27 de setembro de 2011

O MILAGRE DA VIDA

Para que eu esteja aqui e seja eu, 
li algures, que biliões de átomos errantes,
por motivos que desconheço, 
se juntaram numa espécie de dança misteriosamente coordenada
numa combinação caprichosamente única e tão especial,
que nunca foi feita antes e não se repetirá, nunca mais.

E por todos estes anos que passaram, 
assim tem acontecido sempre como se de um acaso se tratasse.
E, por alguns anos mais, espero eu, os biliões de átomos irão continuar
exaustivamente, em milhares de pequenas tarefas, sempre juntos,
para que eu me vá permanecendo, mais ou menos intacto,
mais ou menos eu e desfrutando esta suprema experiência,
tantas vezes, por mim, subestimada e a que todos chamamos existência.

Mas acontecerá, fatalmente, o momento em que a má notícia surgirá para mim.
E estes mesmos biliões de átomos tornar-se-ão, subitamente,
inconstantes e desobrigados acabando por se dispersar,
por decisão que, igualmente, ficarei sem conhecer,
irão pôr um fim da sua dedicação à minha causa.
Quando isso acontecer, a minha história terminará.
E, então, eu deixarei de ser eu,
enquanto eles se transformarão noutra coisa qualquer.

Humildemente, na ignorância assumida com cobarde ousadia 
para fugir a explicações mais complexas
agradeço aos biliões de átomos que afinal não conheço
que, assim como não me pediram autorização para se juntarem
e decidirem que sou assim
que dispersem em silêncio e partam 
sem se despedirem de mim.