28 de abril de 2014

LIBERDADE


Poucos momentos atrás ouvi passos no corredor
ecos de agitação, a poucos metros da minha cela. 
Uma porta bateu com força e um homem gritou;
mas não me pareceu de dor
antes de espanto, ou de alegria, ou de amor
e eu não sabia que coisa era aquela.
Depois tudo se repetiu, uma e mais outra vez
já tinha contado por sete ou oito.
Ou nove; talvez dez!
E, aquilo fez-me desconfiar
que o que tinha ouvido, num segredo,
dias antes, quando o guarda me trouxe o jantar
afinal, podia ser verdade;
"Ah! Se fosse..", pensei eu. E, até tive medo.
Depois, vieram mais passos e mais vozes e mais gritos.
Pela pequena fresta lá no alto da parede junto ao tecto
começava a ouvir ecos do hino nacional...
ou seria a internacional?
Era de fora, da estrada, de dentro dos pinhais..
E havia gente a marchar, havia gente a gritar:
"Fascismo nunca mais"!
Depois, ouvi a chave dar a volta na fechadura
com aquele som metálico, frio,
quando se abria o terror da noite, um calafrio
a porta da minha cela abriu-se de para em par.
E, então tive a certeza!
E foi com os olhos em lágrimas, já baços
que me lancei nos braços
da Liberdade!

(Foi na madrugada de sábado, 28 de Abril de 1974, que as portas das celas de Caxias e de Peniche se abriram para a liberdade...)

26 de abril de 2014

GERNIKA


Subitamente,
das nuvens descem assassinos de hélices e asas,

abrem ventres metálicos e despejam ondas de terror
sobre gentes, animais, árvores, ruas, casas.
Toda a cidade fica mergulhada num manto de horror,
no sangue dos escombros e nos gritos dos cadáveres.
A revolta e a morte a preto e branco, ficam na tela do pintor.
Para sempre.

(Lisboa, 26 de Abril de 1987, "50º aniversário dos bombardeamentos de Guernica" ).