3 de dezembro de 2019

UM DIA

UM DIA DESCOBRIMOS
que esta insuficiência do tempo que vivemos
se deve, apenas, ao tempo que despediçámos.
Sem fazer o que podíamos ter feito
sem dizer o que devíamos ter dito
sem amar o que podíamos ter amado
sem sonhar o que devíamos ter sonhado.
Um dia descobrimos
que esta insatisfação do tempo que vivemos
se deve, apenas, ao tempo que existimos sem viver.

TEM DIAS

Tem dias em que gosto de estar comigo
outros, em que nem me quero encontrar
só para não ter de me falar!



Por que motivo, às vezes, me dá vontade
de começar a escrever uma história diferente
da que tive contigo?
Uma versão inventada
que nem sei se é melhor que a real
mas apenas uma fuguração do que te oiço dizer
algumas vezes, num tom recriminatório
outras, como se tivesse valido a pena.
E, depois, percebo que estou a desenhar
a história que tu desejavas que tivesse sido
e não foi.
Rasgo a folha e aperto-a na mão, numa bola
e atiro-a para o caixote
como um pedaço de vida amarrotada
como se me desfizesse de uma mentira
que me afronta.
E recomeço a escrever uma história que se veste
com as palavras que nunca me disseste..

28 de novembro de 2019

DESENCONTROS

NÃO SEI QUE INCERTEZA NO ROSTO
que indisfarçável nuvem no olhar
que timidez escusa no gesto da mão
que tremura na linha fina dos lábios
que embargo no silêncio das palavras
Foi sempre assim, nos nossos encontros
parecia haver uma inevitável despedida.
Nunca estivemos aqui os dois.
Paradoxalmente, não paro de te encontrar
e de reviver momentos passados.
como se alguma vez tivéssemos estado
neste cais de moliceiros a desaguarem turistas
nesta esplanada azul de mesas enfeitadas com gelados
nesta ponte que atravessa o canal,em frente à Capitania
neste largo de palmeiras e floreiras onde o Sol se afoga
ao longe, em cada fim de tarde, no meio do sal.
Não é nostalgia!
É uma espécie de transgressão, inviolável paixão
sempre adiada..

23 de novembro de 2019

UM CHÁ DE MÁGOAS

A minha mão magoada,
de tanta mágoa, já nada sente;
nem a tua pele macia e quente
nem as linhas do teu rosto, na ponta do dedo
nem a textura dos teus lábios, brilhando
nem pousa nas tuas ancas, gingando.
nem o teu seio, em tremura quase medo
de tanta saudade, já nada sente
nem fogo, nem frio, nem dor
a minha mão angustiada, dormente
gélida, jaz, incapaz de sentir amor.

A minha mão esfarrapada,
envelheceu tanto!
Resta um chá de mágoas, de pranto!

APENAS UM INSTANTE

Apenas um instante,
uma coisa de nada
um piscar de olhos
do tempo, uma fisgada,
afagar-te os cabelos,
ler-te os olhos,
tocar-te os lábios,
sentir-te o respirar.
ouvir a tua voz,
aquele teu suspirar,
apertar-te nos braços
segurar-te pela mão,
abrir-te o peito,
um beijo no coração.

Apenas um instante,
foi aquilo que senti
dizer-te,
que foi bom voltar a ver-te,
que nunca te esqueci!

14 de novembro de 2019

AO CAIR DO PANO

Às vezes só nos lembramos de certas coisas, mais tarde.

Passam dezenas de anos como se atravessássemos um quarto escuro 
e, de repente, acende-se uma luz.
E é como se estivéssemos a ver tudo, naquele momento.
Como se, realmente, estivesse a acontecer.
E, à medida que vamos avançando na idade 
e o que ficou para trás (no caminho) se vai tornando imenso, 
mais vezes essa visita do passado se recria em nós.
Somos assim.
Por isso, não adiantará a partir de certa altura, 
insistir para que se viva (apenas) o dia, o presente, o agora 
tentando à viva força afastar o passado do nosso caminho.
Não! Porque esse passado imenso virá, através de décadas, 
acender a luz no nosso presente.
É (também).disso que é feita a experiência de vida.

