2 de julho de 2022

UMA VISITA AO ZOO

 

A minha tia Lucinda, para mim sempre foi a Cita, irmã mais velha da minha mãe e de meu tio Reinaldo, era o que toda a gente dizia com inteira justiça: “uma boa pessoa”! Contemporizadora com tudo e com todos, nunca lhe conheci uma palavra amarga ou mais brusca era a referência da bondade, na família.

Um casamento infeliz, atirou-a para um divórcio, muito nova, tinha o meu primo João seis anos, num tempo em que as mulheres ficavam, na maior parte das vezes, com direito a muito pouco ou mesmo a nada. Assim sucedeu com ela que saiu de casa e se recolheu em casa dos meus avós maternos e por lá ficou, sem nada, obviamente com o apoio dos meus avós e dos irmãos. 

Mas isto é apenas um prólogo pois a crónica começa mais abaixo.

 Entretanto o meu primo casou e dessa união nasceu uma menina a que foi dado o nome de Leonor Maria, para mim sempre a Nônô, que hoje tem 62 anos, está casada com um cidadão sueco de nome Thomas e reside em Estocolmo. há mais de 30 anos mãe de um rapaz, o John Anton,  já maior de idade.

Mas isto faz parte ainda, de certa maneira, de um prólogo pois a crónica começa agora.

 E, regressamos então, até ao ano de 1966 quando a Nônô com seis anos, acompanhada pelos pais e pela avó Cita, em passeio pelo Jardim Zoológico. Diz-se a quem vai ao Zoo que vai visitar a família, referindo-se obviamente aos macacos, Os simpáticos primatas, nossos mais próximos na longa cadeia dos animais.

Foi na jaula dos gorilas que tudo se passou! Embora dividido por uma rede, antes das grades os gorilas e macacos observam os humanos como parentes próximos e a imitação dos seus gestos é uma fatalidade.

Aconteceu que a minha prima Nônô tinha caído e magoado um joelho e a avó Cita sempre prevenida e solícita, logo tinha ali à mão um pequeno rolo de adesivo, uma tesoura pequenina e uma embalagem com gaze para além do inevitável frasquinho de mercúrio-cromo.

Inadvertidamente, porém, para melhor fazer o curativo ao joelho da neta, sentou-se no bordo da jaula, de costas para as grades e pôs-se a fazer o curativo, colocando um pouco de mercúrio depois, cuidadosamente a gaze e por fim desenrolou um pouco de adesivo que cortou com a tesoura e para melhor efectuar a operação pôs no rebordo da jaula, o rolo de adesivo e a pequena tesoura não reparando que o gorila já se tinha aproximado das suas costas e zás, com uma rapidez inaudita, meteu a enorme mão entre as grades e lá foram o rolo de adesivo e a pequena tesoura na mão do macacão que tinha estado a observar criteriosamente toda a acção de curativo.

Os restantes visitantes começaram então a rir-se muito e a apontar para dentro da jaula incluindo os meus primos e a pequena Nônô, só a tia Cita não estava a perceber mas quando se virou e deu por falta do rolo de adesivo e da tesoura é que deu conta da situação.

O enorme macaco já estava de adesivo desenrolado pelo corpo num emaranhado que depois lhe doía quando o tentava arrancar e andava aos saltos e aos urros, de tesoura em riste. O ruído e o súbito aglomerado chamou a atenção de dois guardas do jardim que depois de se inteirarem do caso e identificar a responsável, exigiram explicações e foi difícil sair incólumes.

Foi preciso chamar o tratador que censurou o irresponsável acto. Apesar se de ter tratado efectivamente de uma distracção. Com muita paciência e perícia lá conseguiu ir tirando o adesivo enrolado nos pelos do símio e convencê-lo a dar a tesoura que por sua vez passou para as mãos da minha tia, muito nervosa. E ainda queriam que fosse paga uma multa.

Por fim os ânimos lá serenaram e os meus primos e a minha tia Cita puderam sair do local e continuar a sua visita. Mas não ganharam para o susto.

A minha tia Cita sempre tão ponderada, cautelosa, e de gestos atentos tivera o seu momento de distracção fatal ou quase…

Com o tempo, e o humor do meu primo João, este episódio ganhou foros de anedota, de modo que toda a gente que o ouvia contar com o acrescento de pormenores à sua maneira, a risota era geral.