24 de março de 2021

ABRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDO

 

Há dias em que acordo com vontade de fazer imensas coisas embora, por vezes, não saiba bem quais.
Vou até à janela, afastar o cortinado sonolento, espreitar a rua, o movimento ainda é escasso, os carros continuam tranquilos na borda dos passeios, a paragem do autocarro só tem duas pessoas mascaradas separadas pela distância do medo, o café defronte ainda não abriu nem vai abrir ainda e só a florista tem estado aberta porque, justifica quem decide estas coisas, que flor é delicadeza tão caprichosa e tão frágil quanto o amor e murcha se não for regada todos os dias.
O quarto de banho aguarda-me para a primeira incursão, verter águas, enfrentar o espelho do lavatório, arregalar os olhos perante o eu, tão horrível que nem o sorriso de bom dia anula os papos dos olhos e a vontade imensa de lhe deitar a língua de fora.
A barba por desfazer e o duche para animar o esqueleto e limpar as poeiras da noite vão ter que esperar o tempo do pequeno almoço, de cafeteira do café ao lume, três fatias de pão de forma a ganharem cor na torradeira, a compota de frutos vermelhos e o queijo gouda fatiado a espera mas, antes de tudo, o copo de água, em jejum, com um comprimido, para a tensão se manter mais ou menos e uma cápsula para a próstata não incomodar a bexiga, com a mania das grandezas.
Tantas coisas por fazer mas que não contam como coisas por fazer porque fazem parte destes meus acordares diários e até sem a novidade do inesperado e o incentivo do novo
Mas, como acordei, e antes que gaste o tempo a inventar, vamos lá começar pelo começo, para não quebrar a rotina.
Ao fim e ao cabo, tenho tanta coisa para fazer.