11 de dezembro de 2023

HÁ NOVE ANOS FOI ASSIM

 Vou passar a chamar ilha a este lugar,

embora não veja o mar.
Tem uma colina com pinheiros bravos,
tão altos e esguios
que dançam lentamente ao som do vento norte.
Tem jardim com corolas de mil cores
e as rosas de Alexandria
que exalam o perfume das essências raras.
Tem campo de mirtilos até onde a vista alcança
onde o Sol se deita, ao fim da tarde
como se fosse linha de horizonte
e tem o silêncio que as ilhas têm.
Mas, quando amanhece
e a luz entra pela janela do quarto
uma vigia de barco ancorado
e olho os campos, em frente,
verdes, verdes, verdes...
é então que oiço o mar!
(MJS, in Descritiva Mente, 2014)

E foi assim que a 10 de Dezembro de 2014 se concretizava um regresso às origens pela parte da Dalita e um regresso definitivo (também) a um local onde fui feliz.
Onde encontrei a mulher da minha vida, ela que me atura desde 1965 e que depois deste tão longo caminho percorrido, tempo que parece ter passado tão depressa, é neste paraíso que gostaria de passar serenamente ao seu lado, o resto que falta... apesar da tal doença que alguns ainda teimam em chamar prolongada com cerimónia, para não chamar cancro, que é na realidade o que isto é, um "cancro"!
Com esse lido eu enquanto tiver força e paciência e ela me acompanhar, ela que nunca me abandona mesmo quando também eu lhe sinto o cansaço.

Ao longo de décadas, escrevi textos, poemas, crónicas, folhas que do branco se transformaram em suportes de rabiscos que já deram quatro livros e mais um que será editado em breve, talvez ainda este ano e uma dúzia de cadernos que de vez em quando trago da estante para a cabeceira da cama para reler, emendar, inventar, gatafunhar por um ponto ou dois, a vírgula que pode, com o andar do tempo, modificar o sentido da frase mas não a intenção com que foi "dita"!
E depois quando as luzes se apagam e fica aquela mancha na parede do fundo do quarto, projectada da estrada pelo candeeiro mesmo em frente e vejo ao meu lado, num sono tranquilo, o vulto dela que me acompanha há 58 anos e um trimestre desde que numa noite de Setembro abriu o baile comigo ao som do "Tombe la Neige" do Adamo que já só poucos saberão o que é, sinto enorme e tranquila felicidade porque sendo a felicidade um objectivo inalcansável, tem no longo caminho tantos momentos como este em que nos sentimos genuinamente felizes.
Obrigado!

Nove anos. E tanta coisa já aconteceu nesta ilha.
Aqui estamos...