8 de fevereiro de 2024

ONDE COMEMORAR O CARNAVAL EM PORTUGAL

TORRES VEDRAS, desde 1574.

Os desfiles extravagantes, gigantones apelidados de “cabeçudos”, “matrafonas” e “Zés Pereiras” e toda a atmosfera teatral, fazem deste destino uma escolha excepcional para quem procura uma celebração vibrante e cheia de alegria.
Em 2022, o Carnaval de Torres Vedras teve importante marco de ser considerado Património Cultural Imaterial.
O tema este ano é “Carnaval do Futuro” e as festividades começam já amanhã.

OVAR, desde 1952
Este carnaval destaca-se pela dedicação artística da comunidade local é um dos principais eventos da zona centro norte, poderá contar com elaboradas máscaras e fantasias que tornam os desfiles um espetáculo visual deslumbrante, unindo o melhor das tradições portuguesas e brasileiras.
O Carnaval de Ovar é constituído integralmente por voluntários do município e tem como atracção principal três Corsos Carnavalescos, compostos por mais de 2.000 figurantes.
Tal como em Torres Vedras, em Ovar temos também um “Rei” e uma “Rainha” do Carnaval, títulos atribuídos sempre a munícipes da região. As festividades oficiais começam no dia 9 de fevereiro, mas desde meados de Janeiro que já se pode “brincar ao Carnaval” na região, com um programa de atividades recheado.

LOULÉ, desde 1985
oferece uma experiência carnavalesca “quente”, sendo o carnaval que mais se assemelha ao carnaval do Brasil. É um dos principais carnavais de Portugal, contando com carros alegóricos e mais de 600 figurantes, prontos para levar a folia e alegria às ruas.
As festividades acontecem no sábado, domingo e terça feira.

ESTARREJA, desde 1897
É uma festa de cor e vivacidade. Foi no início da década de 80 que foram introduzidos os desfiles exclusivos para crianças e os grupos de folia, assim como o samba, que trouxe nova vida à celebração. Os concertos, desfiles das escolas de samba e os carros alegóricos cativam qualquer pessoa - de qualquer idade -, o que torna esta cidade num ponto de celebração animada durante a temporada carnavalesca. Em Estarreja, os foliões já andam a comemorar, pois as festividades começaram no início de fevereiro.

MEALHADA, desde 1971
O Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada cresceu e contou com a participação de actores brasileiros famosos, além da criação de escolas de samba e da Associação do Carnaval da Bairrada.
Este, considerado como um Carnaval luso-brasileiro, oferece uma fusão única entre tradição e folia e é palco de muito samba e desfiles, onde é dado um protagonismo especial às quatro escolas de samba: Amigos da Tijuca, Batuque, Real Imperatriz, Sócios da Mangueira.


PODENCE
Macedo de Cavaleiros é conhecida pela sua a tradição ancestral “Caretos”, que ganha vida durante o Carnaval. Estes, que são Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, são as figuras principais do Carnaval, com trajes coloridos e chocalhos, que percorrem a aldeia fazendo barulho e perturbando as pessoas. Eles representam os excessos e a alegria permitidos nesta época do ano. O evento inclui casamentos fictícios e uma cerimônia de Queima do Entrudo Chocalheiro vai animar as ruas da vila e protagonizar uma festa única, cheia de simbolismo e folclore.


SINES, desde 1926
Durante cinco dias, a cidade de Sines enche-se de uma atmosfera descontraída e festiva, que leva milhares de pessoas à rua. O Carnaval de Sines contará com desfiles, bailes, noites temáticas e a tradicional Noite da Matrafona. Haverá, ainda, uma mostra sobre o Carnaval no Centro de Artes de Sines. A festa é organizada pela Associação de Carnaval de Sines, e o apoio da Câmara Municipal.


SESIMBRA, desde 1976
Destaca-se pelas suas celebrações à beira-mar durante o Carnaval. Aqui, festeja-se uma tradição antiga do carnaval: as Cegadas. Esta tradição consiste em grupos de homens que, acompanhados de uma guitarra, cantam alguns dos acontecimentos mais marcantes da actualidade. O programa inclui, ainda, animação noturna, o Enterro do Bacalhau, e festas em bares e restaurantes, e os desfiles de sambistas e muita animação de rua.


