31 de julho de 2022
A VIDA É MAIS CURTA QUE PEQUENA
28 de julho de 2022
CONSELHOS PÓS MODERNOS
20 de julho de 2022
MOMENTOS
A vida, tem
momentos, em que é necessário excluir pessoas,
apagarmos
lembranças, deitarmos fora o que nos magoa,
abandonarmos o
que nos faz mal,
libertarmo-nos
de coisas que nos prendem.
Olhar em frente
e ver tantas caminhos novos para escolher,
ao contrário de
insistirmos sempre no mesmo erro e na mesma dor.
Aprendamos a
gostar de nós, a cuidar de nós,
e
principalmente a gostar de quem também gosta de nós!
Não desistamos
nunca e saibamos valorizar quem nos respeita,
esses sim
merecem o nosso respeito.
Quanto ao
resto, bom... ninguém nunca precisou de restos para ser feliz.
Cuidemos apenas
daquilo que for verdadeiro... o que não for, deixemos passar.
UM DESEJO - para todos e para mim também!
Um girassol sempre à janela
O dia a iluminar monte
18 de julho de 2022
ACREDITAR
13 de julho de 2022
MONSARAZ
De longe, pela estrada do Corval é aquela bossa saliente no ventre quase liso da planura alentejana, em volta, como se a terra tivesse engravidado.
Nas noites limpas, a iluminação que dá ao conjunto ares de estranha nave a pairar entre uma enorme lua de néon e o vácuo negro em redor, mantém a majestosa visão de algo que nos atrai como se gigantesca mão invisível a segurasse na sua palma.
Dizem que não se deve voltar ao lugar onde se foi feliz. Não acredito que haja algum problema com isso. Foi impossível resistir ao chamamento e, lá estivemos mais uma vez, ao fim de tarde, a jantar no mesmo restaurante com a varanda virada ao poente a desabar pela encosta, o Sol vermelho na linha do horizonte e tu para mim
- lembras-te? –
e a tua mão atravessou a mesa para se enconchar na minha, eu olhei-te nos olhos e lembrei-me. Estavam a sorrir como da outra vez em que começara uma noite de amor.
Havemos de lá voltar um dia...
10 de julho de 2022
SEJA INCANSAVELMENTE OPTIMISTA
Seja incansavelmente optimista.
9 de julho de 2022
AO CAIR DO PANO
AMOR É QUANDO MORAMOS UM NO OUTRO
5 de julho de 2022
QUANDO AMBRÓSIO PERDEU O SACA ROLHAS
2 de julho de 2022
OUTRA VEZ FEIRA POPULAR
Lembro-me da antiga Feira ainda no Parque de Palhavã, onde hoje se encontra a Fundação Calouste Gulbenkian, e também da inauguração da “nova” Feira em 1961, quando passou para Entrecampos ocupando dois quarteirões na avenida da República. Ia eu fazer treze anos e a família tinha-se mudado há cerca de cinco anos para um novo apartamento junto à avenida de Roma! De modo que se ia tranquilamente a pé até ao novo recinto.
Em Entrecampos já não havia o famoso "Lago dos Namorados" que, em Palhavã, serviu de ninho a muitos parzinhos apaixonados, nem funcionou o não menos famoso "Rotor", que tinha como principal atracção levantar as saias às meninas que se atreviam a entrar no dito carrosel e também acabou o "Water Shoot" mas apareceu a montanha russa, o carrossel dos balouços que também levantava as saias ás meninas acompanhado de gritinhos provavelmente de surpresa pela corrente de ar.
De resto havia tudo, os carrinhos de choque, o comboio fantasma, os astrólogos, os carrosséis, a montanha-russa, a grande roda, o poço da morte e, claro, os comeres e beberes da praxe, onde a sardinha assada era rainha e as farturas o toque final ajustado.
