Antigamente – mas mesmo muito
antigamente –
Quando eu era menino e moço
Havia verão em setembro! Mas verão a
sério!!!
Respeitava-se as estações do ano,
caraças!
Gostava de ouvir agora o Vivaldi a
compor as quatro estações.
AH! Deixa-me rir!
Devia ficar daquelas atrapalhações
de sons arrepiantes
Dessincronizados que às vezes a
gente finge que sim
E depois chama… música… música
quê???
Mas, que dizia eu?
Ah! Sim, meu grande setembro, pois
claro.
Ia de férias para Sesimbra, à
confiança.
Sol em grande, todos os dias.
Água boa, quase quente, todos os
dias.
Passeios pela areia à beira mar,
à beira do coraçção,
à beira da paixão,
à beira do namoro de férias que se
interrompia
e voltava no ano a seguir!
Aquilo sim era verão!
Então e agora?
Agora o que é? Grande setembro?
Um abalo sísmico na Conchichina
Estremece tudo por ali fora da Japão
à China
O norte de África, um vulcão numa
ilha qualquer do pacífico
Chovem cinzas, chovem ventos de cor
amarela
Se não chove é logo uma seca
Se chove é logo enxorrada
Mais uma tempestade de fogo
Uma floresta queimada
E uma onda de calor, antes de um
frio de rachar.
Há por aí, uns senhores, que vivem
pendurados em satélites
E que dizem que não temos
“setembros”
- que eu não tenho setembro –
Porque demos cabo do clima!
Pronto, pois será. Estragámos a
porra do clima!
E depois? E agora?
Então não há ninguem que conserte
isto?
Atenção, ainda anda por aí muita
gente apostada em continuar a estragá-lo!
É por isso que o verão, tal como a
primavera, o outono e o inverno
Andam todos emaranhados e já ninguém
sabe ao certo se,
quando dizem que estamos no verão
se vamos à praia, apanhar um
resfriado
ou levar com um escaldão!
E se clamamos “isto está uma
seca!!!”
Se vamos morrer de sede, se ainda se
fica afogado!
E, é por isso que o verão resolveu
mudar de sítio
E também já não passa o tempo todo
em Sesimbra,
Nem em lado nenhum…
…nem em Setembro que era o lugar do
calendário
Em que as férias eram grandes e sabiam sempre a verão!