13 de julho de 2022

MONSARAZ

 

De longe, pela estrada do Corval é aquela bossa saliente no ventre quase liso da planura alentejana, em volta, como se a terra tivesse engravidado.

 Nos dias claros, a luz intensa rasga a transparência do céu, acima do verde da encosta, desnuda uma fileira de paredes brancas entremeadas com a muralha baixa de onde saem as duas torres sineiras da igreja matriz de Nossa Senhora da Lagoa praticamente a meio do cenário, entre a torre da porta de armas que dá acesso ao casco central e as muralhas mais altas, no extremo oposto, com torreão a resvalar pela encosta que termina, agora, no imenso lago e a arena onde em tempos a fidalguia, senhoria de montes e de mares de trigo, mostrava a bravura nas lides dos touros bravos.

Nas noites limpas, a iluminação que dá ao conjunto ares de estranha nave a pairar entre uma enorme lua de néon e o vácuo negro em redor, mantém a majestosa visão de algo que nos atrai como se gigantesca mão invisível a segurasse na sua palma.

Dizem que não se deve voltar ao lugar onde se foi feliz. Não acredito que haja algum problema com isso. Foi impossível resistir ao chamamento e, lá estivemos mais uma vez, ao fim de tarde, a jantar no mesmo restaurante com a varanda virada ao poente a desabar pela encosta, o Sol vermelho na linha do horizonte e tu para mim

- lembras-te? –

e a tua mão atravessou a mesa para se enconchar na minha, eu olhei-te nos olhos e lembrei-me. Estavam a sorrir como da outra vez em que começara uma noite de amor.

 



Havemos de lá voltar um dia...