiser, diga que NÃO!
Não se iniba de dizer o que quer.
Não se atraiçoe, mantendo aquilo que não deseja ter.
Às vezes é preciso voltar as costas mesmo que deseje ficar.
Às vezes é preciso pôr fim mesmo querendo continuar.
Às vezes é preciso deixar ir mesmo que sinta a falta.
É preferível manter distanciamentos honestos em vez de ter aproximações hipócritas.
Às vezes o coração age mais depressa que a mente
outras, precisa de tempo para aceitar o que a mente já sabe.
E, se o coração doer, chame o cérebro porque ele geralmente consegue consertar.
Não desista facilmente mas não insista para sempre.
Às vezes queremos tanto que seja amor que não vemos que é apenas teimosia.
Os distraídos são mais verdadeiros; a falsidade exige imensa concentração.

15 de novembro de 2020


Às vezes só nos lembramos de certas coisas mais tarde. Muito mais tarde.

Podem passar meses, muitos meses, anos, dezenas de anos, é como se estivéssemos a atravessar um quarto escuro e, de súbito um clique, a luz acende-se e é como se estivéssemos a ver tudo naquele momento.
Como se estivesse a acontecer.

E é então que, muitas vezes, encontramos as respostas para perguntas que ficaram por fazer e as respostas que ficaram vazias mas que urgia terem sido dadas.
À medida que vamos andando na estrada da vida, mais vezes esses pedaços da vida que ficou para trás, nos vem invadir a memória.
É assim que encontramos as respostas às perguntas que ficaram vazias e sabemos porque devíamos ter respostas para trocar pelos silêncios passados.

É tarde demais, dirão alguns defensores da teoria do "agora";
mas poderá ser a única maneira de não voltarmos a ter interrogações onde devíamos ter respostas, nem voltarmos a calar as perguntas com medo de não termos as respostas que desejamos ouvir.

13 de novembro de 2020

 E CÁ OS TEMOS.

Sol pendurado no canto da janela do quarto.
Uma explosão de céu azul sem manchas.
Será o chilrear alegre de pássaros de novo ao desafio?
Será o gato da vizinha esparramado no degrau da porta?
Será o perfume do jasmim espalhado pelo ar?
Será que a primavera me invade o paladar?
Será que sinto a brisa de cetim que afaga a pele?
Estarei ainda a sonhar ou estarás tu, Natureza,
sem vergonha, a enganar-me os sentidos?
Ainda que tudo isto não passe de um sonho.
Quanto mais perto, a realidade estiver dos nossos sonhos.
Mais perto ficamos da felicidade!

2 de novembro de 2020

SOBRE A CORAGEM E OUTRAS TEMERIDADES

 

Para quem não tiver coragem,
até um par de asas pode ser um fardo.
Coragem não é ausência de medo.
Ter coragem é uma responsabilidade muito grande
e frequentemente é necessário mais coragem
para ousar fazer o certo do que temer fazer o errado.
Que não haja o medo de falhar
quando se dá o melhor que se tem dentro de nós.
Até para se ser feliz é preciso ter coragem.
Coragem é ter coração mais que razão;
é o instinto quando derrota o inesperado;
é a acção que contraria a lógica e vira o jogo.
Quando te inventei eras a força em que se sentia segurança,
um rosto onde se lia determinação e olhar de esperança
que te subia do coração.
Por seres tudo aquilo que eu não era
um ânimo que não eu (tu nem sabias de mim)
de dia, seguia-te escondido na minha própria sombra
e de noite, sonhava-te no escuro da solidão do ser só.
(MJS, Eu e os meus Fantasmas"
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
(Chico Buarque)

25 de outubro de 2020

SOBRE A CERTEZA E OUTRAS DÚVIDAS

 As certezas são sempre uma vantagem.