9 de novembro de 2019

AOS TEUS OLHOS.


Talvez tivesses sido sempre adolescência
Talvez tivesses vivido nessa ausência
sem te deixarem que fosses quietude
Talvez tivesses sido apenas aparência
sem te deixarem que fosses virtude
Talvez tivesses sido sempre ardor
Talvez tivesses sido sempre dor
sem te deixarem que fosses liberdade
Talvez tivesses sido sempre amor
sem te deixarem que fosses de verdade
Mas, aos teus olhos cor de mel e d' esperança
nunca puderam tirar o sorriso de criança
.
(MJS, memória descritiva, retratos)
Cinquentenário da sua morte, Agosto de 2012)

7 de novembro de 2019

ABANDONEI O SONO

Abandonei o sono na almofada

o beijo que demorei, um instante,
nos teus lábios ainda adormecidos
no teu rosto a saber a madrugada
olhar-te nos tempos já esquecidos
a saudade de uma nova alvorada


Pelo ar um cheiro a terra molhada
e um Sol mais perto e tão distante
sem calor nos raios amaralecidos
pelo chão, tanta folha magoada
que o vento trouxe de ramos perdidos
de árvores nuas em noite naufragada

Aqui começa mais um amanhecer
que a vida faz-se, dia a dia, acontecer.

6 de novembro de 2019

AINDA ANTES DO JANTAR

O homem veio devagar, detrás da coluna onde se encosta a máquina multibanco da praça da alimentação. Permaneceu de pé, numa indecisão pelo lugar. Havia muito poucas mesas por ocupar.
Reparei nos braços pendentes, ao longo do casaco já gasto pelo uso, a camisa de padrão incerto e as calças de um azul encardido deixavam de fora uns sapatos castanhos de onde tinham desaparecido os atacadores.
O olhar triste e vago, a face mais marcada pela barba de trato descuidado realçavam o seu ar cinzento.
Havia três mesas alinhadas, uma delas tinha tabuleiros com restos abandonados à espera da senhora do carrinho que os viesse recolher. A senhora gorda e o rapazinho de óculos de aros grossos que a tinham ocupado ainda iam ao fundo perto da escada rolante.
O homem sentou-se na mesa do meio. A dos tabuleiros como se fossem o seu jantar. Adivinhei-lhe a intenção embora sem querer acreditar na inevitabilidade do que ia acontecer..
Entretanto a atenção foi-me desviada pois a fila onde estava à espera de poder servir-me, avançou tinha chegado a minha vez.
Uns três minutos depois, já de tabuleiro na mão, num gesto instintivo, virei-me e olhei para o local das três mesas junto à coluna. Afinal, havia duas mesas vazias.
Ele já lá não estava e os pratos estavam vazios. A senhora do carrinho da recolha de restos chegava. Quando comecei a andar de tabuleiro nas mãos, vi-o passar por mim. Mantinha o olhar baixo talvez menos cinzento do que quando o vi chegar.
Mas imensamente triste...

1 de novembro de 2019

TEMPESTADES

Em noite de tempestade
quem ouve canções?
para quê raios, clarões
se tudo é electricidade...
as estrelas em agonia
uma súbita ventania
e, de repente claridade
sem lua no céu imenso
um pesadelo mais intenso
uma última eternidade..

31 de outubro de 2019

YO NO LO CREO EN BRUJAS...

