2 de dezembro de 2022

RICO É QUEM TEM TEMPO...

Eu cá sou pobre!
Não porque não tenha tempo.
O que não tenho é dinheiro.
Por isso, sobra-me sempre tempo ao tempo que tenho.
E, assim, fico sorrateiro.
Para que o tempo passe depressa.
E eu fique com tempo
Para gastar o dinheiro que não tenho.

1 de dezembro de 2022

O VENTO VARREU A CHUVA

 

O vento varreu a chuva
trouxe um frio de rachar
e deixou a Lua viúva
sem estrelas a brilhar.
Nunca se viu nada assim...
Atchim! Atchim! Atchim!
Porra! Vou-me constipar!
A noite ficou mais escura
não se vê ponta de corno
não se vê nada de nada
para a chuva não há retorno
a gente já não fica afogada.
E amanhã (dizem) estará Sol
e a vida não está nada mole
mas, vamos mas é em frente
que para trás mija a burra
é chuva hoje, sol amanhã
andamos a levar uma surra
já não durmo no divã.
O clima está p'ra morrer
o que podemos nós fazer?

24 de novembro de 2022

VIAGEM

Viajo no silêncio ao sabor do vento,

neste céu de vida, como ave errante

admirador da paisagem circundante

num tempo sem tempo de tão lento

árvores estendem os seus braços

como se quisessem agarrar os laços

de uma saudade já tão distante.

enquanto o rio sinuoso, lá em baixo

brilha à luz do Sol, réptil rastejante.

e o vento que me empurra a viagem

súbito amaina e me deixa pendurado

gaivotas acompanham-me um instante

no nada, sem urgência desta passagem.

para o horizonte que me aguarda no infinito.

30 de outubro de 2022

RICO É QUEM TEM TEMPO

 

Se tivéssemos (constantemente)
consciência do quanto nossa vida é efêmera,
talvez pensássemos duas vezes (se tivéssemos tempo)
antes de deixarmos passar as oportunidades
que temos para sermos e para fazermos aos outros
tudo aquilo que gostaríamos de receber (dos outros).
Mas nós não sabemos adivinhar
(por quanto tempo, teremos tempo).
e se descuidamos, cuidamos pouco. De nós. Dos outros.
Por coisas pequenas, por vezes mesmo insignificantes,
perdemos um tempo precioso.
Gastamos horas, dias, às vezes anos.
Umas vezes calamo-nos quando deveríamos falar;
Outras, falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio.
Não damos o abraço que deveríamos
o que nos impede esse gesto de aproximação (?),
de amizade, de gratidão.
Não damos um beijo carinhoso (não estamos acostumados)
e não dizemos que amamos
porque achamos que o outro sabe (automaticamente)
o que sentimos.
Passamos pela vida, sem vivermos.
Sobrevivemos, porque já não sabemos fazer outra coisa.
Até que acordamos e olhando para trás. perguntamo-nos:
- E agora?!
Agora, hoje, ainda é tempo de construir,
de dar o abraço amigo, de deixar o beijo carinhoso
de dizer uma palavra de reconhecimento, de agradecer.
Porque para isto haverá sempre tempo...
(ainda que julguemos que não!).

14 de outubro de 2022

FICAS TÃO BONITA QUANDO TE VESTES DE TI

 

Solta os cabelos e põe os olhos a sorrir
E faz aquele gesto de quem vai abraçar o mundo
Como só tu sabes fazer
Ficas tão bonita quando te vestes de ti.

4 de outubro de 2022

A MENINA DO PAPEL SELADO

 

