22 de setembro de 2011

EFEMÉRIDE DE MIM

(18 de Novembro de 1948 - 18 de Novembro de 2013)

Diz a minha mãe, 

eu não recordo por muito esforço que faça, 
que nasci pelas dezassete horas e trinta minutos 
de um dia cinzento e tempestuoso já a cheirar a Inverno, 
em Lisboa,
casa da minha avó paterna Leonor Victoria,
na Penha de França já a resvalar para o largo de Sapadores,
por ter a minha avó uma vizinha parteira, a Dª Ivone,
que assistiu a um parto muito difícil,
com minha mãe a lutar com uma coragem brava
para me por no mundo e eu agarrado
ao aconchego do seu ventre protector
sem nenhuma vontade de lhe fazer a vontade.
Ganhou a Dª Ivone que deitou ferros à obra
e assim me salvou da minha cobarde teimosia
e, quem sabe, a minha mãe também!

Contada a peripécia inicial,
acho que os 64 anos seguintes passaram depressa
como o caraças ou o camandro ou outra qualquer palavra

definidora deste arrepiante formato
que temos para contar as translacções da nossa vida.
E hoje de manhã, ao acordar pelas oito e pico
como habitualmente, no espelho da rotina
lá estava eu, curiosamente muito semelhante
ao do dia anterior
mas irremediavelmente muito diferente de quando nasci.

Sou, finalmente, um SÉNIOR!
(gosto desta palavra porque é uma maneira muito civilizada
de escapar ao desagradável IDOSO ou ao mais ainda VELHO!)
A pensar com os botões do pijama:
'Porra, Mário! Como passou depressa...'.

Assim como o futuro se faz, rapidamente, presente
que por sua vez se transforma, com não menos celeridade,
num amontoado de memórias a que chamamos passado,
um dia quem sabe, retalhos desses 64 anos intermédios
que ficaram por dizer, os ordene numa narrativa
e que alguém encontre motivo que valha a pena ...