FUNCHAL (desde segunda metade de séc. XVI)
O Carnaval na ilha da Madeira, é grandioso e exuberante. Tem como destaque dois desfiles: o Alegórico e o Trapalhão. O desfile alegórico, considerado o mais importante e sofisticado, conta com grupos de samba e trajes coloridos, enquanto que o desfile trapalhão é mais descontraído, onde qualquer pessoa pode participar com disfarces. Ambos os desfiles terminam na Praça Municipal, onde há mais entretenimento.
O Funchal proporciona uma festividade única, e transforma as ruas num espetáculo de cores, emoções, imitações e figuras satíricas. Dizem que a vida são dois dias e o Carnaval são três mas, na Madeira, são duas semanas.
Divirtam-se!

7 de fevereiro de 2024

ESTA LISBOA QUE EU AMO - PARTE 3


AV. ÓSCAR MONTEIRO TORRES 66 1ºE
Freguesia S. João de Deus Distrito e Concelho de Lisboa




Com a morte prematura do meu avô Adriano, cancro no pâncreas e a ida do meu tio Reinaldo para Sever do Vouga, a avó Judite e a tia Cita ficariam sós no rés-do-chão da rua Angelina Vidal (é certo que ainda lá ficava o meu primo João, filho da tia Cita, que doze anos mais velho em breve se casaria). Um ano depois da partida do meu tio para o norte, a decisão que não sendo minha iria mudar a vida de todos, principalmente a minha.
Juntar a família! Concordaram todos que seria boa solução mas para a concretizar esse era necessário apartamento maior. Rumavam todos os sábados para os lados do Areeiro, Praça de Londres, avenidas João XXI e de Roma e bairro de Alvalade.
Casas espectaculares de construção mais recente, já sem os tais quartos interiores, quartos de banho completos, boas cozinhas e salas, amplas janelas, para avenidas largas e arborizadas.
Vinham sempre encantados! Depois de muitas horas gastas a calcorrear praças, avenidas, alamedas e ruas, ler anúncios no Diário de Notícias, no número 66 num prédio de gaveto da avenida Óscar Monteiro Torres, viram uns escritos no primeiro andar esquerdo.
Resolveram tocar à campainha da casa da porteira que logo atendeu. Perguntas para aqui perguntas para ali, quanto à renda nada de novo, eram os mesmíssimos mil cento e dez escudos e a casa estava para vagar pois o inquilino tinha falecido e a viúva resolvera ir morar com o filho que estava para o Algarve e assim chegara a acordo com a senhoria para deixar o apartamento
no prazo de dois meses. Que já havia um casal interessado mas isso só falando com a senhoria! O meu pai e o meu tio perguntaram se havia possibilidade de ver o apartamento e a porteira que sim que a senhora não estava pois tinha ido passar uns dias a casa de uma prima mas tinha a chave, justamente para permitir aos interessados verem a casa, que era muito boa, excelentes divisões,
três grandes quartos, um com uma pequena casa de banho,
outra casa de banho completa que era um salão, uma boa sala
e uma sala de jantar enorme, duas boas despensas,
isto ia dizendo a porteira enquanto subiam ao primeiro andar
Encantamento geral!
E, depois ainda havia algo mais a acrescentar.
A zona já de si com muito comércio, no prédio as lojas: um talho, uma peixaria, um lugar de frutas e legumes, mais um sapateiro,
