28 de março de 2015

REPRINCÍPIOS

Já pouco falamos. Para quê?
Parece que quanto mais falamos, um com o outro,
mais nos magoamos, um ao outro.
Sinceramente nunca imaginei que isto nos acontecesse, 
pricipalmente porque chegámos juntos, até aqui,
e andámos tanto, tanto e sempre fomos andando.
Mas, nas nossas cabeças é a ameaça que paira
a opinião inócua que se transforma, de imediato, na guerra de palavras,  
Parece que tudo começa a correr mal,
que é preferível não falar, não olhar, não tocar, não estar
e sem darmos conta, instala-se esse silêncio absurdo,
essa irritação surda, esse desconforto mudo, 
como alguém que anda em palmilhas de meias, pela casa, 
apenas para que não se dê pela sua presença num deslizar magoado e frio.
O que faço aqui? O que fazes aqui? O que fazemos aqui?
Juntos? Ah! Ainda estamos juntos?!
Pelo menos, ainda comemos à mesma mesa
dormimos na mesma cama,
sentamo-nos ao lado um do outro, no sofá e no automóvel.
O princípio das coisas é diferente..
Chamem-lhe 'luas de mel', 'encantamentos da novidade',
'estados de graça' , 'deslumbramentos da paixão', sei lá mais o quê.
Mas, o princípio das coisas não é coisa simples de ser
É como comer um pastel de nata, em jejum.
A não ser que se coma de uma só vez...
só a primeira dentada é que é em jejum.
O princípio. Talvez nem haja um princípio de nada
e afinal tudo a que chamamos princípio seja, apenas,
uma espécie de cortina que abrimos num mesmo palco, 
para uma representação diferente, menos conhecida,
um refazer de história feita.
mas sempre com o espectáculo em andamento.
Se calhar, poderíamos tentar um reprincípio...
Eu gosto de reprincípios.