ESVOAÇANDO numa noite de bruxas, estou a lavar as mãos no lavatório do quarto de banho quando o espelho se agita à minha frente e um gajo com ar idoso sorri trocista. Espremo as mãos debaixo da torneira a fingir ignorá-lo mas ele:
(É contigo, pá! Já reparaste que vais fazer 71 daqui a nada?)
decido-me por encolher os ombros enquanto pronuncio com o ar mais despreocupado que consigo: "Então e depois?"
(Então e depois? Ó pá são 71, percebes? Não são 15 nem 20, nem sequer 30, vá lá 40! São 71, meu... uma vida, uma data de tempo...)
não entendo mas assim como assim, vou demorar a manobra de limpar as mãos à toalha para ver se apanho o raciocínio. "Pronto! Dia 18 do mês que vem faço 71 anos e depois? O que tem isso? A esperança de vida está a aumentar. Até não é nada de especial. Eu nem me sinto assim tão, tão ...tento manter o espírito percebes?" Oiço uma gargalhada trocista.
(Bem vejo que nalgumas coisas, pelo menos, não há maneira de envelheceres....deixa dar-te então um conselho. Se fosse a ti verificava, antes de te ires embora, se acertaste na sanita e já agora se fazes favor baixa a tampa...eu bem a oiço, refila contigo quando vê um pingo ou dois no chão e apanha sanita de boca aberta...vê se cresces!)
Apoiei as duas mãos no bordo do lavabo engolindo desaforos E não é que fui mesmo verificar? Antes de sair e apagar a luz, olhei, de lado, o espelho por cima do lavatório. Ele a olhar-me de lado. "OK! Distraí-me, esqueci-me, sei l,.já tenho quase 71 anos...porra!" Ouvi uma gargalhada de triunfo..
Apaguei rapidamente a luz para ele desaparecer e voltei para a sala onde a Dalita já se embrulhou na manta dos quadrados preparada para adormecer a meio da telenovela enquanto eu afivelo um imperceptível sorriso.
"Desta vez não me apanhas....#

25 de outubro de 2019

AINDA ANTES DO JANTAR


Olá, o que estás a fazer?
O jantar.
E o que vai ser, então o jantar?
Um poema…
Um poema... e tem alguma coisa para acompanhar?
Bem, vou juntar-lhe tempo...
e uma boa dúzia de pequenos carinhos, soltos mas bem temperados…
Posso ajudar-te?
Claro, podes passar-me aquelas palavras…
Quais?
As que estão por aí sem norte, desanimadas e frias. 
Paz, amor, felicidade, abraço, esperança. Já as viste?
E servem? Não estarão duras ou amargas? Há tanto tempo...
Um pouco de mel e cozedura lenta, já amolecem e adoçam..
Espera, não é preciso aquecerr primeiro o coração.
Queres?
Os dois, então. Fica mais gostoso...
Põe mais uns beijos…não deixes cair muitos de uma vez.
Está a ganhar uma bela cor. Que apetite...
Então pega no meu corpo e aquece-o,
Já podemos juntar tudo?
Espera. Falta juntar ternura quanto baste.,
Não sei se me restou alguma,
Agora basta que me tenhas e me queiras,
Junta um raminho de sonhos que a tua memória colheu
Cheira muito bem., Ah como é boa esta pitada de loucura.
Vou servir. Podes trazer o vinho
Tinto?
Claro, e senta-te, não quero começar sem ti.

16 de outubro de 2019

DÁ-ME A TUA MÃO

(numa noite de chuva, com a Poética de José Gomes Ferreira à cabeceira)
Deixa-me dar-te a minha mão.
Para que não fiques só na tua solidão
- toma por abrigo, a minha pobre companhia -
e, assim restarmos os dois, de mãos dadas,
nesta noite sem estrelas, sem lua e sem fadas
a afastar sombras e fantasmas, até ser dia!

9 de outubro de 2019

O SEGREDO DE SER FELIZ É SER FELIZ EM SEGREDO


Parávamos na berma, ali junto ao mar onde a estrada lançava uma pequena língua de terra na borda da falésia; a claridade do dia a diluir-se no fim de uma tarde, com um sol de outono a despregar-se do azul do tecto e a nortada mais do que brisa fresca, a arrepiar o mar.

