22 de janeiro de 2020

NÃO QUERO SONHAR

Não quero sonhar com campos verdes
por baixo de céus azuis
nem com lagos translúcidos, gelados,
ladeados por montanhas brancas
com casas de telhados negros
pelas encostas em equílibrios de circo.
Não quero sonhar com crepúsculos de sóis alaranjados
luas de prata a sorrirem estrelas,
nem com despertares de luz a trespassar as vidraças
a empurrar cortinados.adormecidos.
Não quero sonhar com rios de águas inquietas
em margens estreitas numa desenfreada corrida
para se afogarem em mares de horizontes sem fim
cristas de espuma em areais abertos por ventos
onde se aprumam dunas com fenos de areias
e verdes gramas e cortantes lanças dunares.
Não quero sonhar com campos de girassóis
numa rotina diária de cento e oitenta graus,
alegres enquanto a luz está, tristes na solidão do escurecer.
Não quero sonhar coisas prováveis como se estivesse acordado
Sonhos do possível são, com probabilidade, desilusão num futuro sem culpa
Os sonhos para serem sonhos têm de ser impossíveis,
devaneios de um louco inconsciente
tão libertadores como um voo de borboletas
num súbito e multicolor bater de asas
numa vertigem de encantamento brilho da invulgaridade.