27 de janeiro de 2014

HOLOCAUSTO


A linha de comboio acabava às portas da morte.
Havia fardas cinzentas manchadas de esqueletos,
e rostos de olhares bárbaros, lábios frios.
Botas que se enfileiravam na lama
ao lado de cães irrequietos que rosnavam como cães.

Gritos que eram ordens. Ordens que eram gritos.


Dos vagões saltavam corpos curvados, aflitos,
de homens, mulheres, novos e velhos, às centenas,
numa avalancha de fantasmas, já fantasmas,
e, no meio do silêncio da violência do medo
ouvia-se o choro esfomeado das crianças.

Gritos que eram ordens. Ordens que eram gritos.

Vultos de dor, despidos de espanto amargurado,
sem oportunidade para se transformarem em pássaros
com asas de liberdade, para um voo sem regresso.
Os seus nomes já engrossavam a lista dos mortos.
No sonho da vida, acordavam rodeados de massacres.

Depois, acabava tudo!
Já não havia gritos que fossem ordens.
Ou ordens gritadas.

A única coisa que se ouvia era aquele silêncio irrespirável.