30 de abril de 2017

FRAGMENTOS

I
Uma vontade de não querer ter pensamento.
Uma angústia de todas as células do corpo num sentimento súbito de clausura 
numa cela tão inacessível que fugir se torna utopia pois a cela é tudo.

II
A memória, afinal, é uma ilusão.
Porque nunca podemos fazer com que ela nos repita o que nunca fizemos. E, no entanto, as saudades mais cruéis são as que povoam a memória com as coisas que não fizemos ou não vivemos.

III
Não existe um caminho de vida só nosso.
O caminho que escolhemos é constantemente percorrido por outros que escolheram o mesmo caminho.
Ou será que fomos nós que escolhemos o deles?

IV
A vida vai-se em prateleiras numa despensa de factos e de sensações que vamos pondo de baixo para cima e da porta para a parede do fundo.
É por isso que à medida que, quando a despensa vai ficando cheia, chegamos mais facilmente ao mais antigo do que ao que aconteceu ontem.

V
A vida é um baile de máscaras onde para sobreviver é, muitas vezes, necessário por a máscara apropriada.
Porque se formos mascarados de nós mesmos correremos o risco de não acertar com a música.
VI
Não se pode deixar pensar o coração

VII
Na realidade não fazemos anos. Vamos desfazendo-os. Cada dia a mais nas nossas vidas é um dia a menos que vivemos. Não sabendo o tempo que temos de vida, vamos continuando a somar os dias e não a subtraí-los, apesar de estarmos sempre a gastá-los.

VIII
A ideia que temos do passado é de um tempo que não está ao nosso alcance modificar. No entanto, como sempre o podemos revisitar nas nossas memórias, é relendo-o naquilo que não devia ter sido, estamos a modificá-lo, no presente, para não voltarmos a repetir os mesmos erros

IX
O que é preciso é nunca nos rendermos. Quando arranjarmos motivos para não agir, quando não falamos com medo do que dissermos, quando preferirmos estar mais quietos que desassossegados, então estamos lixados!

X
Viver é sonhar acordado porque se a vida não tiver sonho já morremos em vida. Morremos! Não adormecemos. Porque até a dormir, sonhamos...




27 de abril de 2017

DE VEZ EM QUANDO

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De vez em quando deixe-se encantar!
Deixe-se ir, no silêncio de uma bolha de sabão 
levada na brisa suave, de um fim de tarde
equilíbrio espacial, lento, talvez inseguro,
mas sempre com um arco-íris interior.
De vez em quando deixe-se levar!
Não é proibido, sabe? Só deixar ir o coração,
nesse voo de sentimentos e de liberdade
como se à nossa volta tudo fosse puro,
e não houvesse guerra nem dor.
De vez em quando permita-se sonhar!
Um luxo ao alcance de todos, uma inspiração
que devemos manter seja qual for a idade
porque é na sombra do sonho, imaturo,
que está o alimento do prazer e do amor.












De vez em quando permita-se viver!