Já caiu a noite sobre os campos de Shuaquen.
Há o vento do
deserto e frio a cheirar a morte.
Milhares de corpos
amontoados.
Os feridos, os mortos,
os moribundos;
os mutilados sem glória
nem esperança.
Vultos sonâmbulos, por
entre pequenas fogueiras,
vão curvados na desgraça,
agradecendo a sorte.
Nas sombras, vivos e
esgotados.
Há gritos de agonia
e outros furibundos
e arrepios, para apagar
da lembrança.
Ao longe, entre
duas dunas, no meio de palmeiras,
numa enorme tenda jaz
no seu leito de morte
o jovem do elmo e da
armadura dourados,
de sonhos loucos e dois
golpes fundos.
Da brava gente, poucos
sobram da matança.
Desaparecido para
sempre, no auge da contenda,
‘O Desejado’ lhe chamaram e nasceu uma lenda.
(Lisboa, 4 de
Agosto de 1978 – 4º centenário da Batalha de Alcácer Quibir )