“O diabo esteja a rezar enquanto o Carlos não chegar.”
Nunca gostei da noite.
Quando começa a escurecer, sinto-me mais só. Tenho arrepios,
Os prédios são paredes pardas, apenas, salteadas de pequenas luzes,
as árvores transformam-se em monstros de grandes cabeças,
os carros não passam de pirilampos em corrida
os carros não passam de pirilampos em corrida
e as pessoas deslizam como sombras.
Até que deixa de haver pessoas na rua
Até que deixa de haver pessoas na rua
e tudo fica deserto, num silêncio de cemitério.
Nunca gostei da noite.
E tu que sabes disso nunca apareces para jantar.
E tu que sabes disso nunca apareces para jantar.
às vezes nem para dormir
e eu fico aqui, à janela, nesta agonia,
até ser dia.
e eu fico aqui, à janela, nesta agonia,
até ser dia.
“O diabo esteja a rezar enquanto o Carlos não chegar”
A minha mãe é que me ensinou.
Punha-se à janela, eu muito pequenina, ao colo.
E dizia, e repetia e repetia e repetia, não Carlos
mas Joaquim, que era o nome de meu pai.
mas Joaquim, que era o nome de meu pai.
O resto, igual.
E, depois de algum tempo, o meu pai aparecia, a sorrir,
a minha mãe corria a abrir-lhe a porta,
a escancarar-lhe o coração,
a beijar-lhe a boca e as faces de alegria.
a minha mãe corria a abrir-lhe a porta,
a escancarar-lhe o coração,
a beijar-lhe a boca e as faces de alegria.
Nunca gostei da noite.
E tu que sabes disso, nunca apareces para jantar
E tu que sabes disso, nunca apareces para jantar
e eu não posso correr a abrir-te a porta,
nem escancarar-te o coração de alegria.
nem beijar-te de tanto te amar.
nem escancarar-te o coração de alegria.
nem beijar-te de tanto te amar.
“O diabo esteja a rezar enquanto o Carlos não chegar”.
Nunca mais chegas. Melhor assim.
Ai de mim.
Desconsideraste o meu coração.
Desprezaste o meu amor.
Nunca quiseste o meu beijo.
Tarde demais.Escusas de aparecer outra vez .
Ai de mim.
.
Os prédios defronte, continuam lá, paredes coloridas
As árvores do jardim com as copas fartas de verde..
As árvores do jardim com as copas fartas de verde..
Os carros na rua, devagar, numa fila interminável.
As pessoas nos passeios fazem-me companhia.
Ainda é dia.
As pessoas nos passeios fazem-me companhia.
Ainda é dia.
E tu chegas sempre. Nunca demoras,
Sempre a horas
Sorrindo, quando te abro a porta
Te escancare o coração numa alegria
te beijo sôfrega de amor.
Uma orgia.
Sempre a horas
Sorrindo, quando te abro a porta
Te escancare o coração numa alegria
te beijo sôfrega de amor.
Uma orgia.
Não é noite nem há dor
apenas este meu temor...
“O diabo esteja a rezar enquanto o João não chegar”.