Contava a minha avó o que se passara com a filha de uma vizinha, no dia em que ia completar quinze anos, se despenhou pela escada no prédio onde morava a tia e de tal sorte que aterrou no patamar em temerária espargata. Quando a tia a foi socorrer, em sobressaltos, para além das leves escoriações nos cotovelos e nos joelhos e umas ofensas em duas costelas, logo foi notado o que parecia mais grave: a menina tinha o vestido e as cuecas com uma mancha de sangue. queixava-se de uma dor aguda no baixo ventre.
Levada ao hospital, em ansiedades, aguardou que o médico examinasse cuidadosamente o sítio e em hesitante diagnóstico, confirmou constrangido que a menina, em razão do esforço na aterragem, rompera o hímen...
Uma coisa destas, em mil novecentos e quarenta e tais fazia muita diferença para a donzela e perante o drama que se adivinhava, quando o futuro noivo fosse confrontardo com a maneira insólita como perdera da virgindade - esperar que ele acreditasse na história - um advogado amigo opinou a saída airosa para a inconveniência.
Que arranjassem duas testemunhas e se lavrasse documento notarial a atestar a perda a virgindade em resultado de um acidente - descrevendo-se exactamente o evento, local, data e hora - e não de qualquer acto que pudesse manchar a sua honra e de seus pais.
Assim se fez!
Só que as vizinhas com aquela maldade própria de quem faz humor até dos problemas alheios, à Luisinha, passaram a chamar: "A menina do papel selado".

2 de outubro de 2022

APESAR DE...

 

Umas das coisas mais sérias que sei é que se deve viver,
apesar de…
Porque o apesar de
deu-me a angústia criadora da própria existência.
Apesar de,
deve-se ser livre
deve-se lutar
deve-se ter amigos
deve-se comer
deve-se amar
deve-se sonhar
deve-se sentir
deve-se continuar
deve-se fazer
deve-se morrer
Apesar de,
todas as dúvidas
todas as contrariedades
todas as ansiedades
todas as angústias
todas as dores
todos os lapsos
todos os erros
Apesar de,
ser feliz é gozar o momento
o melhor momento de todos os momentos
hoje é o reflexo de ontem
e, amanhã será o reflexo de hoje
tudo ou quase tudo, depende da vontade
e, o melhor é sermos nós mesmos
Porque é o próprio,
apesar de,
que nos empurra para a frente.

10 de setembro de 2022

AH! MEU GRANDE SETEMBRO (II)

Antigamente – mas mesmo muito antigamente –

Quando eu era menino e moço

Havia verão em setembro! Mas verão a sério!!!

Respeitava-se as estações do ano, caraças!

Gostava de ouvir agora o Vivaldi a compor as quatro estações.

AH! Deixa-me rir!

Devia ficar daquelas atrapalhações de sons arrepiantes

Dessincronizados que às vezes a gente finge que sim

E depois chama… música… música quê???

 

Mas, que dizia eu?

Ah! Sim, meu grande setembro, pois claro.

Ia de férias para Sesimbra, à confiança.

Sol em grande, todos os dias.

Água boa, quase quente, todos os dias.

Passeios pela areia à beira mar,

à beira do coraçção,

à beira da paixão,

à beira do namoro de férias que se interrompia

e voltava no ano a seguir!

Aquilo sim era verão!

 

Então e agora?

Agora o que é? Grande setembro?

Um abalo sísmico na Conchichina

Estremece tudo por ali fora da Japão à China

O norte de África, um vulcão numa ilha qualquer do pacífico

Chovem cinzas, chovem ventos de cor amarela

Se não chove é logo uma seca

Se chove é logo enxorrada

Mais uma tempestade de fogo

Uma floresta queimada

E uma onda de calor, antes de um frio de rachar.

 

Há por aí, uns senhores, que vivem pendurados em satélites

E que dizem que não temos “setembros”

- que eu não tenho setembro –

Porque demos cabo do clima!

Pronto, pois será. Estragámos a porra do clima!

E depois? E agora?

Então não há ninguem que conserte isto?

Atenção, ainda anda por aí muita gente apostada em continuar a estragá-lo!

 

É por isso que o verão, tal como a primavera, o outono e o inverno

Andam todos emaranhados e já ninguém sabe ao certo se,

quando dizem que estamos no verão

se vamos à praia, apanhar um resfriado

ou levar com um escaldão!

E se clamamos “isto está uma seca!!!”

Se vamos morrer de sede, se ainda se fica afogado!

 

E, é por isso que o verão resolveu mudar de sítio

E também já não passa o tempo todo em Sesimbra,

Nem em lado nenhum…

 

…nem em Setembro que era o lugar do calendário

Em que as férias eram grandes  e sabiam sempre a verão!

 

  

3 de setembro de 2022

AH, MEU GRANDE SETEMBRO!



