4 de fevereiro de 2024

ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 2

 


ESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 2

AVENIDA GENERAL ROÇADAS, 97 1º ESQ.
Freguesia de Penha de França. Concelho e Distrito de Lisboa
E, eis-me chegado numa tarde de Setembro de 1950. Daí a dois meses completaria dois anos e dizia a minha mãe que fizeram duas festas numa. A minha de anos e a da mudança de casa. Casa nova, vida nova. A estrear. Mobílias novas. Até tinha casa de banho com banheira e tudo. Para a época, uma novidade. Era tudo mesmo novo. Nas traseiras, um pequeno quintal com uma nespereira que dava nêsperas e para o qual se descia por uma escada de ferro.
Quarto espaçoso. uma janela enorme e a cama dos meus pais e a minha cama que tinha umas grades e eu não gostava nada mas punha-me de pé e aos gritos quando, de manhã, acordava e queria saltar para a cama deles. Às vezes tinha sorte e lá vinham os braços do meu pai segurar-me o anunciado voo!
Comecei a perceber também que ao domingo ia no carrinho, passeio fora, almoçar a casa da minha avó paterna, na Penha de França mesmo em frente à Vila Cândida, onde o meu pai, os meus tios e a minha mãe tinham feito a instrução primária na escola da D. Albertina. Era mesmo ao fundo da nossa rua, ao lado do Cine Oriente que ainda hoje existe.
Depois, jantar a casa da avó materna que era um pouco mais longe depois de passarmos o Largo de Sapadores e descermos um pouco a rua Angelina Vidal.
Foi uma infância muito feliz.
Foi quando percebi que não era o Menino Jesus que me dava as prendas nos Natais porque o Leitão meu colega de carteira na primária, quando nesse Natal disse que o menino Jesus me ia dar um um carro eléctrico se fartou de rir, "és mesmo parvo! disse-me ele, é mas é o teu pai. O Menino Jesus não existe! A segurança com que ele disse aquilo fez-me questionar a minha mãe e ela acabou por confirmar o Leitão mas ainda me disse que o Menino Jesus existiu sim, e quando homem, uns soldados romanos pregaram-no numa cruz como a que estava na Igreja que existia perto de casa da avó Judite.
Com ou sem Menino Jesus, lá tive o meu triciclo com o qual fazia autênticas gincanas pelo corredor com volta pela sala de jantar e meta na cozinha, algumas vezes com a minha mãe assustada com a velocidade do sprint final; também tive um cavalo extraordinário de papelão e cauda de estopa amarela que faleceu no quintal da minha avó, depois de uma tempestuosa noite de inverno; comecei a aprender a ler ensinado pela minha mãe; depois de ter começado a fazer ginástica no Lisboa Ginásio, passei a experimentar sessões domingueiras de cambalhotas, com o meu pai em competição comigo, por cima da cama grande, perante o ar desaprovador da minha mãe que queria era ajuda para fazer a dita; brinquei, pela primeira vez, aos casais, com a Teresinha, a minha vizinha do lado que teria mais dois anos do que eu; tive o meu primeiro quarto e os meus primeiros trabalhos da escola; conheci o meu primo Zé Francisco e as minhas primas Teresa e Rosarinho com quem passeei muitas tardes no miradouro da Penha de França; e fui pela primeira vez à Feira Popular no que é hoje o espaço ocupado pela Fundação Gulbenkian à Praça de Espanha.
É claro, uma longa lista de eventos durante os 7 anos que vivi ali; mas fico-me por aqui porque na parte 3, explicarei como a minha vida voltaria a mudar. E tão radicalmente que para além da família se ter reunido num apartamento junto à avenida de Roma, onde conheci os amigos de toda a vida, e encontraria uma terra chamada Sever do Vouga... a história da minha vida parecia ser de mudanças permanentes e não é que foi?
NESTA LISBOA QUE EU AMO - parte 3 - DE MALAS AVIADAS RUMO ÀS AVENIDAS NOVAS
NOTA: para não variar, no Google, lá está na Av General Roçadas, o prédio onde morei, o penúltimo do lado esquerdo da foto defronte do edifício isolado, à direita, a escola comercial Nuno Gonçalves.