A Feira Popular era, no final do ano escolar, o grande ponto de encontro de milhares de estudantes que ali iam festejar mais um ano passado. Pois tudo isso acabou em 2003! E sem nada em troca…
Esperei dois anos para ter as chaves de casa e sair à noite com o Rogério, mais velho que eu quase dois anos e o Vítor, da minha idade. O Vítor aparecia sempre primeiro em minha casa, depois do jantar e depois íamos os dois buscar o Rogério que acabava sempre mais tarde, o jantar. Por vezes também alinhavam a irmã Susana, também mais velha e a Ana Maria que era da minha idade, a vizinha que era neta do proprietário com quem tive o meu primeiro namorico de janela, durante alguns meses (já nem recordo quantos) intercalado com umas saídas à matine de cinema sempre com o Vítor à perna ou então estas custosas saídas nocturnas.
“Hoje, vamos à
Feira?”
Está combinado! E lá íamos os três ou os cinco só que quando íamos os cinco, o regresso era sempre até às onze da noite, e olhem lá! Para os rapazes sós, condescendia-se mais uma hora que esticava até à meia noite e meia. Sem faltas!
Durante a semana, eu e o Rogério andávamos a pé até ao Colégio Moderno que é no Campo Grande e voltávamos pelo mesmo caminho e da mesma maneira à hora do almoço e se tínhamos aulas de tarde, lá íamos e vínhamos outra vez a pé!
Mas era por uma
boa causa.
Juntar o dinheiro quie nos davam para os transportes para gastar no sábado na Feira, além da semanada! Feitas as contas, amialhava-se uns cinquenta escudos, uma pequena fortuna para uma noite de intensa folia e ainda sobrava algum para um prego e uma imperial numa barraca dos comes e bebes.
A grande inovação foi quando surgiu na praça do carrossel dos aviões, uma “juke box” ligada a um projector que na parede que restou de pé de algum prédio demolido anteriormente, pintada estrategicamente de branco, projectava um pequeno filme com o tempo da música e com o respectivo cantor a cantar, ao mesmo tempo.
Impressionante para a época!
Claro que aquilo estava sempre a tocar as mais variadas músicas até que decorria o Verão 64 surgiu o “top” dos “tops” neste caso das “tops”! canção que já batera records de vendas, “Si je chante cést pour toi” na voz de Silvie Vartan que, à época, fazia as delícias adolescentes no seu romance com o cantor Johnny Halliday quando apareciam sempre amorosamente unidos na revista para jovens “Salut Les Copains”, a única distribuída por cá.
Pois a loura Silvie aparecia a cantar o “Si je Chante” na borda de uma piscina e rodeada de umas quantas beldades em fatos de banho, imagine-se também em biquínis e aquilo era um regalar de vista. Pois o famigerado disco tocou tantas vezes e o filme passou igualmente as mesmas tantas vezes que para o fim da época já a Silvie estava roufenha e o filme riscado! Ainda hoje pode ser visto no “u tube” e eu saudoso desses tempo, já o tenho ido espreitar!
Outros tempos,
Silvie! Outros tempos, meus amigos!
UMA VISITA AO ZOO
A minha tia Lucinda, para mim sempre foi a Cita, irmã mais velha da minha mãe e de meu tio Reinaldo, era o que toda a gente dizia com inteira justiça: “uma boa pessoa”! Contemporizadora com tudo e com todos, nunca lhe conheci uma palavra amarga ou mais brusca era a referência da bondade, na família.
Um casamento infeliz, atirou-a para um divórcio, muito nova, tinha o meu primo João seis anos, num tempo em que as mulheres ficavam, na maior parte das vezes, com direito a muito pouco ou mesmo a nada. Assim sucedeu com ela que saiu de casa e se recolheu em casa dos meus avós maternos e por lá ficou, sem nada, obviamente com o apoio dos meus avós e dos irmãos.
Mas isto é apenas um prólogo pois a crónica começa mais abaixo.
Mas isto faz parte ainda, de certa maneira, de um prólogo pois a crónica começa agora.
Foi na jaula dos gorilas que tudo se passou! Embora dividido por uma rede, antes das grades os gorilas e macacos observam os humanos como parentes próximos e a imitação dos seus gestos é uma fatalidade.
