23 de junho de 2022

PASSEIO NO PARQUE

 


Podia ter sido numa qualquer tarde de férias numa qualquer rua de vila junto a uma praia qualquer mas a caligrafia de minha mãe, no verso da foto, identifica tempo e lugar: “Santo Amaro de Oeiras, Setembro de 1952”. Eu tinha pois três anos. Só completaria os quatro em Novembro. O meu pai, 31 anos.
Estas fotos têm a virtude de nos fazer reviver o tempo da nossa amnésia infantil. O tempo em que incapazes ainda de reter os acontecimentos e de os relacionar vamos coleccionando momentos na nossa memória “à posteriori”, normalmente, depois de ouvirmos alguém contar o que representa aquele instântaneo.
O meu pai e eu! Foi a minha mãe, o fotógrafo! A fotografia não está muito nítida. A minha mãe estava nervosa... segundo contava, esta foto foi tirada a caminho do parque, em Oeiras, onde havia uma esplanada e um parque infantil com baloiços e um escorrega. No mês de Setembro, a “linha” – a zona marginal que vai de Paço d’Arcos a Cascais – tinha tardes bem ventosas e portanto, o tempo puxava mais para o parque do que para a praia. Também, ao contrário do que acontece hoje na maioria dos casos, praia era de manhã, começava bem cedo, pelas nove horas e por volta do meio dia e meia hora regressava-se a casa, almoçava, fazia uma sesta sempre um bocado de fugida, a ver uma revista com bonecos, e depois, praia com lanche na marmita, ou uma voltinha pelo parque… como neste dia.
Eu passava o tempo a fazer perguntas sobre tudo e mais alguma coisa. A minha curiosidade chegava à velocidade do instantâneo. Às vezes perguntas complicadas, outras, observações arrancavam gargalhadas ao meus pais. Acho que o meu humor vem desde esses tempos. Ficou-me na memória que a minha mãe dizia que eu também dava espectáculo.
Parece que eu adorava uma das músicas muito em voga,
“Chiquita Bacana lá da Martinica” (não sei se cantada pela Carmen Miranda). O que é certo é que o dono do café do parque tinha lá um disco e punha a tocar assim que me via. E, imediatamente, eu começava a dançar e segundo ela dizia, com tanta desenvoltura que toda a gente aplaudia. Não tinha vergonha nenhuma… e o dono do café gostava muito pois ganhava clientela (digo eu).