31 de outubro de 2019

YO NO LO CREO EN BRUJAS...

ESVOAÇANDO numa noite de bruxas, estou a lavar as mãos no lavatório do quarto de banho quando o espelho se agita à minha frente e um gajo com ar idoso sorri trocista. Espremo as mãos debaixo da torneira a fingir ignorá-lo mas ele:
(É contigo, pá! Já reparaste que vais fazer 71 daqui a nada?)
decido-me por encolher os ombros enquanto pronuncio com o ar mais despreocupado que consigo: "Então e depois?"
(Então e depois? Ó pá são 71, percebes? Não são 15 nem 20, nem sequer 30, vá lá 40! São 71, meu... uma vida, uma data de tempo...)
não entendo mas assim como assim, vou demorar a manobra de limpar as mãos à toalha para ver se apanho o raciocínio. "Pronto! Dia 18 do mês que vem faço 71 anos e depois? O que tem isso? A esperança de vida está a aumentar. Até não é nada de especial. Eu nem me sinto assim tão, tão ...tento manter o espírito percebes?" Oiço uma gargalhada trocista.
(Bem vejo que nalgumas coisas, pelo menos, não há maneira de envelheceres....deixa dar-te então um conselho. Se fosse a ti verificava, antes de te ires embora, se acertaste na sanita e já agora se fazes favor baixa a tampa...eu bem a oiço, refila contigo quando vê um pingo ou dois no chão e apanha sanita de boca aberta...vê se cresces!)
Apoiei as duas mãos no bordo do lavabo engolindo desaforos E não é que fui mesmo verificar? Antes de sair e apagar a luz, olhei, de lado, o espelho por cima do lavatório. Ele a olhar-me de lado. "OK! Distraí-me, esqueci-me, sei l,.já tenho quase 71 anos...porra!" Ouvi uma gargalhada de triunfo..
Apaguei rapidamente a luz para ele desaparecer e voltei para a sala onde a Dalita já se embrulhou na manta dos quadrados preparada para adormecer a meio da telenovela enquanto eu afivelo um imperceptível sorriso.
"Desta vez não me apanhas....#

25 de outubro de 2019

AINDA ANTES DO JANTAR


Olá, o que estás a fazer?
O jantar.
E o que vai ser, então o jantar?
Um poema…
Um poema... e tem alguma coisa para acompanhar?
Bem, vou juntar-lhe tempo...
e uma boa dúzia de pequenos carinhos, soltos mas bem temperados…
Posso ajudar-te?
Claro, podes passar-me aquelas palavras…
Quais?
As que estão por aí sem norte, desanimadas e frias. 
Paz, amor, felicidade, abraço, esperança. Já as viste?
E servem? Não estarão duras ou amargas? Há tanto tempo...
Um pouco de mel e cozedura lenta, já amolecem e adoçam..
Espera, não é preciso aquecerr primeiro o coração.
Queres?
Os dois, então. Fica mais gostoso...
Põe mais uns beijos…não deixes cair muitos de uma vez.
Está a ganhar uma bela cor. Que apetite...
Então pega no meu corpo e aquece-o,
Já podemos juntar tudo?
Espera. Falta juntar ternura quanto baste.,
Não sei se me restou alguma,
Agora basta que me tenhas e me queiras,
Junta um raminho de sonhos que a tua memória colheu
Cheira muito bem., Ah como é boa esta pitada de loucura.
Vou servir. Podes trazer o vinho
Tinto?
Claro, e senta-te, não quero começar sem ti.

16 de outubro de 2019

DÁ-ME A TUA MÃO

(numa noite de chuva, com a Poética de José Gomes Ferreira à cabeceira)
Deixa-me dar-te a minha mão.
Para que não fiques só na tua solidão
- toma por abrigo, a minha pobre companhia -
e, assim restarmos os dois, de mãos dadas,
nesta noite sem estrelas, sem lua e sem fadas
a afastar sombras e fantasmas, até ser dia!

9 de outubro de 2019

O SEGREDO DE SER FELIZ É SER FELIZ EM SEGREDO


Parávamos na berma, ali junto ao mar onde a estrada lançava uma pequena língua de terra na borda da falésia; a claridade do dia a diluir-se no fim de uma tarde, com um sol de outono a despregar-se do azul do tecto e a nortada mais do que brisa fresca, a arrepiar o mar.

No leitor de cassetes, lá estava o fiel Adamo que cantava pela milionésima vez um 'Tombe la Neige' que eu já não sabia se o roufenho era assim mesmo ou das vezes sem conta que tinha entoado a nossa música.
Encostávamos as cabeças, encostávamos as pernas mais os braços, encostávamos tudo um ao outro como se de repente fôssemos um só, num beijo.
Então sorrías-me um segredo e eu segredava-te um sorriso.
E, neste tempo sem tempo, ficávamos a olhar em frente e a sonhar o futuro!.





4 de outubro de 2019

O MEU AMOR POR TI


O meu amor não depende
do teu sim ou do teu não
da tua presença ou da tua ausência
da tua voz ou do teu silêncio.


O meu amor é,
existe, não desiste
mora, não demora
é sentido, não mentido.

Independentemente do teu sentir!

(Aveiro, 15 de Outubro de 1998 - "Eu e os meus fantasmas")