uma loja de mobílias e uma taberna. Próximos dois cafés e uma pastelaria, mais na avenida de Roma logo ali, várias lojas de modas e sapatarias, duas relojoarias e ourivesarias e uma loja de discos e instrumentos musicais de Valentim de Carvalho, para o qual o meu avô Adriano trabalhou tantos anos.
Coincidências!
Despediram-se da porteira, agradecendo. Trocaram contactos,
a porteira entregou-lhe um do senhorio, um tal João Labrincha,
O meu tio garantiu que viriam também as irmãs para ver também o apartamento.
Segunda-feira, seis horas da tarde!
De novo, tocar á campainha da casa da porteira que parecia não estar. Mau! Insistência. Uma, duas vezes, a segunda prolongada. Um rapaz meio ensonado abre a porta:
“Que é?”
O meu tio:
“Ah! Desculpe. A senhora porteira não está?"
O outro num abrir de boca desleixado:
“É a minha mãe: mas está no segundo direito no senhorio.”
O meu tio:
“Ah! É que era por causa do andar que está para alugar… já cá estivemos no sábado e ela mostrou-nos o andar”
O outro:
“Mas, os senhores toquem no segundo direito e ela atende-os. O nome é Celeste.”
Tudo bem. Adeus. Fechou a porta com o mesmo ar ensonado.
Segundo direito! Subiram mais um andar, segundo direito, ouviam-se vozes de crianças e um aspirador a trabalhar e um cão ladrou junto á porta. Tocaram. Uma. Duas vezes. Um miúdo magro e moreno abriu (deve ter a idade do Mário Jorge, comentou a minha mãe) e ouviu-se uma voz feminina de dentro.
“Ó Celeste vá vem quer é, por favor!”
Já porta aberta com o miúdo e um pequeno rafeiro castanho no hall e o meu tio e os meus pais no patamar, aparece a Celeste em passo de corrida.
“Ah! Desculpem, até deixei o aspirador a trabalhar… este menino…
menino João José estou fartinha de lhe dizer para não abrir assim a porta sem se saber…Ah! São os senhores! Boas tardes!”
O meu tio:
“Boa tarde! Pois, o prometido é devido… trouxe a minha irmã desta vez… porque estamos realmente muito interessados…”
De dentro a mesma voz feminina:
“Quem é celeste?”
“São aqueles senhores, que eu falei á senhora, interessados, no primeiro andar.”
“Mande entrar para o escritório que eu vou já.”
Entraram perante o olhares observadores do miúdo e do cão.
“Sentem-se. É só um momento que a senhora já vem.”
Enquanto esperavam não trocaram palavra. Limitaram-se a olhar em redor. Mobília antiga em pau santo de torcidos e tremidos, secretária, estante,
cadeira de braços e mais duas cadeiras sem e um sofá grená de dois corpos. Carpete de Arraiolos. Nas paredes pequenos quadros com motivos marítimos. Quando a senhora apareceu á porta da sala, a surpresa de todos os quatro não podia ter sido maior.
O meu tio e a minha mãe em uníssono.
“Mas és a Ivone…?”
Ela ficou especada com não menor admiração à porta do escritório.
“Olha, o Reinaldo… e a Olga e o... Alfredo?”
E, foi assim que voltaram a encontrar-se 20 anos depois do último ano em que passaram férias na Trafaria, O meu tio e a D. Ivone ainda tiveram um namorico de férias.
É claro que durante o primeiro quarto de hora se falou de tudo e mais alguma coisa menos do andar que estava para alugar.
Depois, quando finalmente regressaram ao assunto principal foi fácil fechar o negócio.
Passado dois longos meses, a mudança fez-se!
E a minha vida mudou com a mudança!
(Coisas que contarei nas 4ª e 5ª partes desta Lisboa que eu amo)

Notas: Na foto de cima, o 66 é o prédio mais claro e segundo da esquerda; na de baixo, após obras ficou rosa! 