Aconteceu que a minha prima Nônô tinha caído e magoado um joelho e a avó Cita sempre prevenida e solícita, logo tinha ali à mão um pequeno rolo de adesivo, uma tesoura pequenina e uma embalagem com gaze para além do inevitável frasquinho de mercúrio-cromo.
Inadvertidamente, porém, para melhor fazer o curativo ao joelho da neta, sentou-se no bordo da jaula, de costas para as grades e pôs-se a fazer o curativo, colocando um pouco de mercúrio depois, cuidadosamente a gaze e por fim desenrolou um pouco de adesivo que cortou com a tesoura e para melhor efectuar a operação pôs no rebordo da jaula, o rolo de adesivo e a pequena tesoura não reparando que o gorila já se tinha aproximado das suas costas e zás, com uma rapidez inaudita, meteu a enorme mão entre as grades e lá foram o rolo de adesivo e a pequena tesoura na mão do macacão que tinha estado a observar criteriosamente toda a acção de curativo.
Os restantes visitantes começaram então a rir-se muito e a apontar para dentro da jaula incluindo os meus primos e a pequena Nônô, só a tia Cita não estava a perceber mas quando se virou e deu por falta do rolo de adesivo e da tesoura é que deu conta da situação.
O enorme macaco já estava de adesivo desenrolado pelo corpo num emaranhado que depois lhe doía quando o tentava arrancar e andava aos saltos e aos urros, de tesoura em riste. O ruído e o súbito aglomerado chamou a atenção de dois guardas do jardim que depois de se inteirarem do caso e identificar a responsável, exigiram explicações e foi difícil sair incólumes.
Foi preciso chamar o tratador que censurou o irresponsável acto. Apesar se de ter tratado efectivamente de uma distracção. Com muita paciência e perícia lá conseguiu ir tirando o adesivo enrolado nos pelos do símio e convencê-lo a dar a tesoura que por sua vez passou para as mãos da minha tia, muito nervosa. E ainda queriam que fosse paga uma multa.
Por fim os ânimos lá serenaram e os meus primos e a minha tia Cita puderam sair do local e continuar a sua visita. Mas não ganharam para o susto.
A minha tia Cita sempre tão ponderada, cautelosa, e de gestos atentos tivera o seu momento de distracção fatal ou quase…
Com o tempo, e o humor do meu primo João, este episódio ganhou foros de anedota, de modo que toda a gente que o ouvia contar com o acrescento de pormenores à sua maneira, a risota era geral.
1 de julho de 2022
A FEIRA POPULAR
A Feira Popular foi inaugurada em 10 de Junho de 1943 em Palhavã, nos terrenos onde hoje estão as instalações da Fundação Calouste Gulbenkian incluídos os magníficos jardins. O objectivo foi o de financiar as férias de crianças carenciadas através da acção social da Fundação "O Século".
Claro que só me tornei um amante folião da feira, no ano seguinte ou mesmo dois anos mais tarde. ou seja pelos cinco anos. Se fui antes não recordo nada!
Mas, depois chegam as recordações. Quando chegava a Primavera e os dias grandes Chegava a Feira! E aí estava eu tomado por aquela ansiedade até que uma tarde de Maio, o meu pai chegava do trabalho e perguntava à minha mãe:
“Olga, hoje vamos à Feira?”
E pegava em mim:
“Vamos os três andar no
carrossel…”
Ena pai que grande notícia. Eu acho que não dizia nada, mas ria e pulava. Era eu a dizer que sim de contentamento. Por vezes já nem jantávamos em casa. Apanhávamos o autocarro cuja paragem ficava em frente à porta de casa que nos deixava a uns duzentos metros mais ou menos. Depois era a pé! Durante o caminho, coitados dos meus pais, tinham de aturar a minha excitação:
“Este rapaz parece uma grafonola!
