28 de novembro de 2020

SOBRE A VIDA E OUTRAS COISAS QUE NOS ACONTECEM

 

Óscar Wilde desabafou (não sei se ele próprio se incluía no lote) que viver era a coisa mais rara do mundo porque a maioria das pessoas apenas existia.
Um dia (eu acho até mais de uma vez) este pensamento surge-nos sem aviso prévio, apenas por estarmos quietos, naquela impossibilidade de pensarmos em nada.
E, aí está a pergunta demolidora: Afinal, que tenho eu feito da vida? Normalmente já gastámos imensa vida quando isto acontece mas é a partir daí que começamos a visitar o nosso extenso passado com um persistente propósito de análise censória e perdão redentor.
Mas é uma desonestidade.
Reescrever a nossa história, com cara lavada e currículo irrepreensível, é enganar-nos a nós mesmos.
Não vale!
Já sabemos tudo sobre quase tudo.
Uma indelicadeza que cometemos com o nosso ego.
Mortifica-nos. Amarga-nos. Arrasa-nos.
Afinal, lá atrás ficaram tempos bons, maus e assim assim.
Tal como será o tempo que nos falta que estando no futuro logo será um novo passado com tempos bons, maus e assim assim.
Apenas com uma fugaz passagem por um presente que não dá tempo para pensarmos sequer no que estamos a viver.
Porque é disto que se trata.
Da existência que andamos sempre a tentar transformar em vida!
Por que prender a vida em conceitos e normas?
Belo e Feio... Bom e Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
(Mário Quintana, "Da Perfeição da Vida")