5 de novembro de 2014

UM ÍMPETO REFORMADOR


No gabinete ministerial
sua excelência, o doutor
num ímpeto reformador
decretou que, sem gente
em número suficiente
não haveria local
que merecesse existir.
E, assim levou por diante
um despacho arrepiante
para uma terra interior
que se dizia deserta.
Fechou o Tribunal,
uma escola primária
e também a secundária,
correios, finanças, bombeiros,
mais a extensão do hospital.
Depois foi-se o caminho de ferro
e, por fim, o posto da guarda.
Ó da guarda, quem nos acode!
gritou a gente na praça
que, afinal, havia gente
querem lixar o pagode.
Isto não é reforma, é desgraça!
E desgraça cheira a enterro.
Sua excelência, o doutor,
continuava a despachar
e a cortar, cortar, cortar..
Era tamanha a reforma
e misterioso o critério,
uma cruz no nome do local
no mapa, um enorme cemitério,
e fica o país sem gente
ou a gente sem país!
Mas foi uma excelência, um doutor,
que num ímpeto reformador
assim quis...