No leitor de cassetes, lá estava o fiel Adamo que cantava pela milionésima vez um 'Tombe la Neige' que eu já não sabia se o roufenho era assim mesmo ou das vezes sem conta que tinha entoado a nossa música.
Encostávamos as cabeças, encostávamos as pernas mais os braços, encostávamos tudo um ao outro como se de repente fôssemos um só, num beijo.
Então sorrías-me um segredo e eu segredava-te um sorriso.
E, neste tempo sem tempo, ficávamos a olhar em frente e a sonhar o futuro!.





4 de outubro de 2019

O MEU AMOR POR TI


O meu amor não depende
do teu sim ou do teu não
da tua presença ou da tua ausência
da tua voz ou do teu silêncio.


O meu amor é,
existe, não desiste
mora, não demora
é sentido, não mentido.

Independentemente do teu sentir!

(Aveiro, 15 de Outubro de 1998 - "Eu e os meus fantasmas")

25 de setembro de 2019

COMUNICAR


Na idade da pedra, da lascada, comunicar seria talvez à pedrada!
Porque não? Se pedra era o que havia à mão, ou talvez à cacetada.
Num frente a frente, trocavam-se até uns murros…
De forma diferente, comunicava o homem de então.
Enquanto não aprendeu a falar, eram berros, gritos e urros,
para abreviar a questão! Tudo era comunicação!

Mas, numa tarde de trovoada, andava tudo à pedrada,
saltou faísca numa pedra, ou terá sido antes um raio(?)
Uma pequena chama se fez grande, enorme, de meter medo,
e não mais se apagou, castigo dos deuses (está visto!)
Nunca vista por ali tal coisa.
Abrigaram-se nas grutas do medo, bem como todos os outros animais
A fogueira poderosa não acabava, chamas, labaredas, calor
Aquilo estava tudo a arder que era um pavor,
Era preciso fugir, quem não quisesse morrer.
Mas, passado tempo, houve quem descobrisse a solução.
Um pequeno tronco, um ramo a arder, bem seguro na mão
Dominar o fogo, descobrir-lhe a utilidade, o archote,
E o homem já doutra idade, acabou com a agitação!
Subiu aos altos dos montes, nasceram mais fogueiras,
Iluminou-se a noite de outras maneiras,
Até uma espécie de “morse” ainda por inventar,
Sinais de fogo, sinais de fumo…sinais e mais sinais…
e das paredes das grutas saíram linhas simples, desenhadas
Arcos, flechas, lanças, humanos e animais, riscos, traços,
Desejo de comunicar a vida em toda e qualquer parte
a comunicação a que hoje chamamos arte.
Pedras para riscos, pedras para escrever,                                                                 
pedra rosetaTábuas de madeira, papiros, pergaminhos                                   
Sumérios, egípcios, fenícios, gregos e romanos,                                               
Símbolos simbolizados por letras, códigos, alfabetos,                                       
Palavras, frases, ideias, como se fosse alguém a dizer
Para toda a eternidade! Para sempre, sem nunca morrer!

Oh! Cheira aqui a queimado. Há um fogo por dominar!
Tocam os sinos a rebate. É preciso comunicar!
Vai gente a correr pró combate. É preciso apagar…
E , eis que chegou o papel!
Bibliotecas do saber, a informação, folhas e mais folhas,
Textos e mais textos, livros e mais livros, cadernos, revistas, jornais,
Árvores que ardem, árvores que se abatem, árvores que morrem.
Árvores que se transformam em livros, cadernos revistas, jornais,
Saber ler. Saber ouvir. Saber escutar. Comunicar.
Sempre a comunicar. Telefone, telégrafo, o cinema aprende a falar.
A voz. O som. A Imagem. A rádio. A televisão.
O satélite no espaço a girar, dispara-se um foguetão.
Dabliu, Dabliu, Dabliu. A tontura do progresso para além da imaginação
A vertigem da velocidade, chegou a globalização!
Esta coisa de ser chique. Tudo à distância de um clique!
A notícia em directo, o acontecimento antes de acontecer
Pode ser um grande sucesso ou uma enorme catástrofe
Smartphone, iphone, tablete, comunicação até mesmo na retrete
Conversa, email, livro, jornal, realidade ou fantasia,
Cada vez mais virtual, no nonasegundo, pelo éter
Amor, paixão, amizade, crise do coração,
Ler, escrever, conversar, apostar, dizer bem e dizer mal
Nem bem, nem mal, nem coisa e tal, antes assim.
E a estranha sensação de que quanto mais informados estamos,
Mais sós nos sentimos, mais virtuais nos transformados
E menos comunicamos."

