23 de janeiro de 2023

MOMENTOS

 

A sua vida tinha sido uma história de procura.
Viveu, durante muito tempo,
a vida do mundo e dos prazeres mas sem lhes pertencer.
Os anos de juventude tinham ido demasiado depressa,
imersos na prosperidade que só aos sentidos satisfazia
mas não ao coração.
E, quando se deitava pensava no amanhecer,
acordar na manhã seguinte,
já a manhã se esvaía no andar do relógio.
Ver-se ao espelho, sem maquilhagem, lábios sem cor,
olhos inchados por mais uma noite desassossegada,
pele numa palidez translúcida de cadáver.
E a lágrima que escorregava pela face sem poder defini-la.
Se pela saudade do tempo que tinha sido,
se pelo desgosto do tempo sem tempo de ser.