15 de março de 2021

O DESPERTAR DA ADOLESCÊNCIA

 

O despertar da adolescência leva-nos para um tempo novo!
A mim, a primavera da vida transformou tudo; subitamente um dia acordei e passei a ver tudo mais colorido, tudo mais leve; tudo com uns pós mágicos de felicidade. Também comecei a reparar "nelas" de outra maneira. A morena baixinha dos olhos negros e cabelo curtinho que ia sempre com a ruiva das tranças, das sardas e dos olhos da cor do mar no autocarro para o Campo Grande; a dos cabelos à Françoise Hardy que ia com os tios e os primos à Copacabana; a minha professora de História e Geografia do 5º ano; a elegante hospedeira da TAP do prédio em frente ao meu; a de franja risonha e vestido curto de malmequeres verdes que aparecera no grupo de férias em Sesimbra, no ano anterior; desfilavam nos meus sonhos com o meu subconsciente transformado em máquina de cinema e os meus olhos virados para dentro da cabeça, assistiam às sessões nocturnas que me agitavam o sono.
O tempo do céu permanentemente estrelado e da lua brilhante nas noites de fantasia depois dias dourados que passavam lentos demais ou apressados de menos, uma velocidade bipolar exasperante.
O tempo das palavras! Passei a escrever o que queria dizer, não a todas mas à que me fazia correr atrás do autocarro onde ela ia ou que me fazia esperar na esplanada e ficávamos a olhar um para o outro, sorrisos, isto e aquilo, começavam a chegar os outros todos, o grupo todo e lá se ia o tempo das palavras.
Restava-me esperar pelo tempo do sonho.
Fartava-me de incutir a mim mesmo a coragem para empurrar a decisão, chegava o momento certo, chegava ela e eis que já não achava que fosse o momento certo acabava a remorder palavras imprestáveis. Que merda! Porque tínhamos de ser nós, homens, a dizer que gostávamos delas, em primeiro lugar?
Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Pedro e Inês, Sansão e Dalila, Páris e Helena, Marco António e Cleópatra, Vadim Marslov e Mata Hari como foi que aconteceu? Ah já sei. eram outros tempos e nem tiveram de dizer nada antes de se beijarem. Pelo menos nos filmes era assim!
Até que um dia, tinham chegado as férias grandes quando fomos à matinée do Império ver o "Alamo", enquanto o David Crocket, de pé em cima do muro do forte meio desabado do forte ia despachando o exército de Sant' Anna, fez-se um clique qualquer no dramático momento do que se passava na tela e agarro-lhe a mão e um beijo que saíu meio na boca, meio desajeitado e ela virou a cabeça, vi-lhes os olhos a brilharem tanto que pareciam estrelas a sorrir a lua, apertou-me mais a mão, deitou a cabeça no meu ombro, eu ali cheio de palavras para lhe dizer mas não foi preciso. Afinal, era assim que tudo começava nos filmes...