Esteve todo o dia quase sem dizer nada…”
sentenciava a minha mãe perante o sorriso condescendente do meu pai. Sentados os três no banco do primeiro andar do autocarro, o mundo era meu! O avistar dos muros que delimitavam o recinto que mais pareciam muralhas de um castelo, com ameias e tudo, davam em mim aquele ânimo para estugar o passo e passava a ser eu a rebocar os meus pais.
“Vamos ou não?”
E a minha mãe rebocada em cima dos
saltos altos no passeio irregular:
“Ó filho ainda me fazes cair,
bolas!”
O meu pai travava-me discretamente com uma pressão na mão e sorria. Compradas as entradas num quiosque junto à porta principal, ultrapassado o porteiro. Uff! Entrámos por fim!
“Ó pai compras os bilhetes para aquele homem os rasgar logo a seguir?”
Não me lembro da resposta se é que
houve alguma.
“Alfredo segura bem esse menino!”
O meu pai encolhia os ombros e sorria para mim como quem diz: mulheres… hoje eu entendo! Por vezes num assomo de boa vontade e ainda antes do jantar, uma voltinha nos carrinhos de choque. Tinha de ser àquela hora pois ainda andava pouca gente. Mais tarde, às horas de ponta, a violência aumentava e a pista tornava perigosa a viagem.
Tudo era tão maravilhosamente
divertido.
Uma vez, o meu pai atrasou-se lá no armazém onde fazia uma contabilidade, fora de horas, e recebia mais algum, mas não quis estragar a ida já prometida de véspera, telefonou à minha mãe a combinar, ela foi comigo no autocarro do costume e quando chegámos os dois ainda esperámos uma eternidade, a mim pareceu, pelo meu pai que, finalmente, apareceu do outro lado já de bilhetes na mão, um sorriso de orelha a orelha, e um embrulho enorme de papel pardo em forma de triângulo, debaixo do braço.
Beijinhos na mãe, beijo em mim e a
minha mãe logo:
“O que é isso?”
O meu pai sorridente:
“Olha, deram-me um bacalhau, lá no
armazém!”
A minha mãe em tom de censura:
“Então e agora? Vais andar de
bacalhau debaixo do braço aqui na feira?”
O
meu pai contemporizador:
“Ó filha, não faz mal nenhum. Passamos a ser quatro e este tem vantagem. Também não paga bilhete!”
A
minha mãe acabou com um sorriso menos amarelo num murmúrio…
“Tens
cada uma!”
Era
assim o meu pai.
O “Water Shoot” lá estava à nossa espera. A fila já era grande mas um pouco de paciência para parecer menos eternidade. Sentámo-nos os três no banco da frente e o bacalhau à frente, entalado entre as pernas do meu pai. Não sei se no banco de trás ia alguém mas, para o caso, não faz diferença. Começamos a deslizar nos carris, devagarinho e aí está a primeira subida, ligeira, e no alto até parece que tudo pára antes da vertigem da descida.
“Esta ainda não é má…”
Dizia a a minha mãe que sempre temerosa não gostava sobretudo da última. Uma ligeira volta para a esquerda e eis a segunda subida mais pronunciada com, de novo, aquela sensação de que lá no alto o carro podia voltar pelo mesmo caminho. Mas logo se inclinava para uma descida mais veloz ainda do que a primeira…
Ups!!! Estômago a subir pelo peito acima e nós a descer por ali abaixo rumo á curva antes do charco. Cachapuz, pás, blaz, enorme onda para dentro do carro talvez por ir mais pesado à frente e ficámos mais, mas mesmo muito mais, salpicados que o habitual. Ouve-se então a exclamação da minha mãe, sublinhada com um ataque de riso:
“Ó
Alfredo que molhaste o bacalhau todo!!!”
E
o meu pai, bacalhau entra as pernas com as calças e o embrulho encharcados.
“Olha
deixa lá! Já está demolhado…”
Era
assim o meu pai!
O regresso a casa era sempre motivo para uma pedinchice muitas vezes satisfeita mas algumas negas que “por hoje, já chega!” e eu lá me convencia! Mas o sono tinha sempre carrosseís, carrinhos de choque e “water shoots” que duravam até de manhã!