TUDO ISTO É MUITO SIMPLES

Quando alguma coisa nos sai mal,
caímos quase sempre na tentação
de inventarmos uma montanha de desculpas
para justificar o que, normalmelnte, tem um responsável.
Nós!
Por vezes para enganar os outros;
outras vezes para nos enganarmos a nós mesmos,
sendo que de uma maneira ou de outra,
estamos a enganar-nos a nós mesmos.
Sempre!
E, é assim que as coisas ficam complicadas.

15 de setembro de 2019

MOMENTOS

A sua vida tinha sido uma história de procura.

Viveu, durante muito tempo, a vida do mundo e dos prazeres mas sem lhes pertencer. Os anos de juventude tinham-se ido demasiado depressa, imersos numa prosperidade que só aos sentidos satisfazia mas não ao coração.

E, quando se deitava pensava no amanhecer.

Acordar na manhã seguinte, já a manhã se esvaía no andar do relógio. Ver-se ao espelho, sem maquilhagem, lábios sem cor, olhos inchados por mais uma noite desassossegada, pele numa palidez translúcida de cadáver.

E a lágrima que escorregava pela face sem puder defini-la:

se pela saudade do tempo que tinha sido, se pelo desgosto do tempo sem tempo de ser.

26 de agosto de 2019

AQUILO QUE TU QUERES


Aquilo que tu queres
está logo ali, depois do medo.
Por isso, não desesperes
deixa-me dizer em segredo
p'ra ninguém ouvir, antes de ti.
há tanta gente, por aí,
e isto é só p'ra saberes
basta um golpe de vontade
um salto feito coragem
e nada fique pela metade
nem caminho, nem viagem
há tanta gente por aí
que para teres o que queres
guarda os planos no coração
e depois de tudo fazeres
mostra a tua realização
há tanta gente por aí
que diz que sim e afinal é não!
(na Ilha, a meio do serão de 23 de Agosto de 2019 referenciando lembrete na foto...)

7 de agosto de 2019


TOMEI O PEQUENO ALMOÇO a lembrar-me das manhãs de Agosto da minha juventude, passadas nas praias Grande e das Maçãs, em férias com amigos e primos.
Eram assim!
Não estava frio apesar de não haver Sol.
O céu punha-se de cinzento leve a ameaçar chuva.
A claridade tornava-se anémica, o mar reflectia nas águas revoltas o acinzentado do céu e a areia não conseguia ser acolhedora.
Às vezes, o Sol aparecia tarde, envergonhado talvez por não estar a cumprir o horário previsto e logo a gente se animava e reunia, apressadamente, o que devia levar. -os ténis brancos que estavam na moda, o calção de banho de perna até meio da perna e a camisa alinhada de riscas ou quadrados e ao ombro a toalha. 
Outras vezes, quando o tempo escurecia ao longo da tarde, aproximando a noite, íamos até Colares, a pé, à Arlete, jogar matraquilhos e ao bar do Miramonte.
Nos anos 60, os 'algarves' estavam demasiado longe e não tinham conquistado a 'malta' da capital e nós, com catorze e quinze anos, era o convívio, aquela sensação de liberdade e um namoro vivido à pressa que fazia brilhar o Sol.

14 de julho de 2019

DIAS MARAVILHOSOS

Sabe daqueles dias maravilhosos em que nos apetece 
soltar amarras, 
viver desfiladas,
saltar barreiras,
rir gargalhadas,
esquecer canseiras?
Hoje o dia não vai estar maravilhoso.
Vai trovejar,
vai chover,
vai saraivar
vai ventar
vai arrefecer.
Mas, nós aqui estamos para o maravilhar!
Viver gargalhadas
esquecer barreiras
saltar amarras
rir desfiladas
soltar canseiras
O dia poderá não ficar maravilhoso mas valerá a pena!