4 de fevereiro de 2024

ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 2

 


ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 2

AVENIDA GENERAL ROÇADAS, 97 1º ESQ.
Freguesia de Penha de França. Concelho e Distrito de Lisboa
E, eis-me chegado numa tarde de Setembro de 1950. Daí a dois meses completaria dois anos e dizia a minha mãe que fizeram duas festas numa. A minha de anos e a da mudança de casa. Casa nova, vida nova. A estrear. Mobílias novas. Até tinha casa de banho com banheira e tudo. Para a época, uma novidade. Era tudo mesmo novo. Nas traseiras, um pequeno quintal com uma nespereira que dava nêsperas e para o qual se descia por uma escada de ferro.
Quarto espaçoso. uma janela enorme e a cama dos meus pais e a minha cama que tinha umas grades e eu não gostava nada mas punha-me de pé e aos gritos quando, de manhã, acordava e queria saltar para a cama deles. Às vezes tinha sorte e lá vinham os braços do meu pai segurar-me o anunciado voo!
Comecei a perceber também que ao domingo ia no carrinho, passeio fora, almoçar a casa da minha avó paterna, na Penha de França mesmo em frente à Vila Cândida, onde o meu pai, os meus tios e a minha mãe tinham feito a instrução primária na escola da D. Albertina. Era mesmo ao fundo da nossa rua, ao lado do Cine Oriente que ainda hoje existe.
Depois, jantar a casa da avó materna que era um pouco mais longe depois de passarmos o Largo de Sapadores e descermos um pouco a rua Angelina Vidal.
Foi uma infância muito feliz.
Foi quando percebi que não era o Menino Jesus que me dava as prendas nos Natais porque o Leitão meu colega de carteira na primária, quando nesse Natal disse que o menino Jesus me ia dar um um carro eléctrico se fartou de rir, "és mesmo parvo! disse-me ele, é mas é o teu pai. O Menino Jesus não existe! A segurança com que ele disse aquilo fez-me questionar a minha mãe e ela acabou por confirmar o Leitão mas ainda me disse que o Menino Jesus existiu sim, e quando homem, uns soldados romanos pregaram-no numa cruz como a que estava na Igreja que existia perto de casa da avó Judite.
Com ou sem Menino Jesus, lá tive o meu triciclo com o qual fazia autênticas gincanas pelo corredor com volta pela sala de jantar e meta na cozinha, algumas vezes com a minha mãe assustada com a velocidade do sprint final; também tive um cavalo extraordinário de papelão e cauda de estopa amarela que faleceu no quintal da minha avó, depois de uma tempestuosa noite de inverno; comecei a aprender a ler ensinado pela minha mãe; depois de ter começado a fazer ginástica no Lisboa Ginásio, passei a experimentar sessões domingueiras de cambalhotas, com o meu pai em competição comigo, por cima da cama grande, perante o ar desaprovador da minha mãe que queria era ajuda para fazer a dita; brinquei, pela primeira vez, aos casais, com a Teresinha, a minha vizinha do lado que teria mais dois anos do que eu; tive o meu primeiro quarto e os meus primeiros trabalhos da escola; conheci o meu primo Zé Francisco e as minhas primas Teresa e Rosarinho com quem passeei muitas tardes no miradouro da Penha de França; e fui pela primeira vez à Feira Popular no que é hoje o espaço ocupado pela Fundação Gulbenkian à Praça de Espanha.
É claro, uma longa lista de eventos durante os 7 anos que vivi ali; mas fico-me por aqui porque na parte 3, explicarei como a minha vida voltaria a mudar. E tão radicalmente que para além da família se ter reunido num apartamento junto à avenida de Roma, onde conheci os amigos de toda a vida, e encontraria uma terra chamada Sever do Vouga... a história da minha vida parecia ser de mudanças permanentes e não é que foi?
NESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 3 - DE MALAS AVIADAS RUMO ÀS AVENIDAS NOVAS
NOTA: para não variar, no Google, lá está na Av General Roçadas, o prédio onde morei, o penúltimo do lado esquerdo da foto defronte do edifício isolado, à direita, a escola comercial Nuno Gonçalves.

ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 1

 


ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 1

RUA GUALDIM PAIS, 12 - Freg. de Xabregas.
Concelho de Lisboa e Distrito de Lisboa.
Foi aqui que vivi durante o primeiro ano de vida.
Os meus pais moravam aqui desde Outubro do ano anterior (1947) quando se casaram.
O meu pai ia a pé para o trabalho. Mas a minha mãe, ficava longe da Graça e da Penha de França onde as minhas avós moravam e as três amigas de infância. Para as ir visitar, a minha mãe apanhava dois elétricos: um até à praça do Chile e um outro que descia a Almirante Reis, subia aos Anjos até à Graça.
Em 1947.ainda era raro haver telefone em casa e ter automóvel, um luxo. O fim da guerra, a crise dos combustíveis dificultava a 'vida' aos transportes públicos a gasolina.
Por isso, quando eu nasci, os meus pais pensavam em mudar-se.
A minha mãe, nunca gostou da noite e ainda menos de estar só em casa, com a encosta do cemitério do Alto de S. João a ver-se da cozinha.
Mas os alugueres eram caros e havia que dar sinal aos senhorios, em dinheiro, por vezes bem 'gordo'.
O meses de Fevereiro e Março de 1949 foi um mês muito chuvoso, em Lisboa foi de grandes cheias e como a Rua Gualdim Pais fica na baixa de Xabregas, o local ficou quase totalmente submerso.
O meu pai teve de ir para o trabalho, não a pé como habitualmente mas de barco, como muitos dos vizinhos. E, a minha mãe teve de abrigar em casa, além de mobílias e outros haveres da família que morava no rés do chão, enquanto as águas não baixaram e a casa ficou habitável.
Estes acontecimento apressou a mudança, em Setembro de 1950, depois das férias, para um local incomparavelmente melhor:
1º andar esquerdo no número 97, prédio novo, na avenida general Roçadas junto à praça Paiva Couceiro defronte da escola técnica Nuno Gonçalves e tão perto dos meus avós que podíamos ir a pé visitá-los... quem deixou de andar a pé foi o meu pai que passou a ir de autocarro para o trabalho!
Tenhamos uma excelente noite!
Rua Gualdim Pais, o 3º prédio foi onde vivi.

11 de dezembro de 2023

HÁ NOVE ANOS FOI ASSIM

 Vou passar a chamar ilha a este lugar,

embora não veja o mar.
Tem uma colina com pinheiros bravos,
tão altos e esguios
que dançam lentamente ao som do vento norte.
Tem jardim com corolas de mil cores
e as rosas de Alexandria
que exalam o perfume das essências raras.
Tem campo de mirtilos até onde a vista alcança
onde o Sol se deita, ao fim da tarde
como se fosse linha de horizonte
e tem o silêncio que as ilhas têm.
Mas, quando amanhece
e a luz entra pela janela do quarto
uma vigia de barco ancorado
e olho os campos, em frente,
verdes, verdes, verdes...
é então que oiço o mar!
(MJS, in Descritiva Mente, 2014)

E foi assim que a 10 de Dezembro de 2014 se concretizava um regresso às origens pela parte da Dalita e um regresso definitivo (também) a um local onde fui feliz.
Onde encontrei a mulher da minha vida, ela que me atura desde 1965 e que depois deste tão longo caminho percorrido, tempo que parece ter passado tão depressa, é neste paraíso que gostaria de passar serenamente ao seu lado, o resto que falta... apesar da tal doença que alguns ainda teimam em chamar prolongada com cerimónia, para não chamar cancro, que é na realidade o que isto é, um "cancro"!
Com esse lido eu enquanto tiver força e paciência e ela me acompanhar, ela que nunca me abandona mesmo quando também eu lhe sinto o cansaço.

Ao longo de décadas, escrevi textos, poemas, crónicas, folhas que do branco se transformaram em suportes de rabiscos que já deram quatro livros e mais um que será editado em breve, talvez ainda este ano e uma dúzia de cadernos que de vez em quando trago da estante para a cabeceira da cama para reler, emendar, inventar, gatafunhar por um ponto ou dois, a vírgula que pode, com o andar do tempo, modificar o sentido da frase mas não a intenção com que foi "dita"!
E depois quando as luzes se apagam e fica aquela mancha na parede do fundo do quarto, projectada da estrada pelo candeeiro mesmo em frente e vejo ao meu lado, num sono tranquilo, o vulto dela que me acompanha há 58 anos e um trimestre desde que numa noite de Setembro abriu o baile comigo ao som do "Tombe la Neige" do Adamo que já só poucos saberão o que é, sinto enorme e tranquila felicidade porque sendo a felicidade um objectivo inalcansável, tem no longo caminho tantos momentos como este em que nos sentimos genuinamente felizes.
Obrigado!

