I
Uma
vontade de não querer ter pensamento.
Uma angústia de todas as células do corpo num sentimento súbito de clausura numa cela tão inacessível que fugir se torna utopia pois a cela é tudo.
Uma angústia de todas as células do corpo num sentimento súbito de clausura numa cela tão inacessível que fugir se torna utopia pois a cela é tudo.
II
A
memória, afinal, é uma ilusão.
Porque nunca podemos fazer com que ela nos repita o que nunca fizemos. E, no entanto, as saudades mais cruéis são as que povoam a memória com as coisas que não fizemos ou não vivemos.
Porque nunca podemos fazer com que ela nos repita o que nunca fizemos. E, no entanto, as saudades mais cruéis são as que povoam a memória com as coisas que não fizemos ou não vivemos.
III
Não
existe um caminho de vida só nosso.
O caminho que escolhemos é constantemente percorrido por outros que escolheram o mesmo caminho.
Ou será que fomos nós que escolhemos o deles?
O caminho que escolhemos é constantemente percorrido por outros que escolheram o mesmo caminho.
Ou será que fomos nós que escolhemos o deles?
IV
A
vida vai-se em prateleiras numa despensa de factos e de sensações
que vamos pondo de baixo para cima e da porta para a parede do
fundo.
É por isso que à medida que, quando a despensa vai ficando cheia, chegamos mais facilmente ao mais antigo do que ao que aconteceu ontem.
É por isso que à medida que, quando a despensa vai ficando cheia, chegamos mais facilmente ao mais antigo do que ao que aconteceu ontem.
V
A
vida é um baile de máscaras onde para sobreviver é, muitas vezes,
necessário por a máscara apropriada.
Porque se formos mascarados de nós mesmos correremos o risco de não acertar com a música.
Porque se formos mascarados de nós mesmos correremos o risco de não acertar com a música.
VI
Não
se pode deixar pensar o coração
VII
Na
realidade não fazemos anos. Vamos desfazendo-os. Cada dia a mais nas
nossas vidas é um dia a menos que vivemos. Não sabendo o tempo que
temos de vida, vamos continuando a somar os dias e não a
subtraí-los, apesar de estarmos sempre a gastá-los.
VIII
A
ideia que temos do passado é de um tempo que não está ao nosso
alcance modificar. No entanto, como sempre o podemos revisitar nas
nossas memórias, é relendo-o naquilo que não devia ter sido,
estamos a modificá-lo, no presente, para não voltarmos a repetir os
mesmos erros
IX
O
que é preciso é nunca nos rendermos. Quando arranjarmos motivos
para não agir, quando não falamos com medo do que dissermos, quando
preferirmos estar mais quietos que desassossegados, então estamos
lixados!
X
Viver é sonhar acordado porque se a vida não tiver sonho já morremos em vida. Morremos! Não adormecemos. Porque até a dormir, sonhamos...