10 de setembro de 2022

AH! MEU GRANDE SETEMBRO (II)

Antigamente – mas mesmo muito antigamente –

Quando eu era menino e moço

Havia verão em setembro! Mas verão a sério!!!

Respeitava-se as estações do ano, caraças!

Gostava de ouvir agora o Vivaldi a compor as quatro estações.

AH! Deixa-me rir!

Devia ficar daquelas atrapalhações de sons arrepiantes

Dessincronizados que às vezes a gente finge que sim

E depois chama… música… música quê???

 

Mas, que dizia eu?

Ah! Sim, meu grande setembro, pois claro.

Ia de férias para Sesimbra, à confiança.

Sol em grande, todos os dias.

Água boa, quase quente, todos os dias.

Passeios pela areia à beira mar,

à beira do coraçção,

à beira da paixão,

à beira do namoro de férias que se interrompia

e voltava no ano a seguir!

Aquilo sim era verão!

 

Então e agora?

Agora o que é? Grande setembro?

Um abalo sísmico na Conchichina

Estremece tudo por ali fora da Japão à China

O norte de África, um vulcão numa ilha qualquer do pacífico

Chovem cinzas, chovem ventos de cor amarela

Se não chove é logo uma seca

Se chove é logo enxorrada

Mais uma tempestade de fogo

Uma floresta queimada

E uma onda de calor, antes de um frio de rachar.

 

Há por aí, uns senhores, que vivem pendurados em satélites

E que dizem que não temos “setembros”

- que eu não tenho setembro –

Porque demos cabo do clima!

Pronto, pois será. Estragámos a porra do clima!

E depois? E agora?

Então não há ninguem que conserte isto?

Atenção, ainda anda por aí muita gente apostada em continuar a estragá-lo!

 

É por isso que o verão, tal como a primavera, o outono e o inverno

Andam todos emaranhados e já ninguém sabe ao certo se,

quando dizem que estamos no verão

se vamos à praia, apanhar um resfriado

ou levar com um escaldão!

E se clamamos “isto está uma seca!!!”

Se vamos morrer de sede, se ainda se fica afogado!

 

E, é por isso que o verão resolveu mudar de sítio

E também já não passa o tempo todo em Sesimbra,

Nem em lado nenhum…

 

…nem em Setembro que era o lugar do calendário

Em que as férias eram grandes  e sabiam sempre a verão!

 

  

3 de setembro de 2022

AH, MEU GRANDE SETEMBRO!



Aqui na Ilha, só vejo aviões quando há fogo nas redondezas e os "canadairs", normalmente aos pares, vão abastecer à albufeira da barragem de Ribeiradio, para os lados de Couto Esteves, numa extrema do concelho.

Mas, quando estou nas Colinas do Cruzeiro, em casa do meu filho Hugo, ali para Odivelas, na varanda do sexto andar, vejo os aviões nascer do topo de um dos prédios da colina em frente, muito longe, parecem brinquedos a que lhes falta os dedos da mão de uma criança a segurá-los na barriga e a voz infantil a imitar o ronco dos reactores. Depois, dão uma volta grande, para a direita, rumo ao infinito e acabam por desaparecer no meio do azul.
Mal um desaparece e logo outro nasce no telhado do prédio.

Quando era miúdo gostava de ver os aviões - qual é o miúdo que não gosta? - e então ia com o meu pai ao aeroporto ver os "Super Constelation" , os 'Lockheed" e os "Caravelle".
Havia uma esplanada no cimo do edifício principal, o meu pai sentava-se a ler o jornal e a tomar o café enquanto eu bebia a laranjada e comia um pastel de feijão, sempre preferido, e lá estavam enormes na pista e depois que se elevavam no céu iam diminuindo até ficarem do tamanho de um que tinha no quarto em cima da estante. Depois, como hoje aqui da varanda, sumiam no meio do azul.
Voar também, em Portugal, teve adeptos muito cedo. Natural de Viseu, Severo Prudêncio, barbeiro, astrólogo, mestre de primeiras letras e com "carta de sangrador" passada pelo Hospital de Santo António, construiu umas asas de pano e a 3 de Setembro de 1540, teve permissão do senhor Bispo para se lançar do alto da torre da Sé de Viseu. Mas, falhou o objectivo de aterrar no Campo de São Mateus. Chegou a pousar no telhado da capela de São Luís, já em grande aflição mas um golpe de vento acabou por o atirar para a rua. E acabou perdendo a vida
Alguém provavelmente céptico ou demasiado crente, dizia que se Deus quisesse que o homem voasse, tinha-lhe posto umas asas.
Talvez...
Também na Grécia Antiga, Ícaro, o filho de Dédalo é comumente conhecido pela sua tentativa de deixar Creta voando — tentativa frustrada numa queda que culminou na sua morte nas águas do mar Egeu, mais propriamente na parte conhecida como mar Icário.
Outra versão é que Ícaro terá feito a sua tentativa voando com asas de cera e conseguiu ir até tão perto do Sol que o calor derreteu-lhe as asas e o pobre rapaz caiu. Vou mais pela versão do mar...
A propósito, já não é a primeira vez que sonho que consigo planar e penso que é comum a muitos sonhadores. Parece que pode ter muitos significados, mas representa, normalmente, domínio sobre si próprio e a felicidade num momento próximo de vida.
Assim seja!