11 de julho de 2019

ISTO É TUDO MUITO SIMPLES

Quando estiver difícil de entender
Deixe o coração ver
Ninguém saberá se não tentar
Nada melhor para quem está
Que ver quem chega
Sorrir
O melhor de cada um
Até nas coisas mais pequenas
Nem tudo acontece como o plano
Mas não mate o sonho por causa disso
O tempo tem o seu tempo
Não o empurre demais
Nem o faça cair do baloiço
Mantenha o equilíbrio!

24 de maio de 2019

A ABRIR


Às vezes acordamos os sentidos antes do Sol recomeçar a amanhecer as nossas vidas mas, porque é segura a certeza de que não vai falhar essa manhã de céu transparentemente azul, ainda com restos de cintilações e uma lua a esbater-se sem surpresa, assim ficamos a aguardar na redentora luz que a vibração das cores e o afago do calor dêem vida a mais um dia das nossas vidas!
Depois, cabe-nos ajudar a fazer de cada dia, uma festa.

5 de abril de 2019

REFLEXÕES NOTURNAS A OUVIR A CHUVA CAIR

INVERNO (OUTRA VEZ)
Nos dias lentos, com mancha de inverno, sombrio e líquido,
a cair sobre uma primavera multicor ainda pintada de fresco,
o bom é não exasperar o tempo, nem com o tempo,
e entre a leitura, a escrita e música suavemente duradoura
que acompanhe de longe o nosso melancólico sossego
e faça por ignorar a chuva inquieta e o persistente cinzento.
Terei chegado à idade das revisitações?
A verdade é que, principalmente nestes dias, vagueio mais.
Não são apenas visitas ao passado; são mais revisões!.
A vida já vai longa e nem sempre correu conforme o plano.
Aliás, poucas vezes o terá seguido,
assim descobri que o improviso também tem beleza.
pelo menos, dá-nos a segurança de dominar o imprevisto.
Por vezes, parece ser como um sonho que se precipita
e acorda num sobressalto, antes do tempo certo.
e improvisar é saber lidar com esse impreparado acordar.,
Revisitar a própria vida, é mais do que um exercício
é um interessante modo de dar leveza à vida
de aprender a perdoar-se, de nunca amordaçar o sonho
é uma arte viver de bem consigo próprio.
Aprendi a fazer humor daquilo que me aborrece
porque a vida tem mais interesse se tiver graça.

Notas finais (sugerências):
leitura:( Vaticanum de José Rodrigues dos Santos) 
escrita: qualquer papel serve, desde que não o deixem em branco
música ao longe (.W. A. Mozart, Sifonia Opus 40 / Leonard Bernstein, orquesta filarmonica de New York
.

1 de abril de 2019

AO CAIR DO PANO

É o silêncio da noite que amplia os sons da noite
A música, oiço-a ao longe, translúcida e leve
E há, tenho a certeza, um violino que chora
Sons hesitantes, unidos numa espécie de lamúria
De quando em quando, interrompe-se num silêncio breve
Talvez seja a negrura da noite que lhe magoa a melodia
Lhe desconcerta a consonância, lhe fere a fúria
Talvez seja a lua quase nova, num estertor minguante
Que não abra caminhos de prata nas águas da baía
Ou estrelas vagabundas escondidas atrás das nuvens
Não sustentem o sonho, seja por um instante
Por tudo isto ou por outra razão qualquer.
Amanhã, quando nascer uma nova claridade
Talvez o violino se alegre, se ainda lá estiver!
E me rasgue esta saudade...

27 de março de 2019

AMANHECENDO

Se o sonho deixasse de dar à vida 
aquela sensação colorida de uma loucura sã; 
se a esperança deixasse de amanhecer

em cada aparecer,
se não houvesse aquele brilho de vontade
que rejuvenesce sempre aquela busca pela felicidade,
não passaríamos de peregrinos incertos, esgotados
pelas nossas próprias pobres existências

Mas, cada novo amanhecer traz consigo o sonho
Sonho de um novo tempo, de escrever novas histórias,
fonte inesgotável de possibilidades de sermos felizes.