Nove anos. E tanta coisa já aconteceu nesta ilha.
Aqui estamos...

29 de novembro de 2023

 ELA ERA LIVRE no seu estado selvagem

Uma nómada como gota d' água solta de tudo
Não pertencia a nenhuma tribo
Nem a nenhum homem
Nem a nenhuma cidade
Ela era uma guerreira
Uma mistura perfeita de sensível e selvagem
Ela era poesia...!

23 de novembro de 2023

JÁ DESESPERO DE TANTA ESPERA

 JÁ DESESPERO DE TANTA ESPERA

Toda a noite numa noite sem céu nem lua
Adormeço por fim -ai de mim - numa luta
E volto já dia numa esperança
De que apareças na outra ponta da rua
Que subas as escadas até ao segundo
E num segundo me enlaces sem tardança
Enquanto eu me deixo ir na dança
Completamente nua!

20 de novembro de 2023

 O AGORA NÃO EXISTE!

O que existe é o momento que já passou.
Quando olhamos o relógio,
já o tempo não é o tempo marcado.
Já passou a sexta feira
passaram sábado e domingo.
Já passaram semanas e meses.
Já passou a Páscoa.
Já passaram os banhos de mar.
Já passaram os fins de tarde
Já passou o teu beijo incendiado
Já passou aquele teu sorriso no olhar
Já passaram mil e uma noites de luar.
Já é Natal outra vez.
O ano já passou de ano.
Já passaram décadas.
Já passou uma vida.
Já passou uma eternidade.
Já chegou o tempo da saudade.
O agora não existe.
O que existe é um bater de asas
um voo de ave de rapina
que nos leva nas garras
o tempo...
(MJS, "Poesia de Emergência", 2023)
PS. Inspirado no Mário Quintana e num dos seus mais famosos poemas "Tempo".




UM MISTÉRIO QUALQUER

 Há aqui um mistério qualquer.

Afinal por onde anda o Sol se devia estar por aqui?!
E não está em lado nenhum...
Nem a resvalar pelas águas do telhado.
Nem pousado na clarabóia do quarto.
Nem pendurado em nenhuma das janelas da sala.
Nem a bater à porta a incendiar o mercúrio do termómetro.
Nem a espreitar entre a macieira e a chaminé da casa do forno.
Fugiu da via láctea, para os confins do universo.
e deixou-me a olhar o céu triste
com um pressentimento perverso.

30 de outubro de 2023

“ADORO VOAR”

 

Expulsei pessoas que amava de minha vida, mas arrependi-me.

Senti muito a falta de alguém, mas nunca lhe disse.

Gritei quando deveria calar e calei quando deveria gritar.

Escondi um amor com medo de o perder e perdi um amor porque o escondi

Amei pessoas que me decepcionaram e decepcionei pessoas que me amaram.

Em frente do espelho, por vezes, tento descobrir quem sou,

Segurei nas mãos de alguém com medo,

Tive medo, e foi tanto que nem sentia as minhas mãos.

Menti mas arrependi-me depois mas disse a verdade e também me arrependi.

Acreditei em pessoas que não valiam a pena e não acreditei nas que valiam.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns,

já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.

Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho e fico ali".

Já cai muitas vezes achando que não ia conseguir reerguer-me,

já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.

Já liguei para quem não queria só para não ligar para quem realmente queria.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram.

Algumas pessoas, nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.

 

Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir o meu coração!

Não me façam ser o que não sou, nem me convidem a ser igual, porque ninguém o é e eu não sendo diferente, sou diferente!

Não sei voar com os pés no chão!

Podem até empurrar-me do alto de um penhasco que eu vou gritar:

“E daí? Eu adoro voar!”