23 de março de 2023

VIVER, VIVER, VIVER.

 

Um girassol à janela
O Sol a dourar a vida
O dia a iluminar monte
Um dia sem maus humores
Água fresca na fonte
Almoço pronto na panela
Rir como uma criança
Boas memórias dos tempos idos
Olhar com olhos de esperança
Ouvir uma palavra amável
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Rever uma velha amizade
Esperar alguém na estação
Ter uma surpresa agradável
Um aperto no coração
O par ideal, o gesto afável
Ao lado da pessoa amada
Lembrar histórias sem idade
Ouvir o canto da passarada
Um momento de claridade
Abraçados à beira mar
O disco vermelho no horizonte
Um céu de fogo invisível
De uma beleza terrível
O dia a acabar no monte
A noite de Lua iluminada
O jantar a dois no alpendre
O perfume a lavanda no ar
O queijo com marmelada
Vinho branco bem gelado
Uma saúde num beijo selado
O ombro sempre amigo
A cadeira de embalar
Um silêncio de noite suave
O Bolero a rematar
O húmido da noite a descer
Um cheiro a terra molhada
O desejo de amor a crescer
Um dia que valeu a pena
Viver. Viver. Viver.

13 de março de 2023

A VIDA É DE QUEM SE ATREVE A VIVER

 

Todos os dias, sem excepção, temos oportunidade de aprender e parte dessa aprendizagem é aceitarmos que há coisas que não se podem modificar. E sim! Há outras coisas que parecem vir do nada e tornam-se tudo ou quase tudo, nas nossas vidas.
Focamo-nos nelas como as mais importantes e vivemos com elas em momentos de angústia pelos danos que causam, momentos de esperança na luta por melhores dias e momentos de ultrapassagem que nos levam para além de nós onde arranjamos força, sabe-se lá onde para não desistirmos.
208 ossos, 650 músculos mais de cinquenta mil milhões de células.
Cabeça, braços e pernas. Olhos, nariz e lábios. Cérebro, coração, pulmões, estômago, fígado, rins... sabe tão bem chegar ao fim do dia e espalhar isto tudo numa cama e ficar com aquela sensação de paz garantida. E, acordar na manhã seguinte com o sorriso de bem estar para iniciar nova etapa. É tão medicamentoso e gratificante que tudo é mais leve na nossa vida.
Ideias à solta na minha agenda de Viver.
Também é saber esperar
A chuva passar
O vento amainar
O Sol chegar
O bom tempo aparecer
E levar-nos para onde o coração quer estar.
Acreditar
É ser capaz de continuar
Com um sorriso para dar
Mesmo que o chão se conheça incerto
E a subida no caminho pareça não ter fim.
Audácia.
Coragem, força desafiante e coisas maravilhosas.
Quando menos se espera.
Mas sem amor não as saberemos reconhecer.
Hoje, deu-me para filosofar.
À hora do jantar.
Um catálogo de ideias que até pode "saber a clichés" mas...
pode ser um "diário de vontades".

12 de março de 2023

COMUNICAÇÃO

  

Na idade da pedra lascada comunicar seria, talvez, à pedrada!

Porque não? Se pedra era o que havia mais à mão.

ou talvez à cacetada.

Num frente a frente, trocavam-se até uns murros.

De forma diferente, comunicava o homem de então.

Enquanto não aprendeu a falar, seria aos berros, aos gritos, aos urros.

Para abreviar a questão! Tudo era comunicação!

 

Mas, numa tarde de trovoada, quando andavam à pedrada,

saltou faísca de uma pedra; ou terá sido antes um raio(?)

Uma pequena chama se fez grande, enorme, de meter medo.

E não mais se apagou. Castigo dos deuses (está visto!)

Nunca vista por ali, tal coisa.

Abrigaram-se os homens nas grutas do medo,

bem como todos os outros animais

A fogueira poderosa não acabava. Chamas. Labaredas,

Um enorme calor

Estava tudo a arder que era um pavor,

Era preciso fugir. Quem não quisesse morrer.

Mas, passado algum tempo, houve quem descobrisse a solução.

Um pequeno tronco, um ramo a arder, bem seguro na mão

Dominar o fogo, descobrir-lhe utilidade. Um archote,

E o homem acabou com a agitação!

Subiu aos altos dos montes e nasceram mais fogueiras,

Iluminou-se a noite de outras maneiras,

Sinais de fogo, sinais de fumo…sinais e mais sinais…

e das paredes das grutas saíram linhas simples, desenhadas

Arcos, flechas, lanças, humanos e animais, riscos, traços,

Desejo de comunicar a vida em toda e qualquer parte

A comunicação. E hoje chamamos-lhe arte.

Pedras para riscos, pedras para escrever,                                                                 

pedra roseta, tábuas de madeira, papiros, pergaminhos.                                          

Símbolos simbolizados por letras, códigos, alfabetos,                                      

Palavras, frases, ideias, como se fosse alguém a dizer

Para toda a eternidade! Para sempre, sem nunca morrer!

Oh! Cheira aqui a queimado. Há um fogo por dominar!

Tocam os sinos a rebate. É preciso comunicar!

Vai gente a correr pró combate. É preciso apagar…

 

E eis que chegou o papel!

Bibliotecas do saber, a informação, folhas e mais folhas,

Textos e mais textos, livros e mais livros, cadernos, revistas, jornais,

Árvores que ardem, árvores que se abatem, árvores que morrem.

Árvores que se transformam em livros, cadernos revistas, jornais,

Saber ler. Saber ouvir. Saber escutar. Comunicar.

Sempre a comunicar.

 

Telefone. Telégrafo. O cinema aprende a falar.

A voz. O som. A Imagem. A rádio. A televisão.

O satélite no espaço a girar. Dispara-se um foguetão.

“Dabliu”, “Dabliu”, “Dabliu”.

A tontura do progresso para além da imaginação

A vertigem da velocidade, chegou a globalização!

Esta coisa de ser chique. Tudo à distância de um clique!

A notícia em directo, o acontecimento antes de acontecer

Pode ser um grande sucesso ou uma enorme catástrofe

Smartphone, iphone, tablete, comunicação até mesmo na retrete.

Conversa, email, livro, jornal, realidade ou fantasia,

Cada vez mais virtual, no nonassegundo, pelo éter

Amor, paixão, amizade, crise do coração,

Ler, escrever, conversar, apostar, dizer bem e dizer mal.

Nem bem, nem mal, nem coisa e tal, antes assim.

E a estranha sensação de que quanto mais informados estamos,

Mais sós nos sentimos, mais virtuais nos transformamos

E menos comunicamos."

 

( Mário Jorge Santos, in “Memória Descritiva”, 2019 )