Aqui na Ilha, só vejo aviões quando há fogo nas redondezas e os "canadairs", normalmente aos pares, vão abastecer à albufeira da barragem de Ribeiradio, para os lados de Couto Esteves, numa extrema do concelho.

Mas, quando estou nas Colinas do Cruzeiro, em casa do meu filho Hugo, ali para Odivelas, na varanda do sexto andar, vejo os aviões nascer do topo de um dos prédios da colina em frente, muito longe, parecem brinquedos a que lhes falta os dedos da mão de uma criança a segurá-los na barriga e a voz infantil a imitar o ronco dos reactores. Depois, dão uma volta grande, para a direita, rumo ao infinito e acabam por desaparecer no meio do azul.
Mal um desaparece e logo outro nasce no telhado do prédio.

Quando era miúdo gostava de ver os aviões - qual é o miúdo que não gosta? - e então ia com o meu pai ao aeroporto ver os "Super Constelation" , os 'Lockheed" e os "Caravelle".
Havia uma esplanada no cimo do edifício principal, o meu pai sentava-se a ler o jornal e a tomar o café enquanto eu bebia a laranjada e comia um pastel de feijão, sempre preferido, e lá estavam enormes na pista e depois que se elevavam no céu iam diminuindo até ficarem do tamanho de um que tinha no quarto em cima da estante. Depois, como hoje aqui da varanda, sumiam no meio do azul.
Voar também, em Portugal, teve adeptos muito cedo. Natural de Viseu, Severo Prudêncio, barbeiro, astrólogo, mestre de primeiras letras e com "carta de sangrador" passada pelo Hospital de Santo António, construiu umas asas de pano e a 3 de Setembro de 1540, teve permissão do senhor Bispo para se lançar do alto da torre da Sé de Viseu. Mas, falhou o objectivo de aterrar no Campo de São Mateus. Chegou a pousar no telhado da capela de São Luís, já em grande aflição mas um golpe de vento acabou por o atirar para a rua. E acabou perdendo a vida
Alguém provavelmente céptico ou demasiado crente, dizia que se Deus quisesse que o homem voasse, tinha-lhe posto umas asas.
Talvez...
Também na Grécia Antiga, Ícaro, o filho de Dédalo é comumente conhecido pela sua tentativa de deixar Creta voando — tentativa frustrada numa queda que culminou na sua morte nas águas do mar Egeu, mais propriamente na parte conhecida como mar Icário.
Outra versão é que Ícaro terá feito a sua tentativa voando com asas de cera e conseguiu ir até tão perto do Sol que o calor derreteu-lhe as asas e o pobre rapaz caiu. Vou mais pela versão do mar...
A propósito, já não é a primeira vez que sonho que consigo planar e penso que é comum a muitos sonhadores. Parece que pode ter muitos significados, mas representa, normalmente, domínio sobre si próprio e a felicidade num momento próximo de vida.
Assim seja! 

31 de agosto de 2022

QUANDO TE INVENTEI

 

Quando te inventei
eras teimosia em forma de resistência;
uma força em que se sentia segurança,
um rosto onde se lia determinação
e um olhar banhado de esperança
que te subia do coração.

Por seres tudo aquilo que eu não era
e teres tudo aquilo que eu não tinha
(tu nem sabias de mim...)
de dia, seguia-te escondido na própria sombra
e de noite, sonhava-te no escuro da solidão.
Se soubesses de mim, ficaria teu escravo
e desprezar-me-ias, por saberes demasiado tarde
deste amor egoísta, interesseiro, cobarde.
Um dia desapareceste
(ou fui eu que te esqueci...)
ou terei sido eu que morri?

CONVERSAS COM O ESPELHO

 

- Olá. Como vais, desde manhã?
- Olha, vou indo...
- Já reparaste que faltam menos de 24 horas para acabar Agosto? Quem tem a mesma sensação que eu tenho de que o tempo está cheio de pressa?
- Caramba! Será da idade?
- Estás a chamar-me velho?
- Eu? Não, que ideia! Velhos são os trapos e...
- Então não achas que tudo parece que está a andar mais depressa? A Páscoa parece que foi ontem...
- Ah! Não me venhas com essa do ontem foi Natal e mais não sei o quê e daqui a nada é o Inverno de novo e Dezembro e...
- Pára, pára, não precisas continuar.
- É isso mesmo, não é? Toquei-te no ponto.
- Então se dizes isso é porque também sentes.
- Sinto o quê? Que o tempo me foge como a ti?
- Pois... estás a ver, como sabes...
- Claro! Quando te pões à minha frente, deixo de ser eu para passar a ser "tu"!

