15 de janeiro de 2014

AMANHCER

Amanhã, pela hora da aurora,
um clarão vindo de leste surgirá no cimo da encosta florestada
vagueará entre pinheiros, alas desalinhadas de eucaliptos, 
em relâmpagos de sombras 
e assim irá descendo até às margens do rio
para incendiar, de amarelo e ouro, as frondosas mimosas
numa desordem de cor espelhada nas águas serenas.

Amanhã, pela hora da aurora,
a capoeira em alvoroço, galo cantor de ansiosas alvoradas,
enquanto a coruja recolherá à toca escura, numa pressa
pois se de noite procura a vida, na claridade do dia,
diz-lhe a sabedoria ser melhor andar guardada e discreta.

Amanhã, pela hora da aurora,
haverá bandos de pequenas aves, em gritaria matinal
de ramo em ramo, em voos rasantes pelos canteiros no quintal
numa sofreguidão de bater de asas, como crianças
em jogo da apanhada.
E o exército de girassóis de altas pernas verdes
grandes olhos castanhos e recortadas cabeleiras amarelas 

agitam-se na ligeira brisa que do norte
chega leve e mansa como espuma de algodão.

Amanhã, pela hora da aurora,
na claridade branca, de um novo dia que acaba de nascer
os nossos rostos menos jovens de tantas primaveras gastas,
os nossos gestos mais lentos de tantas tentativas esquecidas
será o tempo da primeira vez, dos beijos e das carícias,
do namoro de quem não precisa de mais nada para se ter
dos silêncios e das palavras que não é preciso dizer.