A certeza absoluta é o clímax.
Certezas absolutas
são as que nos fazem chegar à linha do horizonte.
são as que nos fazem passar pela parede sem bater nela.
são as que nos fazem convencer de que o abismo não está lá.
Ter a certeza absoluta é estar imune à dúvida
apesar de haver uma data de razões contra tudo
apesar de existirem outras tantas a favor do que quer que seja.
entre o sim e o não existe um número infinito de possibilidades.
são os "talvezes" para não deixar nenhum vazio entre sim e não.
Os "talvezes" só existem para nos encherem de dúvidas.
Mau é quando nos deixamos agarrar pelas dúvidas.
O ponto sublime onde mora a dúvida absoluta chama-se certeza.
O problema do mundo é que
as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas
enquanto os imbecis estão cheios de certezas!
(Bertrand Russell)

20 de outubro de 2020

AMANHÃ CHOVE

 

Amanhã chove.
Foi num dia de chuva que te esperei à esquina da vida.
Uma eternidade.
Apareces antes do terceiro carro azul.
E, passaram três carros azuis e tu não apareceste.
Apareces antes de passarem cinco pessoas com óculos.
E, cinco pessoas com óculos passaram e tu não apareceste.
Apareces antes de ver três pessoas com guarda chuvas vermelhos.
E, passaram duas pessoas com guarda chuvas vermelhos
e eu já espremia nervosamente os dedos das mãos, na espera ansiosa
quando passou mais um guarda chuva vermelho e tu não apareceste.
Foi num dia de chuva que te esperei à esquina da vida.
Uma eternidade.
E, tu não apareceste.

17 de outubro de 2020

SOBRE UMA DATA DE COISAS QUE ME VÊM À CABEÇA, NO FIM DE UMA NOITE FRIA DE OUTONO

 

Ainda bem que existem outros sonhos.
Outros risos.
Outras pessoas.
E outras coisas.
E, ainda bem que, todos os dias, os dias continuam a suceder às noites,
para que continuemos a tentar dar vida aos nossos sonhos.


Não gosto dos meus erros
mas também não quero prescindir daquilo que é ter uma certa liberdade de me enganar.
Quem nunca se enganou?
Quem pode dizê-lo de verdade?
Até os deuses se enganam...

Para determinadas pessoas eu posso mostrar, apenas, uma parte do que na realidade sou.
Não porque queira enganá-las, ou porque tenha receio.
Somente porque não vale mesmo a pena.

O beijo não é apenas uma manifestação de amor.
Pode ser também de traição, um delicioso truque que os sentidos criaram
para interromper a fala quando as palavras se tornam supérfluas ou não podem ser ditas.

Existem momentos na nossa vida em que as palavras perdem o sentido,
parecem inúteis e, por mais que se pense numa forma de empregá-las,
elas nunca irão ter significado.
Então não dizemos, apenas sentimos.

13 de outubro de 2020

SOBRE O DESEJO E OUTRAS VONTADES

 

Ah! O desejo!
Desejo-te porque não te tenho(?)
e tenho-te sem te desejar(!)
Desejo de te ver,
desejo de te ter,
desejo de te beijar
a boca, a face, os olhos,
desejo-te por aí fora,
por todo o teu corpo,
de fazer amor contigo
desejos tantos, aos molhos,
desejos a qualquer hora
de repousar num ombro amigo
no teu, sem demora.
Desejos são como crianças pequenas
quanto mais lhes cedemos
mais exigentes se tornam, apenas...
Desejos vão-se com a idade,
ficam sem plano, sem rumo
desfazem-se no ar como fumo
mas fica sempre a vontade,
o desejo de desejar.
Se pudesse ter metade
dos meus desejos realizados,
que faria com os desejos desejados (?)
Ainda bem que não temos tudo o que desejamos

12 de outubro de 2020

EU EOS MEUS FANTASMAS!

 

A noite chega gélida como um cadáver.
Corre-me pelo corpo um arrepio de desconforto
Prefiro cerrar os olhos e ver-te, dentro de mim
como eras, que ficar com a tua imagem assim,
de alguém que já não vive mas não está morto.
Se eu pudesse tornar-te dia e acender-te.
Correres-me pelo corpo num sopro de primavera
voltar a ver-te chama de girassol ensolarado,
abrir os olhos, sentir-te no teu olhar enfeitiçado
e da noite nunca mais ficar à espera.

BORBOLETA

 

Quando te conheci, parecias uma borboleta.
Porque as borboletas
como não conseguem ver as próprias asas,
não sabem que são lindas.
Tu eras assim! Linda sem saberes.
E era justamente nisso que estava o teu encanto natural,
o teu sorriso maravilhosamente puro
e o teu olhar suave e doce como um afago.

Tantos anos que passaram
e nunca mais consegui deixar de te ver assim,
BORBOLETA,
como um afago encantado,
suave e doce com um sorriso
na naturalidade de um olhar PURO..