11 de agosto de 2022

MARIA DA CONCEIÇÃO

 

O barulho que se ouviu, precedido de um grito, no passeio junto ao ascensor de Santa Justa foi mais um baque. Depois do susto transformado em surpresa, os transeuntes viram o padeiro caído de costas, camisa ensanguentada, ombro e braço direitos parecendo não pertencer àquele corpo tal a posição anormal que apresentavam, o enorme cesto que momentos antes levava ao ombro cheio de pão, partido em dois e o conteúdo derramado pelo passeio e pela faixa de rodagem da rua do Ouro e no meio daquela aflição, uma mulher ainda jovem com um casaco azul de lã por cima do que parecia ser uma farda de criada, meia de lado, olhos muito abertos, uma mancha de sangue na saia e com queixas na perna direita que parecia partida mas viva, ao lado do padeiro de olhos muito abertos, morto. O polícia de giro chegou a correr, do outro lado da rua, apitando estridente, na correria, ao mesmo tempo que gritava:

 “Façam o favor de se afastar…”

O círculo que entretanto se formara em volta da cena, alargou ligeiramente, o suficiente para o agente da autoridade entrar para o meio e continuar gestualmente, bastão em punho, a dizer:

“Façam o favor de se afastar…. Algum médico aqui?”

Médico não havia mas surgiu a primeira testemunha…ainda a gaguejar pela violenta surpresa:

 “Eu vi… eu vi…foi ela…foi ela que caiu lá de cima… foi ela que matou o padeiro!”

 

O padeiro, era uma figura conhecida ali, já que diariamente ao longo dos últimos cinco anos fazia a distribuição do pão pelos restaurantes e cafés. João – ninguém sabia o apelido – mas era o João, para toda a gente, sorridente, bem disposto e amigo dos miúdos pobres que o esperavam, sentados junto ao ascensor, para se aproveitarem da sua generosidade.

“Eu ouvi o grito mas quando olhei já estavam assim… no chão…”

“Não, eu vi ela cair em cima do João… foi ela que matou o João!”

Ela era Maria da Conceição, dezassete anos, criada em casa duns ricaços que moravam prós lados do Chiado - veio depois a apurar a investigação – que,  por entre choros e lágrimas, também ficou a saber o resto de toda este drama naquela manhã de 10 de Julho de 1942, fazia o ascensor 40 anos!

Estava em casa da família Portela, que moravam num palacete na rua da Misericórdia. Tinha vindo com 13 anos de Alvações do Corgo, pequena povoação de 470 habitantes, do concelho de Santa Marta de Penaguião, situada na margem esquerda do rio Corgo, afluente do Douro. Maria da Conceição viera para Lisboa, mandada chamar por uma tia solteirona, cozinheira, em casa dos Portela há mais de vinte anos, sabedora da estima que a senhora dona Emília tinha por ela e mais das dificuldades que a irmã e o cunhado passavam lá na terra quisera que a sua sobrinha dilecta não ficasse “enterrada viva” lá na terra e, aproveitando o facto de ter sido despedida a sua ajudante por desviar alimentos logo sugeriu cautelosamente a Maria da Conceição…

 “Mas, ó Maria da Paz, não será muito nova para a ajudar?”

Questionou hesitante a senhora dona Emília ao ouvir a proposta da cozinheira. Que nada, não senhora. Que a miúda era muito jeitosa para a cozinha que assim tinha plena confiança – era só o que faltava – na sua ajudante, que podia inclusive contar com ela para outras tarefas, como recados e que a senhora ia ver que passado o primeiro impacto, ela se adaptava e logo seria uma das melhores.

“Está bem, Maria da paz… mas, atenção, se não for boa para o serviço não quero cá encobrimentos… vai recambiada… entendido, Maria da paz? Só para você não dizer que nem uma oportunidade dei. Também nunca me pediu nada.”

