14 de março de 2015

SÁBADO PRIMAVERA

Nos tempos em que a Primavera chegava sempre a horas,
o Sol brilhava no intensamente azul
as árvores voltavam a vestir-se numa pressa esverdeada 
a passarada, numa agitação de pequenos gritos,
invadia campos de corolas confundindo cores e formas
havia uma sinfonia de sons alegres e tons mornos
que abria sorrisos felizes no rosto de toda a gente.
O barco era enorme e levava tanta gente,

'Almadense', disse o meu pai e pegou-me ao colo
junto à amurada para eu ver tudo melhor
enquanto a minha mãe lhe dava o braço.
E eu senti a mão dela, discreta e firme, a ter-me pelos calções
não fosse eu borda fora, num qualquer impulso de entusiasmo.
Havia tantas coisas para ver, ao mesmo tempo!
O Cristo Rei lá bem no alto do monte, de braços abertos,
as gaivotas nos seus voos circulares, barulhentos, em volta das fragatas,
o bando de golfinhos no seu nadar de onda, suavemente,
as pessoas que acenavam às do barco que passava em frente
a cidade que se afastava, à medida que a outra margem ia chegando.
'Cacilhas' apontou o meu pai, um amontoado de casas baixas

que se erguia à frente; e eu apontei também sem dizer nada.
O barco apitou estridente, uma, duas, três vezes, 

à chegada a azáfama dos marinheiros em manobras
agora a atarem o barco ao cais.
Já em terra firme, perguntou-me o meu pai: 'Então gostaste?"
E, eu disse que sim, com a cabeça, ainda a olhar para trás
para o barco outra vez enorme com tanta gente
para as gaivotas lá 
ao longe e para os golfinhos desaparecidos
certamente, agora acompanhando outro barco.
Chegava a hora do almoço.

Fomos ao que tinha uma grande varanda, toda aberta, para o cais!
Mas a travessia do Tejo é que tinha valido. Uma aventura. 

Um sábado diferente.