A PROPÓSITO DE TUDO E DE NADA

 

Um fracasso é a oportunidade de começar de novo
mas com mais INTELIGÊNCIA
que é a capacidade de adaptação às mudanças
e à INOVAÇÃO
que é o que distingue o seguidor do LÍDER
que é quem sabe construir, empolgar, unir e manter uma equipa EQUIPA!

INTELIGÊNCIA, INOVAÇÃO, LÍDER e EQUIPA
parece um comboio de palavras
mas, na realidade, representa um punho fechado
porque contêm em si segurança, força, poder e unidade.

10 de outubro de 2020

SOBRE O PENSAMENTO: O MEU E O DO OUTRO

 

Como não tenho o dom de ler pensamentos, esforço-me por tentar conhecer o outro e antecipar o que faria se fosse ele, embora saiba que por variadíssimas razões nem sempre é possível.
"O que farias tu no meu lugar?"
Esta é a pergunta assassina. Porque quem nos pede conselho está, de facto, à espera que a nossa opinião seja mais ou menos concordante com o seu pensamento; por isso, apesar de nos pedir opinião, não deseja ouvir coisa diferente da sua.
E, assim, ou formatamos o nosso pensamento pelo outro e dizemos o que ele quer ouvir e não o que faríamos ou agimos de acordo com o que pensamos sobre o tema e teremos de suportar um ar contrariado do outro senão, por vezes, carregado de insuportável enfado.
"O que farias no meu lugar?"
Não sei! Simplesmente não sei! Apenas sei que faria diferente. É um paradoxo que não satisfaz quem pergunta nem sequer é inteligente para quem pretende "salvar-se" do aperto.
Por isso, há quem opte por nunca dizer nada de nada e é nesse silêncio enigmático mas também insípido que se tenta manter uma postura sem mácula, parecer um espírito benevolente e compreensivo, dar um apoio ainda que falso.
"O que farias no meu lugar?"
Porque tu és tu e eu sou eu, é quase impossível que fizéssemos igual!
Por acaso, já estive num lugar parecido como o teu e fiz outra coisa.
E resultou! Para mim, deu certo. mas, como tu és tu e eu sou eu, não posso garantir que contigo vá dar certo.
Faz o que achares que é melhor para ti.
"O que farias no meu lugar?"
Como não tenho o dom de ler pensamentos, esforço-me muito por te conhecer e antecipar o que faria se fosses tu, ou seja, o que tu farias se fosses eu. É bom ter uma opinião mas dar uma opinião é tão difícil que é bem mais fácil não a ter.
Mas, devemos evitar um erro. Pedir opinião a quem não a quer dar!

6 de outubro de 2020

SOBRE A MEMÓRIA E ATREVIMENTOS

 

Como seria bom se a memória reproduzisse o que não aconteceu!
E, no entanto, a saudade mais brutal é a que se tem
de tudo o que não se consegue realizar.
Porque deixámos que fosse o medo a decidir por nós
Porque a coragem foi um breve sopro que logo empalideceu
Porque julgámos que o sonho era apenas para ser sonhado
não para ser transformado em vida!
Por desespero, talvez seja só desespero,
tenho tanta vontade de reescrever a minha história,
rir-me na cara do medo, atirar-lhe ao focinho um sopro de coragem
e pôr todos os meus sonhos à desfilada pela vida
seja qual for o pedaço de tempo que ainda tenha para gastar.


4 de outubro de 2020

SOBRE A PAIXÃO E O AMOR

 

Só sabemos que é paixão quando olhamos para alguém
e pensamos que não podemos passar sem estar
porque é a pessoa mais incrível e fantástica
de todas as que conhecemos.
O nosso coração á desfilada, sem passo nem compasso.
E, damos por nós a fazer coisas que nunca esperaríamos fazer.
E, damos por nós completamente nus.
De alma destapada voamos, voamos, voamos...
É também por isso que não controlamos tudo na vida.
Só sabemos que é amor quando ficamos junto de alguém
e temos a certeza que é a pessoa com quem nos sentimos bem
embora não seja a pessoa mais incrível e fantástica
de todas as que conhecemos.
O nosso coração bate ao passo e compasso do outro
e partilhamos a nudez honesta e franca das nossas almas.
É também por isso que podemos passar a ser uma soma na vida.