E assim, vamos esperançando caminhos
onde nos vamos perdendo,
nos vamos encontrando,
nos vamos reinventando..
sobretudo, reinventando,
renascendo em cada amanhecer.

26 de março de 2019

ACORDAR ANTES DA CASA

07H12. 
Lá fora o dia já acordou. 
Na casa ainda há silêncio feito de restos de noite e de sonhos. 
E, no entanto, é o chamamento da claridade do dia 
que me faz sair da cama num gesto sorrateiro, 
quase sem afastar edredão, 
como quem está a sair de um fórmula um, 
digo eu, que nunca entrei e portanto também nunca saí de nenhum 
mas, imagino seja assim, 
como quem sai da cama sem querer fazer muito estardalhaço.

Hoje, tudo acontece à velocidade do relâmpago..

Já não nos contentamos com dias de 24 horas. Não há tempo. 
Mas, na impossibilidade de esticar o tempo, 
falsificamos a vida dando-lhe velocidade. 
E, já nem nos apercebemos disto.
Ainda não há 50 anos, por exemplo, para fazer a foto do meu pequeno almoço 
e enviar para o mundo seria impossível fazê-lo em menos de alguns meses
para não dizer que seria impossível de todo. 
Hoje, basta tirar a foto com o smartphone e partilhá-la numa rede social. Já está!

Pergunto a mim mesmo, 
enquanto te olho ainda a dormires profundamente. 
Quantas vezes dormimos juntos? 
E quantas não dormimos, apesar de juntos? 
Assim, de repente, não faço ideia mas, foram muitas, 
umas e outras, 
até porque nos conhecemos há quase 54 anos 
embora só começássemos a dormir juntos anos mais tarde. 
E a não dormir, também! 
Nesse tempo, as coisas andavam muito mais devagar. 
Até o amor!

E, sabem que mais? 
Vou tomar o pequeno almoço que o café já fumega.Servidos? 
É ali mesmo, junto à janela que dá para o dia.

14 de março de 2019

UM DIA...

Um dia
descobriremos que beijar uma pessoa para esquecer outra,
é disparate; não só não a esqueceremos 
mas pensaremos muito mais nela...
que apaixonarmo-nos é violentamente inevitável
mas, ao mesmo tempo, é uma alegria de momentos únicos.
e também perceberemos que as maiores provas de amor
são sempre as mais simples.

Um dia
descobriremos que a pessoa que parece não nos nunca ligar
é a que mais pensa em nós...
que somos muito importante para alguém,
mas nunca demos valor a isso...
como aquele amigo nos faz falta, mas é tarde demais...
.
Um dia
descobriremos que a insuficiência do tempo que vivemos
se deve, apenas, ao tempo que desperdiçámos
sem fazer o que devíamos ter feito
sem dizer o que devíamos ter dito
sem sonhar o que devíamos ter sonhado..

12 de março de 2019

SOLIDÃO É NÃO GOSTAR DE SI PRÓPRIO



EU e EU
Em mim existe esta serena constância 
de ter sempre a minha companhia
Concordantes ou em discordância
eu e eu
sempre juntos, sem distância,.
sou o meu melhor amigo.
Eu e eu.
Se discuto comigo? Com certeza!.
Porque amigo não é ser sempre 'porque sim'
pelo que vale a pena ser, sou simpatia
no que não vale por não ser, sou não!
Escrever é nunca estar sozinho
No papel me escrevo, me leio e me emotivo.
nas palavras me invento no caminho. 
Eu e eu
Sou assim nos desertos, nos silêncios, nas ausências
no meio de multidão
Mas, porque gosto da minha companhia
engano sempre a solidão!
(Mário Jorge Santos, 'eu e os meus fantasmas' - 2018)
Tenham uma excelente noite!