O dia amanheceu quente e eu amanheci tarde.
Custa muito não aproveitar o domingo.
Deve ser por isso que a cama me agarra até perto da uma.
Deve ser por isso que a cama me agarra até perto da uma.
O pequeno almoço acaba reforçado. Preparo então para um salto à praia.
Afinal, ainda me falta mais uma semana de trabalho. Depois férias.
Por aqui é pela margem sul.
Tem melhores acessos e bom estacionamento.
Castelo é o nome do restaurante de praia, logo a seguir à linha do comboio.
Com a ponte, Lisboa atravessou o rio mais depressa.
Em quarenta anos a paisagem mudou radicalmente.
O imobiliário explodiu antes de implodir.
O imobiliário explodiu antes de implodir.
Hoje vive mais gente entre Cacilhas e a Quinta do
Conde que na capital.
Nos doze quilómetros, entre a Caparica e a Fonte da Telha, vou a todas.
Conforme o dia; conforme a maré; conforme o trânsito.
Hoje é para a praia do Castelo. Tem melhores acessos e bom estacionamento.
Castelo é o nome do restaurante de praia, logo a seguir à linha do comboio.
Puseram-lhe uns dentes de tijolo, muito certinhos, no cimo da fachada.
Ameias? Talvez demasiado pequenas para fazerem jus ao nome.
Maré a encher. Bandeira verde ao lado da dourada e azul de praia de excelência.
O céu bastante azul!
O Sol bastante amarelo!
A areia bastante quente!
A água bastante molhada!
O céu bastante azul!
O Sol bastante amarelo!
A areia bastante quente!
A água bastante molhada!
A loura do biquini laranja, encostada ao balcão, bastante boa!
A esplanada do restaurante a transbordar de gente!
A esplanada do restaurante a transbordar de gente!
As sardinhas nas brasas e o homem que as vigia a escorrer suor pelo tronco nu.
Cheira a sardinhas assadas mas não cheira a crise!
Cheira a sardinhas assadas mas não cheira a crise!
Vou ao balcão para uma bica rápida.
A moça que maneja a máquina também atende os gritos dos colegas das mesas.
Imperiais, cervejas, águas com gás e sem, naturais, sumos e gasosas.
Um corrupio. Sorri-me. O lado direito do sorriso tem uma falha de dentes.
Mas tem uns olhos grandes e brilhantes, daqueles que batem pestanas.
Serve-me o café cheio num pequeno copo de plástico e aponta-me as saquetas de açucar.
Imperiais, cervejas, águas com gás e sem, naturais, sumos e gasosas.
Um corrupio. Sorri-me. O lado direito do sorriso tem uma falha de dentes.
Mas tem uns olhos grandes e brilhantes, daqueles que batem pestanas.
Serve-me o café cheio num pequeno copo de plástico e aponta-me as saquetas de açucar.
Acabaram-se as 'chávinas', diz-me ela, de novo a falhar os dentes no sorriso.
As chávenas, os pires e as colheres amontoam-se num lava loiça de alumínio.
O líquido castanho que horas atrás teria sido água, quase afoga o monte da loiça
Faz-me pensar que o copo de plástico é óptimo apesar de queimar as pontas dos dedos.
Faz-me pensar que o copo de plástico é óptimo apesar de queimar as pontas dos dedos.
Melhor ver a loura do biquini laranja que acena ao preto fardado de nadador salvador.
Alto e grosso, de cabeça rapada e óculos de sol espelhados, Rayban ou quase,
O preto avança. Espécie de passo de tango arrastado, enlaça a loura e dá-lhe dois beijos.
Ela tem uma risadinha como se lhe tivessem feito cócegas. E vão os dois porta fora.
As mesas com as toalhas de papel marcadas por manchas multicolores
mantêm os cadáveres das sardinhas nas travessas e nos pratos dispersos.
os restos de batatas, os pedaços de alface e as rodelas de pepino e de tomate.
algumas tiras de pimento como se uma explosão tivesse desfeito o menu.
mantêm os cadáveres das sardinhas nas travessas e nos pratos dispersos.
os restos de batatas, os pedaços de alface e as rodelas de pepino e de tomate.
algumas tiras de pimento como se uma explosão tivesse desfeito o menu.
Os clientes atrasados remexem-se nas cadeiras à espera do café ou do whisky novo.
Cá fora, uma floresta de cor e de chapéus de sol espalhados pela areia escaldante.
Há corpos bem bronzeados. Outros mal passados.
Alguns a disfarçarem as marcas das T shirts ou das alças.
Há toalhas às lisas, às riscas ou nem uma coisa nem outra.
De passagem, a loura do biquini laranja deitada de bruços ao sol.
Já não está com o preto mas está ao telemóvel.
Continua boa. Aliás, parece-me boa, de qualquer maneira.
Há corpos bem bronzeados. Outros mal passados.
Alguns a disfarçarem as marcas das T shirts ou das alças.
Há toalhas às lisas, às riscas ou nem uma coisa nem outra.
De passagem, a loura do biquini laranja deitada de bruços ao sol.
Já não está com o preto mas está ao telemóvel.
Continua boa. Aliás, parece-me boa, de qualquer maneira.
Na beira mar, a espuma vem misturada com areia quando as ondas rebentam aos nossos pés.
Porque será que somos tão parecidos om os pinguins, à beira de água?
Porque será que somos tão parecidos om os pinguins, à beira de água?
Há um casal de gordos em apuros, uns dez metros à minha frente.
Ele, com braços curtos e grossos numa ansiedade para agarrar a cintura dela.
Ela dificulta-lhe o desejo.
Esperneia uma enormidade de coxas. Gesticula uma sinfonia de guinchos.
Esperneia uma enormidade de coxas. Gesticula uma sinfonia de guinchos.
Uma onda vem facilitar-lhe a obsessão. Primeiro enrola-os.
Troncos, braços e coxas num agitado bailado de refegos na espuma da areia.
Por momentos, uma massa uniforme rebola no olhar divertido dos espectadores.
Por momentos, uma massa uniforme rebola no olhar divertido dos espectadores.
Por fim, a onda vomita-os na borda da piscina atlântica.
Ele sacode toneladas de areia dos calções.
Ela compõe a gordura que deixou de caber naquele fato de banho.
Felizes e extenuados!
A onda também me parece extenuada.
Ela compõe a gordura que deixou de caber naquele fato de banho.
Felizes e extenuados!
A onda também me parece extenuada.
E eu resolvo regressar ao chapéu de sol e à toalha, igualmente extenuado.
O banho ficará para mais tarde!