28 de setembro de 2020

A PROPÓSITO DE TANTA COISA E DE NADA II

 

Há pessoas cuja soberba e hipocrisia
as leva a subestimar a nossa inteligência
como se não fôssemos capazes de perceber o que fazem
E, se não nos conseguirem manipular,
tentarão com outros para que pensem mal de nós;
por isso é mais fácil culpar quem se revolta, explode e grita
do que quem destila o veneno no silêncio mais cândido.
Infelizmente é comum não sabermos ao certo,
o lugar que ocupamos na vida dos outros.
Poderá parecer que estamos no topo da lista de prioridades
quando afinal somos descartáveis mal o jogo acaba!
Mas, nunca se vitimize! Não tenha pena de si.
Use o sarcasmo só porque bater é crime!

26 de setembro de 2020

SOBRE O SORRISO

 

Entre ti e um sorriso, escolho-te a ti
Porque sem ti não conseguiria sorrir. E, sorri!
Porque sorrir desarma os mal humorados e contamina.
Mas tem de ser um sorriso de alma.
Só nos lábios, não chega.
Nos lábios, um beijo perfeito é um sorriso da alma.
Por isso, o beijo de verdade só é beijo se tiver alma e for sorriso.
E, sorrindo no brilho dos teus olhos quando te beijo,
A minha alma sorri e os teus olhos beijam.

17 de setembro de 2020

A PROPÓSITO DE TANTA COISA E DE NADA

 


Para Mia Couto, o paraíso não é um lugar mas breves momentos que conquistamos nas nossas vidas. Concordo com ele.

Com o pensamento, a magia das suas frases, a criatividade inigualável como usa as palavras ainda que, às vezes, me apetecesse discordar só “porque sim”.
Mas não seria racional e até o coração se revoltaria!
Memória selectiva.
Recordar apenas os “paraísos das nossas vidas”.
Porque se pode apagar o que incomoda?
Porque se consegue esquecer o que afronta?
Pode ser defensivamente eficaz, interessante, mesmo inteligente.
Mas não será antes a desculpa do coração para tentar enganar o cérebro?
Há quem diga que consegue perdoar mas não esquecer.
Parece-me um exercício precário, além de difícil.
Perdoar sem esquecer? Talvez.
O inesquecível existe; o imperdoável também.
Se não esquecermos o inesquecível como perdoar o imperdoável?
O que importa no fim de cada dia é como nos sentimos na nossa busca pela felicidade enquanto vamos conquistando pedaços de “paraíso”.

31 de agosto de 2020

PORQUE

 




Mil razões para pensar em ti
outras tantas para te admirar
e uma apenas para nunca te esquecer:
porque te quero muito!

24 de agosto de 2020

AS NOITES DOS POETAS

 

Há quem diga que as noites são dos poetas
Há quem diga que as noites são dos sonhos
Há também quem diga que nem todas.
Só as de Verão
Porque são mais limpas
E têm Lua. E têm estrelas. E são mais suaves.
E têm reflexos dos dias lilases.
Mas isso não tem nenhuma importância
As noites em si não interessam para nada.
Importantes são os sonhos.


____ // ____


Estarei a sonhar? Mas é dia!
Sigo os sinais do teu andar, no areal imenso
Enamorei-me pelas ondas do teu corpo dourado
Pela espuma de desejo de um beijo salgado
Pela promessa nos teus olhos de mar
Pelo afago quente dos teus gestos
Onde me sinto ressuscitar dos invernos da vida
Nem sei se é do perfume da maresia.
Quem quer a noite? Se é de dia...


___ // ___


Disseram-me que os amores de Verão acabam
Como se fossem escritos na areia da beira mar
Á espera da praia mar .
À espera da onda passageira
À espera das sombras da noite
À espera que o sonho acorde.
Depois, ficam as lembranças

16 de agosto de 2020

UM DIA DE CADA VEZ

 

Um dia de cada vez..
É o que faço
Sem embaraço
Sorrir para mim
Porque sim
Cuidar de mim
Porque sim
Gostar de mim
Porque sim
Ser sempre eu
Sem impor razão
Pensar mais em mim
Porque não?
Egoísmo?
Não!
Ai de mim se não for EU!

20 de julho de 2020

DORNES


Entramos na língua de terra onde se fez História
onde ficou guardado, tempos e tempos, um segredo
segredado de memória em memória.
Ao fundo, a torre romana de rara nobreza
outrora templo de cavaleiros sem medo,
cruzes nas vestes, espadas em guarda leal,
uma igreja, paredes brancas manchadas de Sol,
e um caminho único por entre o casario.
No silêncio tranquilo das curvas de um rio
de águas mansas e frias, margens de verde e beleza,
a escorrerem sombras e murmúrios da natureza.
Um coração a bater apressado no sonho, um arremesso,
um pedaço de paraíso com momentos sem preço!

