4 de outubro de 2022

A MENINA DO PAPEL SELADO

 

Contava a minha avó o que se passara com a filha de uma vizinha, no dia em que ia completar quinze anos, se despenhou pela escada no prédio onde morava a tia e de tal sorte que aterrou no patamar em temerária espargata. Quando a tia a foi socorrer, em sobressaltos, para além das leves escoriações nos cotovelos e nos joelhos e umas ofensas em duas costelas, logo foi notado o que parecia mais grave: a menina tinha o vestido e as cuecas com uma mancha de sangue. queixava-se de uma dor aguda no baixo ventre.
Levada ao hospital, em ansiedades, aguardou que o médico examinasse cuidadosamente o sítio e em hesitante diagnóstico, confirmou constrangido que a menina, em razão do esforço na aterragem, rompera o hímen...
Uma coisa destas, em mil novecentos e quarenta e tais fazia muita diferença para a donzela e perante o drama que se adivinhava, quando o futuro noivo fosse confrontardo com a maneira insólita como perdera da virgindade - esperar que ele acreditasse na história - um advogado amigo opinou a saída airosa para a inconveniência.
Que arranjassem duas testemunhas e se lavrasse documento notarial a atestar a perda a virgindade em resultado de um acidente - descrevendo-se exactamente o evento, local, data e hora - e não de qualquer acto que pudesse manchar a sua honra e de seus pais.
Assim se fez!
Só que as vizinhas com aquela maldade própria de quem faz humor até dos problemas alheios, à Luisinha, passaram a chamar: "A menina do papel selado".