19 de maio de 2015

CARTA ABERTA À DIREITA

Direita,

Escrever-te é dizer-te o nome
desenhar-te o perfil,
abrir-te o rosto, destapar-te a fome
de rasgares do calendário o mês de Abril.

Escrever-te é arrancar-te a máscara inocente
silhueta branca de pomba
e mostrar-te nua, repelente,
tal como és feita de ódio, sangue e bomba.

Escrever-te é situar-te a traição
de cavalo de pau entre muralhas,
das calúnias nos jornais, propositadas gralhas,
gritar-te a falsidade do teu pão
do qual nos deixas apenas migalhas
e a violência fria das navalhas.

Escrever-te é ver-te entre nós, de regresso,
sempre mascarada de progresso
democracia e liberdade nas bandeiras
paz na boca, bombas nas algibeiras.
A esquerda estaremos nós, corpo e voz
com redobrado querer, cerradas as fileiras

Não só porque lutamos por nós
mas porque não te queremos, a ti.

( Premiado com o 3º lugar dos I Jogos Florais organizados pelo STCML Sindicato dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, 1979 )