BALEAL


O tempo construiu uma ponte de areia
aos ilhéus de Terra, Pombas e de Fora
O mar, mesmo bravo, não mais separou
e para sul, ficou um corpo de baleia

rochoso, umas vezes áspero de vento, 
outras dourando ao Sol, mas tão belo,
que o nosso olhar anseia e se demora,
ali mesmo, para estar sempre a vê-lo
não vá perder-se na nossa desmemória.
E, à noite, numa esplanada de estrelas
há prata, em volta, nas águas inquietas
moldura brutal para um retrato de beleza.
Obrigado, natureza!

14 de julho de 2020

AFINAL ERA TÃO SIMPLES

Reuni a coragem pública para fechar o dia abrindo com o que pode guardar um coração, naquele que foi um dos períodos mais atribulados da minha adolescência.
O tempo das paixões!
Uma sucessão vertiginosa de renúncias que se acumulavam, perseguidas pelo temor de ouvir "um não", desenhado nuns lábios indelicadamente trocistas. Nos delas, claro!
A minha baixa autoestima insultava-me à frente do espelho, penitência pela envergonhada conduta que gerava sucessão de dilacerantes desamores, guardados no mais profundo dos esconsos do meu coração.

O tempo em que todas eram lindas!
A morena dos olhos negros, a ruiva das sardas e olhos mar, a professora de história, a hospedeira do prédio em frente, a loura das tranças e dos soquetes laranja, a franja risonha com o vestido dos malmequeres verdes, a amiga da ruiva, do cabelo negro à "garçon" e calções com suspensórios.
O tempo dos treinos das palavras!
Estudava frases, passes, gestos, incutia a mim mesmo uma vontade inabalável de empurrar a decisão e depois, chegava o momento, chegava ela e eis que a coragem se ia pelo cano e assim ficava remordendo as palavras imprestáveis.
Mais valera o sofrimento de Tristão por Isolda, de Romeu por Julieta, de Pedro por Inês, de Sansão por Dalila, de Páris por Helena, de Marco António por Cleópatra, de Vadim Maarslov por Mata Hari que embora tivessem acabado mal, pelo que é conhecido, viveram amantíssimos enquanto estiveram vivos!

Um dia fez-se um clique qualquer e - já nem sei bem como - foi nas férias quando fomos à matinée no cine Caparica ver o "Alamo" - enquanto o David Crocket ia despachando o exército de Sant' Anna - quase torci o pescoço para lhe dar um beijo na boca, meio desajeitado e ela olhou para mim sem surpresa, sorriu, deu-me a mão, pôs a cabeça no meu ombro e ficámos a namorar(?) o resto daquelas férias!
Afinal era tão simples...

11 de julho de 2020

EU CONHEÇO-TE!

Eu oiço os teus passos mesmo antes de apareceres.
Eu vejo os teus olhos mesmo sem me olhares.
Eu conheço os teus gestos mesmo quando dormes.
Eu sinto a tua respiração mesmo quando não estás.
Eu conheço-te!

E, vinhas de longe, nas cartas de letra redonda
embrulhadas em sobrescritos azuis
com aquelas bolinhas desenhadas sobre os "is"
que terminavam sempre com uns lábios num beijo
antes do nome pelo qual gostavas que eu te chamasse.

Chegavas e ficavas comigo, à beira mar, sobre as rochas,

onde te lia e relia, a ouvir os ecos do mar e de ti.
Cada encontro era uma espécie de desencontro
sempre nos encontrávamos, como se fosse a primeira vez
sempre com aquela sombra de que seria a última,
sempre com a sensação de que um de nós estava de partida.

E, no entanto, durante anos, paixão foste festa e vício,
rosa e cicuta, ranço e perfume, mel e azedume
um extremo e o outro, sem equilíbrio, sem termo médio,
sem palavras certas para tanto fogo e tanta magoa.
Com paixão vivi que sem poder viver com ela
sem ela, não viveria..

Amarei outras mulheres? Ou amar-te-ei em outras?

SUAVE COMO UMA PENA




Quem explode de raiva
também pode explodir de amor!
A vida já é uma corrida.
então quando acariciar, abraçar, beijar,
demore o tempo que desejar...
mas seja suave, como uma pena.