“Obrigada minha senhora. Não se vai arrepender!”

Quatro anos passam num instante mas, em quatro anos também se passa muita coisa. Maria da Conceição prendeu-se de amores com um rapaz bem mais velho, um tal Álvaro já em idade de ir para a tropa, ao fim de um ano e pouco de estar por Lisboa. Ele era empregado de mesa num restaurante da rua do Alecrim, alto moreno, bem falante logo se deixou também encantar por aquela moça vinda lá do norte, também ela morena já num corpo de mulher, apesar dos quinze anos que a jovem Maria da Conceição consciente da diferença de idades e com medo que isso fosse motivo de separação, logo resolveu aumentar para dezoito e meio, enfim quase dezanove! O namoro foi crescendo de intensidade, a pontos da tia a ter avisado. Pela terceira vez.

“Maria da Conceição, vê o que fazes da tua vida, rapariga! Olha que eu bem sei o que se passa e podes ter a certeza que conto tudo á senhora…”

“Mas ó tia, eu gosto dele. Vamos casar e…”

“Casar??? Mas tu endoidaste, rapariga??? Estás a minha guarda e não te admito essa falta de respeito, pior, de juízo, menina. Fazes favor arranja maneira de acabares com o namorico. Eu até gosto do rapaz mas…”

Maria da Conceição não disse que sim nem que não. A sua paixão crescia todos os dias. E, um dia, endoidou de vez e aceitou o convite que Álvaro lhe fez para lhe mostrar o quarto onde vivia, umas águas furtadas num prédio já gasto pelo tempo,mas com uma vista espantosa para o Tejo. Combinaram tudo para um Domingo que era a sua tarde de folga e aproveitando o facto da tia ir visitar uma cozinheira amiga para Campo d’ Ourique estimou que tinha a tarde livre para ir ter com Álvaro que também tinha folga.

 Em três meses, tudo se precipitou na vida de Maria da Conceição. Álvaro partiu para a tropa e pouco depois veio dizer-lhe que tinha sido mobilizado para os Açores. Era a guerra e era preciso proteger as ilhas. Maria da Conceição despediu-se em prantos. A tia soube dos choros e à primeira repreendeu-a pois julgava que o namoro com Álvaro já tinha acabado. O que ela não sabia é que não só não tinha acabado, como tinha a sobrinha grávida.

Uma manhã, o carteiro trouxe uma carta da Ilha Terceira. Mas não era de Álvaro. Quem a escreveu chamava-se Luís Filipe e dizia-se amigo de Álvaro. A carta não era extensa antes pelo contrário, de modo  que não foi difícil para ela ficar a saber que Álvaro tinha tido um acidente de viação e falecera a caminho do hospital militar da base americana.

Maria da Conceição não conseguiu ler mais nada, completamente desvairada saiu porta fora sem conseguir sequer dizer fosse o que fosse, numa correria desenfreada sem destino, num choro que fazia toda a gente com quem se cruzava ficar a olhar espantados com o aspecto aflitivo da jovem.

Sem saber como, encontrou-se na plataforma do cimo do ascensor de Santa Justa, local onde fora várias vezes com Álvaro. O Sol do meio dia bateu-lhe em cheio no rosto, atarantou-a, cegou-a! As suas últimas palavras foram o nome do namorado e … atirou-se! O homem que estava a uns cinco metros quis impedir mas chegou tarde…

Maria da Conceição deu um grito, já no ar, mas não impediu a sua queda no cesto de João, o padeiro que nesse momento passava, em baixo. 

