2 de julho de 2022

OUTRA VEZ FEIRA POPULAR

 

Lembro-me da antiga Feira ainda no Parque de Palhavã, onde hoje se encontra a Fundação Calouste Gulbenkian, e também da inauguração da “nova” Feira em 1961, quando passou para Entrecampos ocupando dois quarteirões na avenida da República. Ia eu fazer treze anos e a família tinha-se mudado há cerca de cinco anos para um novo apartamento junto à avenida de Roma! De modo que se ia tranquilamente a pé até ao novo recinto.

 

Em Entrecampos já não havia o famoso "Lago dos Namorados" que, em Palhavã, serviu de ninho a muitos parzinhos apaixonados, nem funcionou o não menos famoso "Rotor", que tinha como principal atracção levantar as saias às meninas que se atreviam a entrar no dito carrosel e também acabou o  "Water Shoot" mas apareceu a montanha russa, o carrossel dos balouços que também levantava as saias ás meninas acompanhado de gritinhos provavelmente de surpresa pela corrente de ar.

De resto havia tudo, os carrinhos de choque, o comboio fantasma, os astrólogos, os carrosséis, a montanha-russa, a grande roda, o poço da morte e, claro, os comeres e beberes da praxe, onde a sardinha assada era rainha e as farturas o toque final ajustado.

A Feira Popular era, no final do ano escolar, o grande ponto de encontro de milhares de estudantes que ali iam festejar mais um ano passado. Pois tudo isso acabou em 2003! E sem nada em troca…

 

Esperei dois anos para ter as chaves de casa e sair à noite com o Rogério, mais velho que eu quase dois anos e o Vítor, da minha idade. O Vítor aparecia sempre primeiro em minha casa, depois do jantar e depois íamos os dois buscar o Rogério que acabava sempre mais tarde, o jantar. Por vezes também alinhavam a irmã Susana, também mais velha e a Ana Maria que era da minha idade, a vizinha que era neta do proprietário com quem tive o meu primeiro namorico de janela, durante alguns meses (já nem recordo quantos) intercalado com umas saídas à matine de cinema sempre com o Vítor à perna ou então estas custosas saídas nocturnas.

 

“Hoje, vamos à Feira?”

 

Está combinado! E lá íamos os três ou os cinco só que quando íamos os cinco, o regresso era sempre até às onze da noite, e olhem lá! Para os rapazes sós, condescendia-se mais uma hora que esticava até à meia noite e meia. Sem faltas!

Durante a semana, eu e o Rogério andávamos a pé até ao Colégio Moderno que é no Campo Grande e voltávamos pelo mesmo caminho e da mesma maneira à hora do almoço e se tínhamos aulas de tarde, lá íamos e vínhamos outra vez a pé!

Mas era por uma boa causa.

Juntar o dinheiro quie nos davam para os transportes para gastar no sábado na Feira, além da semanada! Feitas as contas, amialhava-se uns cinquenta escudos, uma pequena fortuna para uma noite de intensa folia e ainda sobrava algum para um prego e uma imperial numa barraca dos comes e bebes.

 

A grande inovação foi quando surgiu na praça do carrossel dos aviões, uma “juke box” ligada a um projector que na parede que restou de pé de algum prédio demolido anteriormente, pintada estrategicamente de branco, projectava um pequeno filme com o tempo da música e com o respectivo cantor a cantar, ao mesmo tempo. 

Impressionante para a época!

Claro que aquilo estava sempre a tocar as mais variadas músicas até que decorria o Verão 64 surgiu o “top” dos “tops” neste caso das “tops”! canção que já batera records de vendas, “Si je chante cést pour toi” na voz de Silvie Vartan que, à época, fazia as delícias adolescentes no seu romance com o cantor Johnny Halliday quando apareciam sempre amorosamente unidos na revista para jovens “Salut Les Copains”, a única distribuída por cá.

Pois a loura Silvie aparecia a cantar o “Si je Chante” na borda de uma piscina e rodeada de umas quantas beldades em fatos de banho, imagine-se também em biquínis e aquilo era um regalar de vista. Pois o famigerado disco tocou tantas vezes e o filme passou igualmente as mesmas tantas vezes que para o fim da época já a Silvie estava roufenha e o filme riscado! Ainda hoje pode ser visto no “u tube” e eu saudoso desses tempo, já o tenho ido espreitar!

Outros tempos, Silvie! Outros tempos, meus amigos!