 

 

 


CONVERSAS AO ESPELHO

 

- Boa noite. Vou-me deitar.
- Hoje gostei mais de te ver. Não sei se foi por te ter feito a barba mas ficaste com um ar mais leve. Mais animado. Menos pesado.
- Menos pesado(?) Deixa-me rir. Depois do que emagreceste nestes quatro meses, peso é coisa que não tens. Já reparaste na quantidade de pele que te sobra, nos braços?
- Lá está… é preciso saber interpretar o peso das palavras. Nem leve é leve. Nem pesado é pesado. Mas, deixemo-nos de charadas. Como foi o teu dia?
- Hummmmm, normal, perfeitamente normal.
- O que é um dia normal? Chato? Assim, assim? Rotineiro?
- Bem, talvez um pouco disso tudo.
- Ou seja, foi uma seca…
- Lá estás tu com os trocadilhos. Seca sem ser seco…
- Ah! Pois, não tem chovido.
- Não é nada disso. Podia ter chovido e a seca ainda ser maior.
- Pois… está-se bem!
- Sei que estás a fazer progressos e isso é bom. Optimismo! Sem perder o sentido da realidade.
- Positivismo lógico, talvez.
- Ai, ai, ai, não me venhas, a esta hora, com filosofias baratas.
- Caramba, isto é não é filosofia barata. Positivismo lógico tem a ver com racionalidade, manter a mente aberta, agir em conformidade com o momento…
- Ah! OK! Já percebi.
- Assim é mais fácil encarar o presente. Sem fasquias demasiado altas…
- Pois. É como aqueles saltadores em altura. Põem a fasquia muito alta e depois, bem depois ou a derrubam ou passam por baixo. Derrota, de qualquer forma.
- De facto, hoje não saímos disto.
- Não saímos de quê?
- Disto. De pôr palavras que não significam exactamente aquilo para que foram criadas mas que, no fundo, todos compreendemos o que querem dizer.
- É uma polissemia!
- Pois, será. Sabes que mais, só tu para abrilhantares o meu dia.
- Ah, isso deve ser da luz. Detesto esse reflexo…
- Eu também. Mas o que está mesmo a apetecer é deitar-me.
- Então boa noite. Dorme bem.
- Obrigado, igualmente.
- Ah! Eu não durmo… quando apagares a luz, vou ficar aqui no escuro à espera do nascer do dia, à tua espera.
- Amanhã, logo pela manhã bem cedo, voltaremos a ver-nos.
- OK! Até amanhã...

9 de agosto de 2022

FELICIDADE É UM FIM DE TARDE OLHANDO O MAR

 

Meu nome é Felicidade.
Faço parte da vida dos que tem amigos, pois ter amigos é ser feliz.
Faço parte da vida dos que vivem cercados por pessoas bonitas, pois viver assim é ser feliz!
Faço parte da vida dos que acreditam que ontem é passado, amanhã é futuro
e hoje uma dádiva chamada presente.
Faço parte da vida daqueles que acreditam na Força do amor,
que acreditam que para um história bonita não há ponto final.
A Amizade, a Sabedoria e o Amor.
A Amizade é a filha mais velha.
Uma menina linda!
Ela une pessoas, pretende nunca ferir, sempre consolar.
A do meio é a Sabedoria, culta, íntegra,
sempre foi mais apegada ao pai, o Tempo.
A Sabedoria e o Tempo estão sempre juntos!
O mais novo é o Amor.
Ah!! Como esse me dá trabalho!
È teimoso, às vezes só quer ficar num mesmo lugar...
Amor foi feito para morar em muitos corações, não apenas num.
O Amor é complexo, mas é lindo!
Quando ele começa a fazer estragos, eu chamo logo o pai dele.
E o Tempo vem tentar fechar todas as feridas que o Amor abriu!
Acredite no Tempo, na Amizade, na Sabedoria,
e principalmente no Amor.
Aí com certeza um dia eu, a Felicidade, baterei à sua porta!!
Tenha Tempo para os seus sonhos,
eles conduzem sua carruagem para as estrelas.
E não esqueça, Sorria!!
O seu sorriso pode alegrar a vida dos que te cercam!!

(autor desconhecido)

8 de agosto de 2022

MUNDO MELHOR

 

O mundo é um lugar perigoso de se viver,
não por causa daqueles que fazem o mal,
mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”
( Albert Einstein )

Somos mais arrogantes que poderosos e ainda assim capazes de mudar tudo, incluindo o mundo em que vivemos. Mas é preciso dialogar com todos e respeitar as diferenças de opinião.
O que é verdade para mim, pode não ser para o outro e vice versa; é preciso vermos para além dos nossos pequenos mundos onde os nossos medos e as nossas inseguranças só sobrevivem pelo tempo que temos até adquirirmos novos conhecimentos, novas verdades.
Ver o outro como igual é fundamental.
E, ainda que seja diferente na cor, tenha outras ideias, pertença a outra etnia, professe outra religião. pertencemos todos a uma mesma raça.
A raça humana.

"MUNDO MELHOR"
Você que está me escutando
É mesmo com você que estou falando agora
Você que pensa que é bem
Não pensar em ninguém
E que o amor tem hora
Preste atenção, meu ouvinte
O negócio é o seguinte
A coisa não demora
E se você se retrai
Você vai entrar bem, ora se vai
Conto com você, um mais um é sempre dois
E depois, mesmo, bom mesmo, é amar e cantar junto
Você deve ter muito amor pra oferecer
Então pra que não dar o que é melhor em você?
Venha e me dê sua mão
Porque sou seu irmão na vida e na poesia
Deixa a reserva de lado
Eu não estou interessado em sua guerra fria
Nós ainda havemos de ver
Uma aurora nascer
Um mundo em harmonia
Onde é que está a sua fé
Com amor é melhor, ora se é
(Vinicius de Moraes)

7 de agosto de 2022

A VIDA É DE QUEM SE ATREVE A VIVER

 

Viver é inventar cada dia da nossa vida,
Com a decisão de quem quer ser feliz.
Com energia e um sorriso franco.
Com o coração enfeitado de cores.
Com um poema de amor sempre presente.
Com amigos leais e justos.
Viver é correr atrás dos sonhos,
Procurar a inspiração que leva ao projecto de vida
Procurar o entendimento das coisas.
Procurar o que nos faz bem e aos outros também.
Procurar ser sempre verdadeiro.
Procurar descobrir as coisas belas da vida,
Procurar manter o sorriso que é alegria de viver
Procurar comunicar aos outros essa nossa disposição.
Viver é ouvir as músicas que nos levam para o tempo certo
Ainda que sós, entoemos a melodia. Dancemos!
Conseguir desacelerar, pausar o tempo,
Aproveitar cada pequeno momento de prazer.
Por isso:
Comece a sorrir mais cedo.
Pense em coisas boas.
Alimente os seus sonhos.
Escute aquela música especial.
Dance, mesmo sozinho.
Valorize as pessoas próximas de si.
Espalhe alegria.
Nem todos têm as mesmas oportunidades!
Mas não espere para ser feliz.
Não adianta tentar fugir dos problemas.
Aprender o que tiver de ser e enfrentá-los com decisão.
Tentar não se deixar abater.
Ganhe energia! Reaja!
A nossa maneira de ver o mundo só começa a mudar
se nós mudarmos.
A nossa maneira de ver a vida só começa a mudar
se nós mudarmos.
Viver vale a pena!

5 de agosto de 2022

ACREDITE

 

Acredite nas pessoas,

Naquelas pessoas que possuem qualquer coisa mais

Naquelas pessoas que, por vezes, até confundimos com anjos e outras divindades

Naquelas pessoas que existem nas nossas vidas

E nos enchem de pequenas alegrias e grandes atitudes

Naquelas pessoas que nos olham nos olhos quando precisam de ser verdadeiras

Tecendo elogios e nos pedem desculpa com a simplicidade das crianças

Naquelas pessoas firmes, verdadeiras, transparentes

Que com um sorriso, um beijo e um abraço nos fazem felizes

Naquelas pessoas que erram mas, também, nas que acertam

Naquelas pessoas que sonham e, também, nas que nos dizem…não sei…

 

Porque essas pessoas são amigas

e a amizade é o mais nobre e desinteressado de todos os sentimentos!


4 de agosto de 2022

NADA VEM OU VAI SEM UM CAMINHO

 

A vida é feita de caminhos...
...caminhos que levam, caminhos que trazem sonhos,
alegrias, tristezas, amores, esperanças.
Nada vem ou vai sem um caminho.
Lutar pelos sonhos é ver a vida de maneira diferente.
Dá trabalho? se dá!
E, algumas vezes, até pode não dar certo.
Mas, outras vezes, perceber que está ao alcance realizar.
Sentir uma força enorme que vem de dentro de nós
Qualquer coisa que nos diz que vamos conseguir
E é quando voltamos a sorrir.